Blog que conecta você ao mundo da arte contemporânea.
  • OBRAS DE ARTE
    • Obras
    • Artistas
    • Seleções temáticas
  • PEÇAS DE DESIGN
    • Peças
    • Designers
    • Seleções temáticas
  • REVISTA
  • AGENDA

Releitura de obras de arte clássicas

Publicado por Artsoul em 30/01/2021
Categorias
  • Artistas
Tags
releitura
4.1/5 - (17 votes)

A releitura de obras de arte clássica é um recurso usado para diversos fins; seja no aprendizado de técnicas de desenho e pintura, seja em homenagem ao autor original do trabalho, ou ainda, para fins de revisão de sentidos.

É este último o mais interessante para análise. Sendo a reprodução considerada mera cópia pela maior parte da crítica de arte, a releitura deve se proporcionar como uma forma de ler novamente e a partir de outra perspectiva os motivos indicados em determinado trabalho artístico.

Ao refazer uma cena há a possibilidade de projeção criativa de novos conceitos, novas informações que ressignificam a cena e nos fazem observar e extrair um novo discurso. Cada geração atribui novos significados à arte e precisa retomar todo o contexto histórico para chegar a uma leitura coerente que se compreenda o passado para projetar um novo presente. A releitura se coloca então nesse lugar de intensa projeção de ideias.

O site do museu-casa do artista estadunidense Edward Hopper é um grande exemplo. Adaptou recentemente as imagens ilustrativas do site que são fragmentos da pintura de Hopper e inseriu máscara higiênica nos rostos dos personagens.

A edição das imagens, porém, não foram feitas pelo próprio artista, mas pela equipe do museu. Como uma forma de incentivar a proteção contra o novo coronavírus, a instituição encontrou esta forma inusitada de adaptar os personagens para os novos tempos.

VOCÊ CONHECE A ARTSOUL? ACESSE O MAIOR MARKETPLACE DE ARTE DO BRASIL!
  • Releitura feita pelo Museu-Casa Edward Hopper. Imagem: Site oficial do museu
  • Obra original de Edward Hopper. Imagem: wikiart

Diferente desta proposta, há uma série de artistas contemporâneos que revisitaram as obras dos artistas clássicos em busca de ampliar os significados e aderir a questões pertinentes aos dias atuais.

BANKSY

O artista urbano Banksy é um ícone da sátira. O seu anonimato é um elemento que contribui para toda a mística e fama da sua narrativa, mas seu trabalho surpreende a todos que observam por tirá-los da zona de conforto e puxar a razão sobre o assunto em questão.

Em “Show Me The Monet” faz uma clara e dura crítica ao consumo e o tratamento dado ao meio ambiente, que se torna secundário em detrimento dos impulsos consumistas.

None
Instalação da obra de Banksy por funcionário de leilão. Imagem: Revista Rolling Stone
The Water-Lily Pond 18 - Claude Monet Paintings
Obra original do artista Claude- Monet. Imagem: Amazon

Quebra toda a harmonia, o sonho e o encantamento despertados pela observação do jardim do artista Claude Monet. Um jardim que faz parte da casa do pintor, foi estrategicamente projetado por ele com flores e um lago semelhante aos lagos japoneses. A perfeição e pureza do espaço da pintura original é arruinada na obra de Banksy e nos traz de volta à realidade da poluição que enfrentamos diariamente. O choque nos obriga a refletir sobre a seriedade da crise ambiental.

O nome é uma referência ao famoso bordão em inglês que significa “mostre-me o dinheiro”, com um trocadilho entre a palavra money (dinheiro) e o Monet, o nome do pintor da obra original.

KOBRA

Artista muralista conhecido mundialmente, Kobra tem uma estética bem marcada pelas cores e formas geométricas. Faz pinturas de personalidades famosas como Michael Jackson, Amy Winehouse e Kurt Cobain e ilustrações em defesa de grupos étnicos, além de algumas cenas divertidas como a de Albert Einstein andando de bicicleta.

