Com a chegada das férias do meio do ano, exposições dos mais variados temas e propostas estão reaquecendo o circuito cultural na Região Sudeste. Em ano de comemoração do centenário da semana moderna, diversas exposições trazem à tona a importância do modernismo para arte brasileira, mostrando a sua trajetória e novas propostas artísticas; incluídos na programação, estão temas fundamentais para o contemporâneo, como a questão racial, psicossocial e ambiental. A seguir, vemos algumas das exposições que estão movimentando a agenda cultural em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO
MINAS GERAIS
Considerado pelo dramaturgo Ariano Suassuna como o melhor xilogravurista do Brasil, José Francisco Borges é um artista considerado patrimônio vivo pelo Estado de Pernambuco. A mostra conta com 66 xilogravuras que tratam da cultura nordestina, lendas e mitos que foram inspirados em poemas da literatura de cordel. A exposição é oferecida gratuitamente no Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp.
Exposição “O Mestre da Xilogravura”. Imagem: LeiamaisBa
Com cores pulsantes, projeções e surrealismo hipnótico, o artista visual Rafael Silveira propõe aos visitantes um mundo mágico em constante movimento. O sorvete derretido no meio da sala, projeções de olhares que seguem o movimento e paredes coloridas, são algumas formas que o artista criou para provocar estímulos sensoriais que inserem o visitante na instalação. A exposição está em cartaz no Farol Santander.
Exposição “Espuma Delirante”. Imagem: Mural de Ideias
Em cartaz no Sesc Consolação com entrada gratuita, a exposição cria o diálogo entre a clássica técnica da xilogravura com o atual grafite. Duas linguagens que por mais distante que possam aparentar, traçam juntas a narrativa da construção cultural brasileira. Com o intuito de expor novas temáticas sobre estes estilos, a mostra é formada por diversos artistas e coletivos.
Exposição “Xilograffiti”. Imagem: Abc do Abc
Imigrante japonês, o artista plástico Manabu Mabe tornou-se reconhecido pela sua técnica abstrata com cores vibrantes, o “Mabismo”, como definiu o artista. Com 50 obras do acervo de sua família, a exposição contará toda a trajetória do Mabe no campo visual, sendo planejada em cinco espaços que narram o seu processo artístico e suas diferentes técnicas, contando também com uma ala imersiva. A mostra está em cartaz no Farol Santander.
Manabu Mabe. Imagem: al.sp.gov.br
Comemorando o centenário do artista polonês Frans Krajcberg, o MuBE inaugura a exposição gratuita que conta a trajetória do artista ativista. Com cerca de 160 obras, o espaço é cercado por diversas esculturas feitas com troncos e raízes carbonizadas. Em forma de denúncia e conscientização ambiental, a mostra expõe a dedicação que o artista teve em expor o descaso que a sociedade moderna tem com o seu maior patrimônio: a natureza.
Exposição Frans Krajcberg. Imagem: Governo da Bahia
Entre os mais importantes artistas da segunda geração modernista, o MASP inaugura a exposição “Volpi Popular”, explorando as cinco décadas de trabalho do artista italiano Alfredo Volpi. Famoso por retratar de forma minimalista cenas e o cotidiano brasileiro, a mostra expande este conceito evidenciando outros trabalhos feitos pelo artista. Com 96 obras, o espaço conta com retratos religiosos, cenas impressionistas e por fim, as famosas formas geométricas coloridas.
Alfredo Volpi. Imagem: Guia das Artes
Abordando toda a trajetória da artista, a exposição conta com obras iniciais dos anos 80 até a atualidade. Conhecida por inspirar-se no barroco e na violência colonial , Adriana Varejão é uma artista multidisciplinar que explora diversos tipos de materiais e temas em seus projetos. Na mostra, são evidenciadas obras que expõem a falência do Brasil em preocupar-se com a ética e o bem-estar social.
Adriana Varejão. Imagem: CNN Brasil
Em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, a mostra traz acontecimentos e obras da vida da artista ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino. Com pinturas, xilogravuras, esculturas, fotografias, vídeos e instalações, a exposição é dividida em três salas, cada espaço narra uma temática da artista: sua biografia, o seu engajamento político contra as ditaduras latino-americanas, a pobreza e a gestualidade material com enfoque nas esculturas.
Por um Fio, 1976. Anna Maria Maiolino. Imagem: Instituto Tomie Ohtake
Com 600 obras em exposição, o Itaú Cultural celebra a vida e obra do artista Bispo do Rosário. Bispo construiu parte da sua obra quando foi internado em um hospital psiquiátrico, juntando diversos itens como uniformes e lençóis para tecer as suas obras. Rememorando também o dia da luta antimanicomial, a exposição levanta a questão sobre o modo operacional das instituições psiquiátricas atuais, repensando a sua imagem e estimulando o espaço para novos artistas.
Bispo do Rosário. Imagem: Museu Bispo do Rosário
Com duas exposições gratuitas, o IMS apresenta o trabalho do carioca Walter Firmo e Dado Moriyama. Walter Firmo utilizou da fotografia documental e fotojornalística para retratar temas raciais, culturais e religiosas. Com uma extensa trajetória, o fotógrafo enalteceu personagens negros, sobretudo na música.
