Entre os meses de junho e setembro de 2022 o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro abriga no primeiro andar do prédio a exposição Portinari Raros sob curadoria de Marcello Dantas.
Candido Portinari (1903-1962), artista moderno brasileiro com projeção internacional, vem sendo amplamente incluído em exposições no Brasil. Seja por influência dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, ou em propostas imersivas como em Portinari Para Todos no MIS Experience que revisitou suas célebres telas a partir de recursos tecnológicos e sensoriais, também curada por Marcello Dantas.
Portinari Raros promete expor ao público um lado invisível de Portinari ao revelar trabalhos com diferentes linguagens – desenhos, esboços, cartazes gráficos, murais e até figurinos. A mostra reúne 50 trabalhos raros, quase todos nunca exibidos ao público, como revela João Candido, filho único que se dedica a preservar o legado do pai, em entrevista: “Saímos à caça dessas peças que estavam perdidas pelo mundo, com colecionadores.”
Além dos meios e materiais, também há uma expansão do tema:
“Os povos indígenas, as suásticas, os despejados na rua, as questões agrícolas, a importância do diálogo entre as espécies. Ou seja, toda a temática do Portinari ainda é bastante relevante. Isso é o que as pessoas mais sabem, que ele era um pintor engajado socialmente, mas muitos não sabem o alcance dessa visão. O Portinari tinha um pensamento ambiental, sobre a identidade étnica, dentre outras preocupações” afirma o curador.
A mostra é dividida em seis núcleos temáticos: Fauna, Paisagens acidentais, Desenhos, Infância, Carajá, Balé e Flora. O Carrousel Raisonée é uma instalação que completa a mostra apresentando as 4.932 obras catalogadas do artista, apresentadas em uma projeção visual, em ordem cronológica. O expressivo número de obras resulta em aproximadamente 8 horas de exibição.
Menino Soltando Pipa (1958), presente na exposição, é a única cerâmica conhecida produzida por Portinari, somada a um estudo para o painel Guerra, comissionado para a sede da ONU, e o estudo de dois cenários produzidos para o Balé Iara.
Assim como a entrada, as atividades educativas são gratuitas. Além das visitas guiadas, com ou sem intérprete de libras, o CCBB Educativo promove uma série de atividades para as férias de julho que se estendem até o fim da exposição.
Para mostrar ao público um Portinari inédito, a curadoria se preocupou em estabelecer uma ambientação das obras para que a experiência fosse a mais ampla possível, levando em consideração o processo do artista. Há desenhos em paredes que deram origens às obras expostas naquele ambiente, e arranjos de flores secas com espécies que o inspiraram dividem parede como sua série de pinturas florais.
Portinari Raros desnuda um artista múltiplo, curioso e interessado que mergulhou seu corpo artístico em diversas linguagens e que apesar de sua multiplicidade, como afirmou o curador, é tão diverso quanto específico.
Giovanna Gregório é graduanda em Arte: História, Critica e Curadoria pela PUC-SP. Pesquisadora e crítica independente.
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