Uma das obras mais comentadas foi a releitura de Persistência da Memória de Salvador Dalí. O quadro original foi feito em 1931 e passou a ser o símbolo do movimento surrealista. Os objetos dispostos em uma paisagem de deserto obedecem a uma lei de derretimento e esvaziamento, estando todas alongadas e deformadas. Seguindo a sugestão do título a cena é uma espécie de lembranças e fragmentos distorcidos registrados por nossa memória.

mural-kobra-aquecimento-global-conexao-planeta - Conexão Planeta
Exposição da releitura de Kobra na Europa. Imagem: Conexão Planeta
The History of 'The Persistence of Memory' by Salvador Dali
Persistência da Memória, imagem da obra original de Salvador Dalí. Imagem: MoMA

Na releitura de Kobra, o motivo da distorção é outro. Por cima de geleiras derretidas, os objetos acompanham a destruição e o sofrimento do meio ambiente diante das mudanças climáticas e o aquecimento global.

Foi exposta num grande mural de 80m² em prédios da Europa, ganhando grande repercussão internacional.

MUNDANO

Mundano, artivista brasileiro fundador do projeto Pimp My Carroça e famoso por seu grafite papo-reto, fez algumas releituras em sua carreira de personagens ícones da história da pintura.

A releitura que mais se destaca é Operários de Tarsila do Amaral. O sentido de consciência social já estava presente no trabalho de Tarsila. A releitura de Mundano, porém, eleva a outro nível a discussão. O material usado é a lama escorrida do rompimento da barragem em Brumadinho, fazendo a obra adquirir incríveis tons terrosos.

Grafite "Operários de Brumadinho", de Mundano, homenageia vítimas da tragédia em São Paulo - Reprodução/Instagram
Imagem da empena com a releitura de Mundano no centro de São Paulo. Imagem: UOL
ARTE - Fonte de Conhecimento: Operários - Tarsila do Amaral - 1933
Imagem da obra original de Tarsila do Amaral. Imagem: UOL

Os personagens são mais abrangentes na releitura ao ampliar a diversidade com grupos indígenas, negros e diferentes trabalhadores. Foi pintado na empena de um prédio no centro da cidade de São Paulo e tem tamanho monumental. O tom é de protesto, em entrevista à CBN, Mundano diz:

“Era necessário criar um monumento, uma homenagem. Algo para a gente não esquecer da tragédia”.

Releitura de Mundano da pintura O Mestiço de Candido Portinari. Imagem: ArtSoul
Tela O Mestiço, de Candido Portinari. Imagem: Museu Casa Portinari

Em outras releituras, ele também usa esse recurso como forma de valorização da voz popular. Em O Mestiço, Abaporu e Monalisa, o elemento novo é o alto falante, objeto de forte presença no seu trabalho como símbolo de empoderamento.

Além disso, aos dois retratos foi inserida a tonalidade verde na pele dos personagens, uma marca-chave do grafite socialmente consciente de Mundano. É como se deixássemos de entender o Mestiço e a Monalisa como agentes meramente ilustrativos para então vê-los como cidadãos do mundo que se expressam e manifestam sua individualidade.

Releitura de Mundano a partir da tela Monalisa de Leonardo Da Vinci. Imagem: Conexão Planeta
Imagem da pintura original da Monalisa de Leonardo da Vinci. Imagem: Casa Vogue

VIK MUNIZ

Vik Muniz é um artista brasileiro radicado nos Estados Unidos e um dos mais valorizados no mercado de arte internacional.

A utilização de materiais incomuns para a composição da obra é a tônica do seu trabalho. Vê em qualquer elemento cotidiano, a possibilidade para a representação. Na fotografia, também vê o potencial de ampliação dos elementos representados ali.

A “banalização” da imagem é um ponto de reflexão para o artista, que transforma a mera visualização do trabalho artístico em uma descoberta de possibilidades, fragmentos e materiais que ressignificam o mero ato de representar.

As releituras de Monalisa e A Morte de Marat nos obrigam a olhar atentamente uma segunda vez para entender do que são feitos os materiais ali expostos. A reprodução da Monalisa é feita com pasta de amendoim e geleia num rápido movimento de modelagem. A Morte de Marat foi composta com vários elementos como cadeados e chinelos e conforme a observação, novos materiais vão ali aparecendo aos olhos.

Releitura de Monalisa, de Vik Muniz. Imagem: Artref

É uma maneira de prender a atenção na imagem, um hábito que foi perdido desde o boom dos meios de comunicação que tornaram cada minuto em possibilidade de propaganda, bombardeando nossos olhos com centenas de informações.