Entre os maiores fotógrafos vivos, Dado Moriyama revolucionou a forma de olhar o meio urbano com as suas sombrias imagens granuladas em preto e branco. A mostra passa por diferentes momentos de sua vasta carreira: a transformação da sociedade japonesa do pós-guerra, o resgate de sua memória infantil e trabalhos experimentais.
Daido Moriyama. Imagem: Wix
Celebrando a escritora Clarice Lispector, o IMS traz para a exposição aproximadamente 300 itens, incluindo manuscritos, telas, fotografias, cartas, discos e outros documentos. Considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX, Clarice também tinha grande interesse pelas artes visuais, especialmente na prática da arte terapia. Método que a escritora utilizava em seus processos terapêuticos e de criação.
Clarice Lispector. Imagem: Agência Brasil
Propondo trazer uma nova abordagem do trabalho do artista Cândido Portinari, o CCBB RJ traz ao espaço da exposição obras pouco divulgadas de um dos artistas mais famosos no Brasil. Serão exibidos trabalhos que se mantiveram distantes do alcance do público, temas como: a fauna, a flora, as crianças e o teatro. Além das obras, e para uma maior profundidade ao universo do artista, a mostra termina com uma instalação do “Carrossel Raisonné”, uma projeção que passa pelas 5,4 mil obras do artista ao longo da sua carreira.
Meio Ambiente, 1934. Cândido Portinari. Imagem: WikiArt.
Com a proposta de repensar a arte brasileira, o MAM inaugura a exposição “Nakoada: estratégias para a arte moderna”. A ideia da mostra é compreender o modernismo afastando-se da narrativa europeia, trazendo novas linguagens indígenas, sociais e raciais brasileiras para o campo da arte; trazendo também a reflexão de como podemos imaginar a arte nas próximas décadas. A exposição contará com trabalhos de quatro artistas contemporâneos, além de obras fundamentais de artistas que consolidaram o modernismo em suas primeiras fases.
Yube Inu, Yube Shanu, sem data. Mahku. Imagem: Revista Select
Em cartaz no MAR, a exposição individual do artista e ativista ecológico Jarbas Lopes promove uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, trazendo o questionamento sobre o destino final dos objetos que descartamos. O artista utiliza objetos que foram descartados nas ruas, como jornais, revistas, faixas, carros e bicicletas que são ressignificados em suas obras. Na mostra, o público será levado a questionar-se sobre a obsolescência programada dos produtos: por que jogar fora? Quando um produto deixa de ser útil? A obra de Jarbas nos faz refletir sobre o lixo e o consumo massificado em um Brasil que está perdendo diariamente as suas florestas.
Exposição Gira. Imagem: Revista Artebrasileiros
A partir de 19 de julho, o Museu do Amanhã inaugura a exposição “Amazônia”, do fotógrafo Sebastião Salgado. Com 194 fotografias que registram o projeto de Sebastião e Lélia Wanick Salgado na região amazônica brasileira. A mostra convida o visitante a observar a beleza da floresta e refletir sobre a defesa da fauna, com relatos das comunidades ameríndias que podem ser ouvidos em vídeos. Apresentando relatos dos indígenas sobre a importância da floresta amazônica, dos rios e das ameaças que eles sofrem. A exposição apresenta ainda dois espaços com projeções de fotografias, mostrando paisagens florestais e outra trazendo uma sequência de retratos de indígenas.
Exposição “Amazônia”. Imagem: R7
Celebrando o centenário da Semana Moderna, o CCBB MG traz a exposição “Brasilidade Pós-Modernismo”. A mostra expõe o percurso traçado por artistas neste último século, como Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Tunga e mais 48 artistas de diversos estados brasileiros e gerações, correlacionando os seus legados, vestígios e transformações em cada época. A mostra é organizada em seis núcleos temáticos: Liberdade, Futuro, Identidade, Natureza, Estética e Poesia.
Exposição “Brasilidade Pós-Modernismo”. Imagem: CCBB
Expondo o acervo da instituição, o IMS convida os visitantes a conhecer um dos maiores fotógrafos que registrou São Paulo no século XX, o alemão Peter Scheier. A exposição conta a trajetória do fotógrafo registrando as ruas do centro de São Paulo, a passagem pela revista “O Cruzeiro”, os registros da construção do MASP e da primeira Bienal de São Paulo.
MASP. Peter Scheier. Imagem: Arteref
Em conjunto com o IPEAFRO, o Instituto Inhotim sedia o projeto do museu imaginado pelo artista Abdias Nascimento: o Museu de Arte Negra. No projeto, ele aborda a perspectiva africana sobre o pensamento modernista brasileiro, propondo a ruptura com a arte acadêmica e criações europeias. No segundo ato de quatro exposições temporárias, é abordado a influência do teatro e política na formação do artista. Fotos, textos e obras resgatam a história da luta antirracista no Brasil e no campo das artes. Abdias do Nascimento foi poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário e parlamentar.
Carlos Gonçalves é graduando em Jornalismo pela PUC-SP, com pesquisa científica em crítica de arte.
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