Blog que conecta você ao mundo da arte contemporânea.
  • OBRAS DE ARTE
    • Obras
    • Artistas
    • Seleções temáticas
  • PEÇAS DE DESIGN
    • Peças
    • Designers
    • Seleções temáticas
  • REVISTA
  • AGENDA

Saiba como Tarsila do Amaral se tornou a grande referência da arte moderna

Publicado por Victoria Louise em 11/10/2022
Categorias
  • Artistas
Tags
  • arte
  • arte contemporânea
  • arte moderna
  • artistas
  • história da arte
  • modernismo
  • obra de arte
  • pintura
  • tarsila do amaral
4.5/5 - (2 votes)

Tarsila do Amaral tornou-se referência na pintura internacional e nacional, representando a busca por uma arte brasileira autêntica, abordando temáticas e narrativas populares que representam a cultura brasileira. Influente membro do grupo modernista e do movimento antropofágico, a artista criou uma nova forma de retratar a sociedade brasileira no decorrer das suas fases artísticas.

Família e amigos influentes

Nascida em uma família de cafeicultores do interior de São Paulo em setembro de 1886, Tarsila do Amaral foi criada  sob forte influência intelectual desde a infância, aprendeu piano, a língua francesa e frequentou colégios da elite paulistana. Na adolescência, Tarsila viajou com os seus pais para a Espanha para aperfeiçoar os estudos, onde começa os seus primeiros passos na pintura, copiando obras de arte que viu nos arquivos de sua escola; pintando o seu primeiro quadro em 1904, uma representação do Sagrado Coração de Jesus. 

Sagrado Coração de Jesus, 1904. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Com a sua atenção voltada em aprimorar a técnica artística, Tarsila começa a estudar modelagem com o escultor William Zadig (1884-1952) e posteriormente pintura a óleo com pintor Pedro Alexandrino (1856-1942), onde conhece a artista Anita Malfatti (1889-1964). Ambos professores eram reconhecidos e respeitados no meio artístico, porém, vinham de uma escola clássica e conservadora, ainda limitada perante as influências que começavam a surgir na Europa. Desta forma, a artista se muda para Paris em 1920 para estudar escultura e pintura na academia Julian. Definida como a sua obra simbólica, a tela “Figura (O Passaporte)”, de 1922, é aceita no Salão Oficial dos Artistas Franceses, inaugurando a sua entrada no campo da arte.

Figura (O Passaporte), 1922. Tarsila do Amaral. Imagem: Porto Artes.

O seu retorno ao Brasil é motivado pela Semana de Arte Moderna, não participando diretamente com as suas obras, mas acompanhando com proximidade o evento. Com o fortalecimento do modernismo brasileiro, Tarsila uniu-se aos artistas que propagavam a vanguarda artística no país; nomeados como “Grupo dos Cinco”, era composto por Anita Malfatti, Menotti Del Picchia (1892-1988), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). A proposta do grupo era promover debates sobre a cultura brasileira pela arte, literatura e música, reinterpretando os estilos europeus sob o olhar brasileiro. Em 1926, Tarsila e Oswald casaram em São Paulo, sendo considerados o casal mais influente do modernismo brasileiro.

Fases modernistas 

Buscando uma nova identidade estética, a artista começa a romper com a temática europeia, abordando temáticas que até então não eram evidenciadas pelos artistas brasileiros. A proposta da artista nesta fase, conhecida como Pau-Brasil, era exportar a nova arte brasileira para o mundo com a mesma notoriedade exportadora que ocorreu com a árvore que leva o mesmo nome. Tarsila viaja com Oswald de Andrade pelo interior do Brasil em busca de cenas que representassem as diversas realidades brasileiras, expondo as paisagens rurais, a fauna, a periferia e seus habitantes. Nas obras “Morro da Favela” (1924) e “O vendedor de frutas” (1925), vemos o registro do interior do Brasil que estava intocado pela industrialização.

A temática figurativa abordada por Tarsila neste momento é de comparação: registrando pequenas cidades em que a industrialização não chegou e posteriormente, registrando as mudanças que a modernização causou na capital. Nas duas obras, vemos a influência do fauvismo nas cores vibrantes, atrelados ao cubismo nas formas e com a composição da arte naïf nas cenas; o lúdico e o alegre tornam-se presentes, pois a viagem pelo interior fez a artista relembrar a sua infância no meio rural. Essa fase durou cerca de quatro anos (1924-1928).

