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Renoir e a celebração da luz na pintura impressionista

Publicado por Victoria Louise em 16/04/2025
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Banhos ao ar livre, retratos femininos e tecidos luminosos são parte dos elementos que figuram os cenários presentes em Cinco ensaios sobre o MASP — Renoir. A coleção de 13 obras do artista francês compõe o quadro de exposições inaugurais do Edifício Pietro Maria Bardi, novo prédio do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Vistas da Exposição Cinco ensaios sobre o MASP — Renoir, em cartaz até agosto de 2025 no MASP / Foto Divulgação

Exposto em 2002 pela última vez, o conjunto de obras retorna com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor-artístico do MASP, e Fernando Oliva, curador do MASP. No centro do espaço expositivo encontramos a escultura Vênus vitoriosa (1916), criada com o auxílio do jovem artista Richard Guino, e ao redor dispostas estão pinturas importantes que atravessam a trajetória artística de Renoir como Rosa e azul – As meninas Cahen d’Anvers (1881) e A banhista e o cão griffon – Lise à beira do Sena (1870). Em uma espécie de flerte com os cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi, as telas são apresentadas em chapas metálicas reflexivas que levam um recorte curvo no topo, o projeto é assinado pela arquiteta Juliana Godoy e confere a exibição um tom flexível, contemporâneo. 

Rosa e azul – As meninas Cahen d’Anvers, 1881. Pierre-Auguste Renoir, Acervo MASP. 

Antes de tudo, Pierre 

Em 25 de fevereiro de 1841, Pierre-Auguste Renoir nasce em Limoges, França. Foi o sexto de sete filhos. Seu pai, alfaiate, e sua mãe, costureira, tinham poucos recursos financeiros, o que limitava as oportunidades de Pierre que, desde jovem, já demonstrava grande interesse na prática do desenho. Inicialmente, aos 13 anos, trabalhou como aprendiz em uma fábrica de porcelanas, onde teve seu primeiro contato formativo com o mundo das artes. Lá, aprendeu sobre os ornamentais padrões das peças em porcelanato e habilidades outras que mais tarde o guiariam no domínio das cores e no uso da luz. Sua mudança para Paris, ainda na adolescência, demarca o início de uma jornada que o guia ao epicentro dos desejos que fundaram o movimento impressionista, do qual seria um dos grandes pioneiros. 

Por volta de 1858, Renoir começa a frequentar a Escola de Belas Artes de Paris, onde conhece outros futuros nomes da pintura, como Claude Monet, Frédéric Bazille e Édouard Manet. Durante esses anos iniciais, Renoir foi influenciado pela tradição e precisão da pintura acadêmica em suas representações, o que fortemente refletiu em uma fase mais tardia de sua produção. 

Passagem ao Impressionismo 

Ao final da década de 1860, Renoir começou a tomar distância das convenções e métodos acadêmicos, passando a aderir uma nova visão artística mais livre, que contestava a anterior rigidez dos conceitos presentes na pintura tradicional. O termo “impressionismo” surge a partir de uma crítica negativa à obra Impressão, nascer do sol (1872) de Claude Monet, para nomear esse movimento que se consolidou nas exposições coletivas dos anos seguintes. 

Evitando contornos nítidos, ao lado de Monet e outros artistas, Renoir desejava agora capturar as impressões efêmeras da luz e da cor no mundo natural, utilizando pinceladas curtas e rápidas com intuito de aprisionar a “impressão”. Começa assim, a retratar instantes cotidianos, cenas de lazer ao ar livre, paisagens e interações humanas. O foco não estava mais na precisão e no detalhe, mas na transmissão da atmosfera de uma cena e as mudanças luminosas que nela ocorriam. Esse momento trouxe para sua técnica uma paleta mais vibrante, de tons quentes que pretendiam transmitir sensações de calor e também movimento. 

O Almoço dos Barqueiros, 1881. Pierre-Auguste Renoir, The Phillips Collection

Durante esse período, pintou quadros como O Baile no Moulin de la Galette (1876), em que apresenta uma festa popular em Montmartre, um bairro boêmio de Paris e O Almoço dos Barqueiros (1881), no qual retratou um grupo de amigos em um restaurante à beira do rio Sena. Sua habilidade em traduzir a luz foi essencial para fornecer dinamismo e vida à essas cenas, a constante ambiance de confraternização também soava perfeita para revelação de sua busca pela espontaneidade, espelhando assim um outro modo de perceber o mundo: difuso, encantando. 

