Artsoul entrevista Victoria Zuffo, galerista à frente da Galeria Lume em São Paulo. Uma galeria com influência no circuito artístico de São Paulo que trabalha com diferentes linguagens e mídias. Victoria Zuffo conta sobre a relação com os artistas e a importância da galeria no mercado de arte.
ARTSOUL – O que inspirou o projeto de criação da galeria?
Victoria Zuffo, Galeria Lume – Quando meu sócio voltou de um mestrado em Paris, ele tinha um projeto focado em fotografia. A Lume começou como Lume Photos e tinha um formato mais próximo de um escritório de arte. Após um período, entendemos que não tinha como sustentar um projeto tão nichado de fotografia e abrimos para outras mídias. Começamos, o Paulo Kassab, meu sócio e eu, a trabalhar com escultura, pintura, etc.
O mercado de arte no Brasil não é muito grande. Existe um mercado em São Paulo e Rio de Janeiro mas no resto do Brasil ainda é muito fraco. Então se você se restringe a uma única mídia fica muito difícil, por isso entendemos que ficar na fotografia poderia ser mais difícil de crescer como empresa. Então nós olhamos e admiramos todas as mídias sem restrição alguma. Tem a grande paixão da fotografia, mas hoje em dia é bem equilibrado. Representamos todas as mídias.
ARTSOUL – Quais os critérios para seleção dos artistas representados?
Victoria, Galeria Lume – Um processo recorrente é olhar portfólio, conversar com o artista, ir até o ateliê, se aprofundar na pesquisa. Uma vez que a gente se apaixona, a gente caminha para uma representação. A gente fala muito que é um “casamento”, então temos um período de namoro, de conversar, se conhecer, fazer uma conexão pessoal. Não é só a exposição, a exposição é o fim, mas há o acompanhamento, a troca de ideia, a aproximação com o processo artístico, tudo isso é muito gostoso. Então olhamos muito para essa relação e essa troca.
ARTSOUL – Quais trabalhos e quais artistas da Galeria você considera de mais destaque no momento?
Victoria, Galeria Lume – Uma coisa que pensamos sobre o time é que cada um tem a sua individualidade e a sua fase de carreira. Tem artistas que estão começando, tem os que estão na carreira média e os mais consolidados. Então pensamos diferente para cada artista. Vai depender muito de qual é o projeto e assim, qual artista vamos propor, qual vamos colocar em evidência. Nós olhamos para cada artista e vemos qual caberia ao que é proposto.
Em termos de visibilidade, cada artista tem exposição individual na galeria a cada dois anos. E em feiras nós pensamos numa curadoria, num mix de preço, de ticket médio, sempre pensando no time.
Entendemos que a parceria entre galeria e artista tem que ser muito “ganha-ganha” a ponto de o artista estar sendo bem representado e confiando a obra dele na nossa mão, ao passo que a gente quer e sonha que todos os artistas sobrevivam da sua própria arte, isso é uma meta, então fazemos essa costura olhando para eles individualmente para alcançar isso. Fazemos um bom trabalho com todos, olhando pra: estágio da carreira, produção e qual é a proposta para ver qual colocamos em evidência.
Os que estão há mais tempo na galeria acabam sendo associados a nós porque estamos sempre mostrando e acho que a repetição é importante. Por exemplo, o Florian Raiss, por ter representação só nossa e ter falecido há pouco tempo, estamos trabalhando numa retrospectiva, com vários colecionadores com os quais temos esse relacionamento. Acho que é um artista bem associado à história da Galeria Lume. Mas não diria que é um destaque. É uma relação de longa data.
ARTSOUL – Neste último ano, com as medidas de isolamento, quais os maiores desafios que a Galeria enfrentou para continuidade do trabalho? Alguma mudança permanente que a pandemia trouxe?
Victoria, Galeria Lume – A partir do momento que não temos o espaço físico atuando, automaticamente tivemos que fortalecer o virtual e aumentar bastante o conteúdo produzido. As lives aumentaram, os vídeos, tivemos que refazer o site, colocar mais atenção em Instagram.
Acho que houve uma boa profissionalização: as fotos têm que estar impecáveis, além de fortalecer o trabalho com marketplaces como a Artsoul. As informações têm que estar bastante atualizadas, temos que passar pente fino sempre para verificar se está tudo correto, se as fotos estão boas, e se algo mudou precisamos ter a recorrência em atualizar os parceiros. Tivemos bastante a migração para o virtual e a profissionalização em deixar o material muito impecável para aumentar a experiência das pessoas e ficar mais próximo do que seria o estar presente.
Eu estou em São Paulo, olhando para os meus números comerciais e vejo que vendi para estados que nunca tinha vendido antes. Isso é um ponto positivo. Esse profissionalismo não se perde, pensamos em materiais para fornecer ao público, para quem não estiver em São Paulo e, independente da pandemia, não pode vir à exposição física, então teoricamente tem que “viajar a distância”. Isso permanece com certeza.
ARTSOUL – Quais as contribuições mais significativas da galeria Lume para o mercado de arte brasileiro?
Victoria, Galeria Lume – Acho que o mercado de arte no Brasil ainda tem muito o que crescer e vem muito atrelado à questão cultural. A galeria tem o papel cultural para a cidade, para as pessoas. A venda, no fim, é uma consequência, mas temos uma obrigação e satisfação em receber, em mostrar, em possibilitar essa troca de conhecimento. Isso fortalece todos os agentes da cultura e a galeria é um desses agentes, isso beneficia todo o mercado como uma massa. Então uma galeria que faz um trabalho e se consolida, fortalece um artista que passa a sobreviver da arte dele, uma pessoa que passa a visitar mais museus, mais galerias, leilões e assim por diante em efeito cascata. O mercado é composto por vários agentes e quando eles se fortalecem, o mercado fica mais sólido.
ARTSOUL – Gostaríamos de saber algumas das suas indicações de filmes, séries, livros e podcasts para o público acessar neste momento de distanciamento social. Victoria, Galeria Lume – Podcast – 1curadorx, 1 hora, de Raphael Fonseca; Livro – Torto Arado, de Itamar Vieira Junior; Álbum – Dos Santos, de Fabiana Cozza.
Entrevista concedida por Victoria Zuffo por telefone em março de 2021.
Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP
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Ainda vivo esperando a minha oportunidade. sou Escultor.