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A materialidade das dinâmicas sociais através da arte: Cinthia Marcelle no MASP

Publicado por Victoria Louise em 15/02/2023
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Inserida na programação bianual das Histórias Brasileiras iniciada em 2021, a primeira exposição panorâmica dedicada à obra de Cinthia Marcelle conta com 49 trabalhos, dos quais 10 são inéditos e pensados para essa exposição do MASP. A curadoria de Isabella Rjeille traz desde obras mais antigas, de 1998, à produção mais recente da artista, possibilitando ao público uma aproximação com a evolução de Marcelle em suas investigações formais e discursivas. 

Cinthia Marcelle. A meditação da ferida ou A escola das facas, versão Nakoada, da série Estrada, 2022. Foto: Lucas Caballero.

Existem artistas que representam fenômenos sociais na arte através da imagem e todo tipo de linguagem que a materialize. Outros artistas, como Cinthia Marcelle, não partem da representação para discutir o social, mas o investigam através de seus protagonistas ativos, como trabalhadores e estudantes, convocando-os muitas vezes aos processos artísticos. 

A separação da arte e do social em si já é complexa e improvável, já que artistas estão sempre inseridos em contextos sociais determinantes para suas produções artísticas e suas possibilidades de impacto na sociedade. Todavia, analisando a maneira como artistas abordam questões sociais, é possível perceber que há muitas maneiras de se trazê-las ao campo da arte. 

Talvez a primeira característica interessante a se notar na produção de Cinthia Marcelle, ao se deparar com uma visão literalmente panorâmica sobre sua obra, seja o apelo estético e organizado no qual a artista estrutura sua poética. As diversas linguagens trabalhadas como vídeo, fotografia, instalação, pintura e performance, apresentam um aspecto organizacional e metódico que as conectam, apesar de serem mídias distintas. 

Vídeos da série Divina Violência, de Cinthia Marcelle. Foto: Diogo Barros.

Situada no segundo subsolo do MASP, a expografia é definida por uma grande parede em diagonal. Criada para esta exposição, a parede corta o espaço quadrado em duas partes, de forma a convidar o público a circular por esses dois lados. Essa circulação é importante pois os trabalhos de Marcelle dialogam de forma direta e um pode complementar a leitura do outro, conforme o visitante estabelece proximidades próprias. 

Na entrada da exposição está disposta uma série de três vídeos sobre protestos e revoltas populares, desenvolvidos nos anos de 2011, 2013 e 2016. A produção desses vídeos envolve um fator importante na metodologia de algumas obras de Marcelle: a colaboração com outros artistas. 

“Divina Violência” é uma trilogia produzida em parceria com o cineasta Tiago Mata Machado. Entre diversas discussões que o conjunto evoca, chama a atenção a maneira como os assuntos são apresentados e como a dupla observa e reencena interações sociais marcadas pelo conflito. Em um dos vídeos, intitulado “O século”, a tela que capta o chão e o muro de uma rua não identificada é, aos poucos, tomada por objetos lançados do outro lado da rua. 

Cinthia Marcelle, Tiago Mata Machado. O século, da série Divina Violência, 2011. Foto: Diogo Barros.

Uma gestualidade que se inicia abstrata vai ganhando corpo no conjunto dos objetos que configuram um movimento caótico. A reivindicação do suposto grupo está em elipse e, por isso mesmo, se enquadraria em diversos tipos de revolta. Através da observação do conjunto de vídeos de Marcelle e Machado, um questionamento se torna evidente: quais são os símbolos, movimentos e a plasticidade de um levante popular?

A instalação Da parte pelo todo, de 2014/2022, que toma toda a lateral da sala, foi pensada para o espaço do MASP. Nela, objetos ligados ao universo laboral são postos no atravessamento de dois lados, sendo a parte de dentro da instalação um espaço completamente branco, e a parte externa, mais próxima do público, demarcada pelo chão cinza escuro do MASP. 

  • Cinthia Marcelle. Da parte pelo todo, 2022. Foto: Diogo Barros. 
  • Cinthia Marcelle. Da parte pelo todo, 2022. Foto: Diogo Barros. 
  • Cinthia Marcelle. Da parte pelo todo, 2022. Foto: Diogo Barros. 

Toda a parte do objeto que adentra essa área branca é tomada por uma ausência de cor predominante, como se estivesse contaminada pela limpidez de um espaço supostamente neutro. A parte do objeto que foge a este espaço está pintada de preto ou possui suas tonalidades originais, como a madeira, por exemplo. 

Neste espaço específico, a instalação da artista aciona o poder da institucionalidade sobre o valor e significado dos objetos. Pensando especificamente na natureza funcional destes, é interessante lembrar sobre como os objetos adquirem novos valores, leituras e impactos de acordo com sua inserção no espaço da arte. Ao investigar esse espaço institucional, a artista explicita as relações de poder pelas quais sua obra, parceiros e público são submetidos neste momento, mostrando como elas são decisivas na experiência de todos. 

Cinthia Marcelle. Educação pela pedra, 2022. Foto: Diogo Barros.

“Educação pela pedra” é uma outra instalação que demonstra o interesse de Marcelle no encontro entre sua pesquisa e o espaço que vai recebê-la. Reconfigurada, a instalação que já foi apresentada no MoMA foi pensada para essa exposição a partir do diálogo com a arquitetura de Lina Bo Bardi, especialmente seus blocos de concreto que expõem excessos de rejunte. Nessa instalação, a artista inseriu gizes de lousa entre os blocos. A associação entre título e materiais utilizados na obra gera uma série de possibilidades de leitura, especialmente no atrito entre uma matéria tão frágil como a do giz e a dureza do tijolo. 

O tema da educação e suas urgências reaparecem na obra “R = 0 (Homenagem aos secundaristas)”, uma reelaboração de 2022 de um trabalho criado em 2009. A obra é inspirada no movimento dos secundaristas que, em 2016, realizaram protestos e ocupações em escolas e ruas em defesa da educação pública. A cadeira que é equilibrada em uma inclinação através de giz de lousa escolar faz alusão à ideia de sustentação de uma estrutura e sua vulnerabilidade. 

Cinthia Marcelle. R = 0 (Homenagem aos secundaristas), 2022. Foto: Diogo Barros.

Em 2017, Cinthia Marcelle representou o Brasil no pavilhão nacional na Bienal de Veneza, com o trabalho “Chão de Caça”. Com curadoria de Jochen Volz, a ocupação do pavilhão contava com diversas mídias e acionava a tensão de uma rebelião, assunto recorrente em sua pesquisa. 

Marcelle convoca a presença do trabalho e da educação de diversas formas: de modo explícito nos objetos escolhidos, no processo artístico em parceria com outras pessoas e em proposições espaciais. O conjunto de sua obra demonstra que o convite ao debate sobre causas tão caras às bases da sociedade pode ser feito em todo tipo de lugar, inclusive o espaço elitizado da arte. 

Falar sobre a revolta, reivindicações e luta, para a artista, parece ser um trabalho de arte e um trabalho social – indissociáveis. Marcelle realiza essas movimentações em grandes instituições com a capacidade educativa de alcançar diversos públicos, trazendo discussões extremamente relevantes sem esquecer das investigações plásticas. 

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

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