Retorno ao Clássico 

Renoir não permaneceu imune às críticas e nem estático quanto às transformações que transpassaram sua carreira. Após o início da década de 1880, começou a se afastar desse estilo mais fluido do impressionismo e passou a buscar por uma prática mais sólida e estruturada. Movimento esse que não foi abrupto, mas uma evolução gradual na qual procurou aplicar um maior rigor formal em suas obras. Influenciado pela arte clássica, especialmente pela pintura de mestres do Renascimento e do Barroco, Renoir começou a criar imagens mais estruturadas, com maior ênfase na forma e no volume, algo que se vislumbra em obras como As Grandes Banhistas (1887) e Após o Banho (1888). 

Esta fase de transição foi marcada por uma reinterpretação de valores que anteriormente o constituíram. O cuidado com figuras humanas e atenção para o equilíbrio de suas composições são aprendizados do período em que trabalhou com porcelanas e frequentou a Escola de Belas Artes em Paris. Bem como, a notável sensibilidade aos vestuários e figurinos, sempre enriquecidos com detalhes de corte, textura e padronagem é atribuível aos conhecimentos de costura e modelagem herdados de seus pais. Suas figuras femininas, em particular, tornaram-se ainda mais cerimoniosas e representavam um retorno aos valores da pintura clássica que acima de tudo buscavam a solenidade do belo. Ao mesmo tempo, manteve presente a suavidade e sensualidade características de obras anteriores. 

Sua habilidade em transpor a dimensão não só física mas também emocional das pessoas que pintava foi um dos motivos pelo qual ele foi considerado um dos maiores retratistas do século. 

Uma técnica possível 

Nos anos 1890 e início do século XX, Renoir enfrentou grandes desafios para pintar. Sofrendo de artrite reumatoide, que afetava sua mobilidade, ele se viu obrigado a adaptar sua técnica. A dor constante e a dificuldade para manusear os pincéis com as mãos comprometidas não o impediram de continuar criando, mas exigiram adaptações. Sua pincelada teve de se tornar ainda mais solta, e sua pintura ganhou um toque ornamental, com cores cada vez mais saturadas e expressivas resultando numa abordagem quase sensorial da imagem. Algumas das obras mais notáveis desse período incluem seus próprios Auto-retratos (1910).

Durante essa fase, Renoir passou a explorar temas íntimos como o retrato, especialmente de mulheres e crianças e cenas de família. Agora com foco crescente no contraste da luz e na expressão das sombras, criava em suas figuras um efeito quase flutuante, mágico e alheio, o que levou sua produção para uma etapa onde a beleza e a delicadeza eram ressaltadas, mesmo diante de seu sofrimento físico.

Vênus Vitoriosa (Venus Victrix), 1916. Pierre-Auguste Renoir, Acervo MASP. 

Por volta de 1912, inicia um breve período de experimentações com a linguagem da escultura. Guiado pelo fascínio da forma e a ânsia de encontrar novos meios de se expressar, teve Richard Guino, um jovem escultor francês também devoto da representação do feminino, como colaborar final. Com limitações físicas devido a artrite que avançava, nem sempre conseguia moldar da forma que intuía com suas próprias mãos. Guino então, era como uma extensão de seus dedos, tendo completado ou finalizado muitas das esculturas de Renoir. O processo criativo era mútuo, Renoir orientava as expressões e formas que visualizava e Guino realizava execução mais fina e detalhada das obras mantendo a ênfase na suavidade e sensibilidade humana das figuras presentes na produção de ambos. 

Vistas da Exposição Cinco ensaios sobre o MASP — Renoir, em cartaz até agosto de 2025 no MASP / Foto Divulgação

A dor passa, mas a beleza permanece

Em registros fotográficos dos últimos anos de sua vida, Renoir aparece com as mãos enfaixadas e é sabido que até seus dias finais, pintou. Em 3 de dezembro de 1919, falece após uma insaciável jornada de devoção à luz e ao belo. Distante da totalidade filosófica do cenário das artes da época, uma teoria de cor que o guiava e era também compartilhada por seu amigo próximo Monet, era de que as sombras não deviam ser compostas de preto ou marrom, pois nada mais eram além de um reflexo projetado pelas próprias cores, pelos próprios objetos. Para Renoir, as sombras também deveriam ser coloridas. 

A trama que sua trajetória constrói não é apenas de pioneirismo, transição por entre estilos ou variação técnica. Mas também sobre a pintura enquanto catalisador de celebração da beleza e contemplação do efêmero. Sua obra e legado nos apresentam a arte como forma de sentir passar – o detalhe, o mundo, a luz.

Éris Rafaella Canuto é escritora transdisciplinar, arte-educadora e pesquidora em Arte.

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