Na sequência da seleção da ArtSoul sobre casa de artistas que viraram museus, fizemos a seleção de artistas plásticos que projetaram jardins.
Os jardins, para estes artistas, foram de grande inspiração para o desenvolvimento de suas ideias, e carregam em si, a grande personalidade de seus pensamentos sobre arte.
Seja por decoração, por interesse pela ciência ou pela vontade de pensar as relações da natureza com a cidade, os artistas projetaram, cada um a sua maneira, diversas propostas combinadas ao ambiente em que viviam.
O grande artista plástico e paisagista Burle Marx talvez seja o mais famoso desta seleção. Conhecido pelo grande número de jardins que projetou, o artista plástico era também um grande apaixonado por ciência.
Marx viajou por diversas partes do Brasil para conhecer os biomas dos novos lugares. Investigava as espécies, os ecossistemas e, nessas expedições coletou alguns modelos para serem estudados pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Foi homenageado pelos pesquisadores com 3 espécies novas que receberam seu sobrenome.
Burle Marx estava entre os artistas modernistas brasileiros da época, mas investia mais no abstracionismo do que na antropofagia defendida pelo grupo de Mario de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Lasar Segall.
Mais do que na pintura, sua energia maior foi dedicada aos jardins, projetando muitos espaços como o Palácio Capanema no Rio de Janeiro, o Palácio Jaburu em Brasília e o Parque Burle Marx em São Paulo, que foi pensado para ser a residência do empresário Francisco Matarazzo Pignatari, mas em 1991 passou a ser um espaço público.
Seus projetos adotam formatos curvados e arredondados. Foram pensados para serem aproveitados enquanto espaço público de lazer, ócio e apreciação da natureza.
“As cores das flores me atraíram irresistivelmente… a pureza dessas cores; eu as adoro!” – Emil Nolde
O artista e sua esposa formaram o jardim nos arredores da sua casa a partir de 1927 na Alemanha. Quando compraram o terreno, era rodeado por pastagens, mas ele e sua esposa trataram a terra até que se tornasse própria para o plantio das flores, arbustos e toda a paisagem colorida que queriam montar.
Emil Nolde foi um artista moderno censurado durante o regime nazista alemão. Suas pinturas seguem o encantamento da sua fala acima e preenchem a tela com cores vibrantes e apaixonantes.
O jardim tem um ar romântico, com vegetação alongada e grande variedade de cores em suas flores.
Claude Monet, um grande nome da pintura impressionista, projetou todo o espaço que se tornou um dos jardins mais famosos da história da arte.
Pela extensa variação de vegetação, um lago com estilo japonês, o jardim foi capturado pelo artista em várias de suas pinturas.
Uma enorme série de quadros com mais de 100 pinturas retrata partes do jardim em Giverny, na França.
Com grande interesse de visitação do público, o espaço recebe visitantes de várias partes do mundo. Não é para menos: a sensação de caminhar pelo jardim é a de imersão dentro das pinturas impressionistas mais icônicas da história.
O jardim do artista Sol Lewitt foi projetado por um convite da Association Public Art. A ideia é que o artista pensasse numa obra pública para o espaço.
O projeto ganhou o nome de Lines in Four Directions (Linhas em Quatro Direções) e foi finalizado em 1981. Porém, apenas 30 anos depois houve a instalação do projeto por falta de parceiros que viabilizassem a construção.
O espaço é dividido em quatro, e em cada parte há o desenho em linhas de flores com as cores amarelo, branco, vermelho e azul em quatro direções diferentes: vertical, horizontal, diagonal para esquerda e para direita.
Observar o projeto é enxergar o caráter minimalista e conceitual que Sol Lewitt explorava em suas obras visuais. As linhas, os espaços e o teor conceitual são as marcas do seu trabalho enquanto artista visual.
A casa de Frida Kahlo, no México, se tornou um museu com pertences e obras da artista. É composto por um visual de cores quentes e um amplo jardim no qual a artista passava grande parte dos seus dias.
Diferente dos apresentados, não é um jardim pensado com projetos arquitetônicos. É um jardim caseiro, cuidado pela artista, com diversas espécies de plantas típicas do seu país que apareceram em muitas das cenas que pintou. Nas pinturas, seus cabelos têm flores e seus retratos são frequentemente marcados por grandes folhagens, inspiradas em seu jardim.
“Tinha que ser uma experiência que te move de A a Z, como uma viagem”
Robert Irwin – entrevista para o Getty Institute
O jardim projetado por Robert Irwin foi uma tentativa de aliviar a pressão da arquitetura imponente do Complexo Cultural Getty Center em Los Angeles.
O jardim, próximo ao Museu e o Instituto de Pesquisa, começa com uma sequência de árvores em formatos inusitados, para chegar no lago com arbustos flutuantes em formato de labirinto. O artista se referia a esta parte flutuante como “escultura em forma de jardim”.
Os visitantes caminham no jardim ao redor do lago, onde pode ser encontrada uma diversidade de plantas escolhidas por suas cores, luzes e reflexos. É uma experiência sensorial a passagem por esse espaço que estimula os sentidos pelo cheiro, visual e frescor.
“Durante muitos anos encontrei no jardim Majorelle uma fonte inesgotável de inspiração e muitas vezes sonhei com as suas cores, que são únicas”.
Yves Saint Laurent
O pintor francês Jacques Majorelle tem a maioria de suas obras representativas das paisagens marroquinas. Passou grande parte da sua vida observando e viajando pelo norte da África, onde fixou residência e construiu ao redor de sua casa, o famoso Jardim Majorelle.
A estrutura do jardim é a de um labirinto de vielas que se encontram com plantas e árvores vindas de diversos lugares. A partir de cores e diferentes tamanhos de vegetação, o espaço tem um visual único. A casa adota um tom quente de azul que passou a ser conhecido por Azul Majorelle.
Foi concebido em 1922 nos arredores da casa do artista como um oásis no meio de um deserto.
Foi cuidado por ele durante 40 anos. Em 1980, após a morte de Majorelle, o ambiente estava abandonado e prestes a ser destruído para a construção de uma rede hoteleira. Foi então, comprado pelo estilista Yves Saint Laurent e Pierre Bergé que decidem morar no local e passar a cuidar do jardim.
Atualmente é mantido pela Fondation Jardin Majorelle e é aberto à visitação.
A artista plástica Mary Mattingly fez a mais inovadora das propostas de jardim ao pensar muito além do caráter estético. Seu projeto, chamado Swale consiste em uma balsa-fazenda que flutua ao redor de Nova York.
Num período em que o setor alimentício de Nova York estava em crise com escassez de alimentos frescos e naturais, a artista criou um sistema de dessalinização de água para plantar na balsa variados tipos de alimentos.
A partir desse projeto, a artista estimula principalmente o pensamento sobre a distribuição e o acesso a esse tipo de alimento, além do questionamento sobre a origem dos nossos alimentos.
Foi uma alterativa criativa sobre o problema que a cidade enfrenta sem necessariamente resolver a crise, mas o intuito é pensar e inspirar ações possíveis para o futuro.
Os projetos de jardins apresentados demonstram a forte influência que o ambiente exerce nas artes visuais. São projetos que resultaram de estímulos da própria natureza nos artistas e inspira a tornar diversos tipos de ambiente em obras de arte.
Victoria Louise é redatora da ArtSoul formada pela PUC-SP em Arte: História, Crítica e Curadoria e Gestão Cultural
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Encantada, parabéns