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“Antônio Obá: Revoada”, em cartaz na Pinacoteca Contemporânea, apresenta um novo olhar sobre a infância

Publicado por Victoria Louise em 15/08/2023
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Com obras que combinam a memória de acontecimentos históricos e as lembranças individuais do artista, “Antônio Obá: Revoada” é a primeira exposição de arte brasileira a ocupar a Galeria Praça, no recém-inaugurado edifício da Pinacoteca Contemporânea. Em cartaz até fevereiro do próximo ano, a mostra apresenta um conjunto de 20 pinturas que tratam de temáticas voltadas à infância e à luta pelos direitos da população negra, além de uma instalação inédita em diálogo com a história do museu.

Vista da exposição. Imagem: Pinacoteca.

O artista-educador

Antônio Obá nasceu em 1983, em Ceilândia, uma cidade-satélite de Brasília, onde vive e trabalha até hoje. Durante sua trajetória no campo das artes visuais, que já completa 20 anos de carreira, Obá explorou diversos suportes, como a pintura, o desenho, a fotografia, o vídeo, o objeto, a instalação e a performance.

Seu pseudônimo “Obá” significa “rei” em iorubá, mas também é o nome dado à yaba que representa as águas revoltosas. É nessa movimentação intensa que o artista tem se mostrado um dos maiores talentos da arte contemporânea brasileira. Nessas duas décadas de produção, a discussão sobre a memória e a identidade dos corpos negros sempre esteve presente em sua obra, bem como a relação entre arte, corpo e religiosidade.

Além de artista visual, Antônio Obá é também arte-educador e professor. Formado em artes visuais pela Universidade de Brasília (UNB), trabalhou no Centro Educacional 15 de Ceilândia dando aulas de arte e processos criativos, e no Centro de Desenvolvimento de Potencial Criativo (CRIAR), de Taguatinga, como professor de ensino médio para crianças e adultos. Interessado pelo papel que a arte desempenha enquanto formadora de conhecimento e autonomia, o artista cruza suas duas áreas de atuação construindo uma obra que passa por questões socioeducativas.

A ressignificação das imagens

A partir da rememoração de episódios de violência ocorridos em diferentes partes do mundo, Antônio Obá cria cenas míticas que dão novos significados aos seus personagens. Tendo a figura da criança como ponto de partida de cada trabalho, ele pinta ambientes com traços delicados e pinceladas coloridas, que transportam diretamente o público para a região de origem do artista – o cerrado do Distrito Federal. As piscinas de águas azuis e verdes frequentemente retratadas nos quadros, parecem refrescar as paisagens quentes e secas, repletas de vegetações amarronzadas, queimadas pelo sol e anteceder os fins de tarde aconchegantes de céu rosa.

É por meio desta ambientação que Obá estabelece vínculos e combinações entre seu percurso pessoal de vida e a história geral do mundo, criando uma narrativa única. Em suas pinturas, as personagens retratadas, geralmente, fazem referência a pessoas reais que protagonizaram situações de violência e tragédias. Nesses casos, o artista se utiliza dessas imagens para ressignificar os sujeitos e criar símbolos.

Em “Angelus”, por exemplo, o artista se baseia em uma fotografia do ano de 1976, tirada durante um incêndio em Boston, nos Estados Unidos, em que duas garotas caem de uma escada de emergência, uma sobre a outra. A partir daí, Obá trata do ciclo da vida – apropriando-se da representação das duas meninas, colocando-as na cena junto à outras crianças, sobrevoando uma figura central que está ao lado de uma fogueira e encostada em uma árvore, dois símbolos de consumação e elevação da vida.

Vista da obra Angelus (2022), Antônio Obá. Imagem: Pinacoteca.

Revoada

Construída especialmente para esta mostra, a obra que dá nome à exposição apresenta um diálogo direto com a história do museu. Formada por 180 pares de mãos de crianças moldadas em resina e suspensas pelo teto, “Revoada” relembra a origem da Pinacoteca do Estado de São Paulo, que nasceu para ser uma escola. No início do século XX, o edifício abrigava o Liceu de Artes e Ofícios, onde aconteciam cursos de educação artística voltados para a capacitação profissional dos estudantes.

Vista da obra Revoada (2023), Antônio ObÁ. Imagem: Pinacoteca. 

Para criar as esculturas em resina, Antônio Obá organizou uma série de oficinas realizadas nos espaços da Pina Contemporânea, da Ocupação 9 de Julho (Movimento Sem Teto do Centro) e do Colégio Vera Cruz. Posicionadas no alto da Galeria Praça, estas peças conversam com os arcos de ferro que foram conservados da época em que o prédio abrigava a antiga Escola Estadual Prudente de Morais. Ensinando os procedimentos da fundição e da modelagem, o artista resgata a presença das crianças nestes lugares e retoma a importância de construir uma memória coletiva do processo de educação. Além da relação com o ensino, “Revoada” está ligada, ainda, à religiosidade. Essas mãos engessadas remetem a ex-votos (objetos que fiéis oferecem em devoção aos santos), os quais Obá admira desde menino, quando acompanhava as romarias do Divino Pai Eterno, no interior de Goiás.

Fragmento da obra Revoada (2023), Antônio Obá. Imagem: Revoada.

A perda da ingenuidade

Diferente das representações convencionais de crianças e jovens na história da arte, na pintura de Antônio Obá, essas personagens aparecem como indivíduos mais conscientes de seu tempo. Em corpos negros e mestiços, estes seres aparecem com expressões faciais marcadas, quase como adultos, encarando o espectador. Muitas vezes, elas aparecem como entidades, seres fantasmagóricos que guardam ou acompanham os adultos.

Vista da obra “Banhistas n° 3 – Espreita” (2020), Antônio Obá. Imagem: Pinacoteca.

Nestes quadros, as crianças interpretam os personagens históricos que o autor utiliza como referência ou, até mesmo, o próprio pintor – e não há qualquer ingenuidade nessa infância. É por meio dessa inversão de papéis que sua obra transforma episódios trágicos da história em passagens poéticas, sem deixar de expressar a violência sofrida por quem viveu esses momentos.

Com curadoria de Ana Maria Maia e Yuri Quevedo, “Antônio Obá: Revoada” mostra como se dá a intersecção entre arte e educação no processo criativo do artista e explora os três importantes eixos que conduzem sua produção: a rememoração de fatos históricos, a criação de símbolos e novos significados e o processo educativo. O visitante pode, ainda, escutar áudios explicativos sobre onze trabalhos apresentados, gravados pelo próprio artista. Com obras poucas vezes expostas no Brasil, a mostra é imperdível para quem passa por São Paulo.

Serviço:
Exposição: Antônio Obá: Revoada
Curadoria: Ana Maria Maia e Yuri Quevedo
Local: Pinacoteca Contemporânea – Galeria Praça
Visitação: 24.06 a 18.02.2024 – De quarta a segunda, das 10h às 18h

Carla Gil é pesquisadora independente e graduanda em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.

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