Releitura de Vik Muniz. Imagem: Fronteira do Pensamento

Ao se deparar com uma dessas obras de Vik Muniz, percebemos como objetos comuns podem receber diferentes proposições e a troca de perspectiva incentiva uma visão mais consciente e criativa da realidade.

Obra original da cena A Morte de Marat, de Jacques-Louis David. Imagem: Fronteira do Pensamento

NELSON LEIRNER

O artista contemporâneo brasileiro Nelson Leirner, que desenvolve uma linguagem conceitual forte também usou da releitura para propor reflexão.

“Quadro a Quadro: Cem Monas”, traz um total de cem imagens da Monalisa, todas revisitadas com adornos modernos e bregas. A ironia e o humor trazido nesses retratos banalizam a imagem sagrada e intacta da Monalisa original.

É uma demonstração sobre as consequências do tratamento midiático dado às imagens atualmente que, de tão alteradas, divulgadas e repetidas, já perdem qualquer tipo de sensibilidade e passam sem reter nossa atenção.

Fragmento de “Quadro a Quadro: Cem Monas”, releitura de Nelson Leirner. Imagem: Aldeia

FERNANDO BOTERO

Artista colombiano que criou uma estética característica em seus personagens, se inspirou em diversas pinturas clássicas para compor suas pinturas.

A Monalisa, como sempre referenciada nas releituras por sua fama, novamente aparece aqui, mas com outra proposta: se adequa à estética volumosa dos personagens “Boterianos”.

O artista representa pessoas gordas e objetos em grande escala. Percebemos que atribui volume a praticamente todos os elementos em destaque na pintura, o que concluímos que não é sobre pessoas gordas, mas sobre volume. Essa é a chave do trabalho.

O casal Arnolfini, de Jan Van Eyck, é completamente diferente do original ao serem construídos por Botero.

Trazendo essa segunda leitura para as obras clássicas, o artista ganhou grande repercussão e fama, sendo, nos anos 2001, considerado o artista mais bem pago do mundo.

Tela de Fernando Botero. Imagem: Christie’s
Tela de Jan Van Eyck. Imagem: Wikipedia

É comum, como visto, que as releituras sejam feitas a partir de obras clássicas ou muito famosas, cuja essência é perdida a partir da repetição ao longo do tempo. Quando observamos demais uma imagem, ela passa de um lugar de surpresa para um lugar de trivial.

Os artistas, com o olhar aguçado da sua geração, percebem as relações entre a história daquela obra e a sociedade atual. Preenchem as lacunas e encontram em cada cena, a possibilidade de reter novamente a atenção dos observadores para o presente ao subverter a ordem do passado.

A proposta é justamente rever, repensar e, finalmente, “re-ler”.


Victoria Louise é jornalista, formada em Crítica e Curadoria da Arte pela PUC-SP.

Gostou deste texto? Leia também:

Histórias Reais de Grandes Artistas

Compartilhar

Artigos Relacionados

36 x 36 in. (91.4 x 91.4 cm.)

23/04/2025

Brasil recebe a maior retrospectiva de Andy Warhol já realizada fora dos Estados Unidos


Leia mais
22/01/2025

Cor, forma e movimento: novos artistas renovam catálogo da Artsoul com obras expressivas


Leia mais
12/12/2024

Marmelada de banana: quando o mercado de arte passa do ponto


Leia mais

2 Comments

  1. Maria Luísa Gouveia disse:
    01/08/2021 às 6:17 pm

    Muito interessante, fresco e motivador. Parabéns.

    Responder
  2. Lucas disse:
    19/10/2021 às 5:26 pm

    banky gostei muito porque tem sua arte de rua e seu trabalho de comentários sócias e políticos pode ser encontrados em rua,muros e pontes de cidades pelo mundo todo

    Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Geral
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul

Inscreva-se na Newsletter

Preencha o formulário abaixo para se inscrever em nossa Newsletter e receber as últimas atualizações.
Ao se cadastrar você aceita nossos Termos de Uso e Politica de Privacidade.

Blog dedicado à publicação de notícias sobre arte contemporânea, assim como informações sobre o mercado, artistas e movimentos artísticos no geral.

CATEGORIAS

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul
  • Geral

ENTRE EM CONTATO

Horário de atendimento:
De Segunda a Sexta, das 10h às 17h

(11) 9 7283-9009

contato@artsoul.com.br

Artsoul 2023 © Todos os direitor Reservados
  • Desenvolvido por: Flaubert Dev