Morro da Favela, 1924. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Em sua próxima fase artística, ela será definida pelo peso simbólico da obra “Abaporu” (1928), sendo o quadro que inspirou o movimento antropofágico. Com formas anatômicas exacerbadas e composto por cores que remetem a bandeira brasileira, o quadro vem de encontro com a busca da identidade artística nacional.

A origem do nome da obra vem da junção de três palavras do Tupi-Guarani: aba (homem) e pora (gente) e ú (comer), “O homem que come gente”. A inspiração vem dos guerreiros indígenas que comiam os seus inimigos. A proposta de Oswald de Andrade e da artista era fundar um movimento que “engolisse” as influências culturais internacionais, resultando na criação de um novo estilo brasileiro: o movimento Antropofágico. A fase antropofágica durou cerca de dois anos para Tarsila (1928-1930), mas o movimento expandiu-se pela poesia, música e artes, inspirando artistas e escritores nas próximas décadas.

O Vendedor de Frutas, 1925. Tarsila do Amaral. Imagem: Das Artes.

Além de ser considerada o ícone do modernismo brasileiro, a obra antropofágica foi um presente para Oswald, porém, no decorrer das décadas a tela passou por diversos trâmites de circulação no mercado. Em 1995, o Abaporu foi arrematado pelo empresário e colecionador de artes argentino Eduardo Costantini por cerca de 1,5 milhão de dólares (em torno de R$ 7,6 milhões), tornando-se o primeiro quadro brasileiro que ultrapassou a faixa do milhão. Com um extenso acervo pessoal, Costantini fundou o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o MALBA; doando o seu acervo para o museu, entre elas, o Abaporu. Por ser uma obra fundamental na história da arte brasileira, houve tentativas de negociação por parte do governo federal brasileiro em trazer de volta a obra ao país, mas o empresário afirmou que não venderia a obra nem por muitos milhões de dólares.

Abaporu, 1928. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Na fase antropofágica, Tarsila abordou temáticas fantásticas que envolviam os seus sonhos, lembranças vividas e o misticismo da natureza, como na obra “Distância”, de 1928. Vemos a representação da caatinga atrelada a uma composição geométrica hipnótica em forma de ondas ecoando pela cena; a artista via a natureza como um ente vivo, folclórico, com os seus mistérios e poderes. Na obra “Composição”, de 1930, uma figura feminina é vista em um campo à noite com quatro formas verdes indefinidas. A sensação de solidão e a predominância do azul bucólico remetem a um momento delicado para a  artista, onde sua família foi atingida financeiramente pela crise de 1929.

Distância, 1928. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Na virada da década, Tarsila faz uma exposição em Moscou em 1931. A visita na república soviética influenciou suas novas obras com temas voltados para as causas sociais; período conhecido como a sua fase social (1933). De volta ao Brasil, a artista dedica os seus novos trabalhos para as questões no meio urbano-industrial paulistano, retratando a vida do trabalhador e as mazelas da pobreza.

Composição, 1930. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Na obra “Operários” (1933) vemos um contingente aglutinado de imigrantes e brasileiros com olhares cansados, expondo o conflito que há entre os trabalhadores e a força sufocante da industrialização e urbanização, evidenciada ao fundo da tela. Na obra “Segunda Classe” (1933), é retratado os migrantes chegando em São Paulo, o clima do quadro remete ao desamparo e a tristeza que havia no sertão. Corpos magros, rostos contorcidos e desnutridos representam a fome que assolava o país. Neste período, o direito trabalhista era reduzido, permitindo períodos de trabalho de 15 horas por dia, incluindo mulheres e crianças.

Operários, 1933. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br
Segunda Classe, 1933. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Dos anos 1930 até 1950, a artista revisita as fases Pau-Brasil e Antropofágica, unindo-as em uma fase definida como Neo Pau-Brasil, desenvolvendo novamente obras voltadas para o tema rural e de retratos. Porém, um conjunto de quatro obras chama atenção por mesclar o surrealismo antropofágico com tons e traços mais suaves do impressionismo. “Primavera” de 1946 e “Praia” de 1947, por exemplo, retratam figuras humanas deitadas na praia.

O movimento dos corpos, o entrelaçamento dos braços e pernas avermelhados e o longo cabelo que se funde na perspectiva bucólica ao fundo, pode ser definida como uma fase originalmente distinta das demais fases da artista. Nestas obras é possível ter uma dupla interpretação sobre a proporcionalidade dos corpos, podendo ser humanos agigantados como em Abaporu ou formada pela perspectiva de uma lente grande angular, que distorce o primeiro plano alongando ao infinito. 

Primavera, 1946. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br
Praia, 1947. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

A mescla dos diversos estilos e experiências vivenciadas pela artista acarretou na sua última fase novos olhares para cenas já retratadas, como a cena vista em sua última obra catalogada “Paisagem com dezesseis casas” (1967), porém, agora representada de forma silenciosa e sem o movimento dos moradores; diferente das obras representadas na fase Pau-Brasil.

Paisagem com dezesseis casas, 1967. Tarsila do Amaral. Imagem: Tarsiladoamaral.com.br

Novas linguagens e interpretações 

Em 2021 foi lançada a animação “Tarsilinha” que narra a aventura da pequena Tarsila em um mundo fantástico inspirado nas obras da artista. Na trama, a pequena Tarsila precisa enfrentar diversos seres exóticos e folclóricos para recuperar a memória perdida de sua mãe. O longa foi premiado no mesmo ano no 10º festival internacional de animação chileno, o Chilemonos.

Mesmo não participando oficialmente da Semana de 22, Tarsila é reconhecida como uma das principais artistas do  modernismo brasileiro. Com a comemoração do centenário da semana de arte moderna, as obras da artista voltam à cena em diversas exposições que ocorrem neste ano. Entre elas, a exposição coletiva Modernismo Brasileiro, em cartaz até dia 16 de setembro no Centro Cultural de Capivari, no interior de São Paulo, onde é celebrado o aniversário de Tarsila do Amaral, comemorado no dia 1 de setembro. 

Na exposição “Tarsila Popular”, ocorrida em 2019, foi proposto pelos curadores trazer um novo olhar sobre o trabalho da artista. O enfoque foram as temáticas populares que a artista retratou em suas obras, evidenciando os diferentes campos sociais que foram registrados em seus trabalhos. A partir dessas novas abordagens, expande-se a visão da sua trajetória, que ora orbitou entre a legitimação artística internacional e o convívio com a classe intelectual, ora buscando abordar questões sociais brasileiras. A exposição bateu o recorde e tornou-se a mais visitada na história do Masp, com mais de 402 mil visitantes, destronando a exposição sobre o francês Claude Monet, em 1997, com um público contabilizado em 401 mil pessoas.

A pesquisadora Lilia Schwarcz fala sobre obras de Tarsila do Amaral para o Nexo Jornal

Carlos Gonçalves é graduando em Jornalismo pela PUC-SP, com pesquisa científica em crítica de arte.

Gostou desta matéria? Leia também:

O corpo como representação dos afetos, a poética de Di Cavalcanti

Compartilhar

Artigos Relacionados

18/06/2025

Paisagens em transformação: Monet, a natureza e o tempo na exposição do MASP


Leia mais
11/06/2025

Fundação Bienal de São Paulo anuncia os nomes participantes de sua 36ª edição


Leia mais
04/06/2025

Mostra panorâmica de Andy Warhol leva grande público ao MAB FAAP


Leia mais

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Geral
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul

Inscreva-se na Newsletter

Preencha o formulário abaixo para se inscrever em nossa Newsletter e receber as últimas atualizações.
Ao se cadastrar você aceita nossos Termos de Uso e Politica de Privacidade.

Blog dedicado à publicação de notícias sobre arte contemporânea, assim como informações sobre o mercado, artistas e movimentos artísticos no geral.

CATEGORIAS

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul
  • Geral

ENTRE EM CONTATO

Horário de atendimento:
De Segunda a Sexta, das 10h às 17h

(11) 9 7283-9009

contato@artsoul.com.br

Artsoul 2023 © Todos os direitor Reservados
  • Desenvolvido por: Flaubert Dev