A ArtReview, um dos mais importantes canais de comunicação na arte, divulga anualmente um ranking das 100 pessoas mais influentes no mundo das artes visuais. Saiba a seguir os destaques da lista de 2021, que conta com a presença do curador brasileiro Hélio Menezes.
Os perfis são bem variados e não se limitam apenas a agentes internos do mercado da arte como curadores, artistas e colecionadores – os que mais aparecem -, mas também encontramos filósofos como Paul B. Preciado e empresários como Mark Zuckerberg. Sejam individuais ou em coletivas, a lista possui representações de diversas regiões do mundo.
O ponto mais curioso – porém não tão surpreendente – da lista, é o primeiro lugar não ser ocupado por uma pessoa e sim por uma entidade não humana, a ERC-721. Publicada em 2017, essa é a definição de como produzir e comercializar NFTs (tokens não fungíveis) através da Ethereum blockchain.
O surgimento dos NFTs agitou o mercado de arte mundial e suas divisões locais, demonstrando como bens digitais podem se tornar raros e únicos. De memes a obras de arte digitais – ou obras físicas digitalizadas -, esse novo tipo de autenticidade sobre um bem digital trouxe novas dinâmicas para o mercado. Hoje, a maioria das grandes feiras e leilões já incorporou trabalhos com certificados NFTs em suas edições.
Esse foi, sem dúvida, o assunto mais comentado e discutido em 2021 dentro do meio das artes.
Em segundo lugar figura a antropóloga americana Anna L. Tsing, professora da Universidade da Califórnia e autora do livro The Mushroom at the End of the World (O cogumelo no fim do mundo, 2015).
No verbete da ArtReview, a plataforma afirma que a cada ano encontramos novas evidências de que estamos vivendo uma catástrofe e, dentro disso, é necessário buscarmos novas perspectivas para além da centralidade humana – que é destrutiva. Este livro da autora traz justamente uma narrativa centrada em um cogumelo com perspectivas humanas e não humanas.
Outro pensador presente no top 10 é o crítico e poeta americano Fred Moten, no sexto lugar deste ano – tendo aparecido na lista desde 2018. O autor tem firmado parcerias com grandes artistas do circuito internacional e seu pensamento está fortemente atrelado à coletividade, misturando diversas referências – o que justifica seu impacto no mundo da arte e sua presença constante na lista. Outros pensadores importantes compõem a lista, como David Graeber & David Wengrow, Achille Mbembe e Paul B. Preciado.
Em terceiro lugar está o coletivo ruangrupa, baseado em Jacarta, capital da Indonésia. Eles são responsáveis pela curadoria da Documenta 15, que abrirá em Kassel em junho de 2022. É a primeira vez que curadores asiáticos – e um coletivo – assumem as rédeas de uma das mais importantes exposições de arte contemporânea do mundo.
Demonstrando a importância de mais ações coletivas, outros grupos aparecem na lista de influência, como o Karrabing Film Collective, um coletivo indígena do norte da Austrália que realiza um trabalho de documentação com filmagens e tem ganhado visibilidade através de prêmios e exposições.
Também aparece o Forensic Architecture de Londres, que surge da união de advogados, arquitetos, artistas, cineastas, desenvolvedores de software e jornalistas para realização de investigações acerca de crimes e violências policiais e estatais, que são transformadas em trabalhos e exibidas em museus.
Quatro artistas estão presentes individualmente no top 10 da lista. O primeiro deles é o artista americano Theaster Gates, aparecendo em quarto lugar – sendo este o nono ano dele no ranking. Os projetos do artista envolvem ações sociais e a participação de comunidades, partindo de parcerias com grandes marcas, como aconteceu com a Prada. Logo depois, encontramos a artista plástica e performática alemã Anne Imhof, em quinto lugar. Ganhadora do Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2017, Imhof tem recebido atenções do mundo todo com grandes espetáculos coreografados.
Além destes, figura em sétimo lugar a artista chinesa Cao Fei, uma das mais conhecidas artistas da China e em nono lugar está Carrie Mae Weems, artista estadunidense precursora em questões pertinentes para o momento, como a subjetividade de pessoas negras, especialmente as mulheres.
Para além dos nomes já mencionados, outros agentes do mundo da arte marcaram o ano de 2021 e apareceram no decorrer da lista. O artista Olafur Eliasson, por exemplo, aparece em décimo quinto lugar por suas obras e grandes instalações ligadas às questões ambientais, com apelos sensoriais. Eliasson teve suas obras expostas na cúpula da COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021) que ocorreu em Glasgow.
Muito conhecido no mundo da arte, mais um artista de destaque é Ai Weiwei, em trigésimo nono. Weiwei aparece no ranking desde 2006, tendo sido a pessoa mais influente na arte em 2011.
Outro destaque é Cecilia Alemani, curadora italiana radicada em Nova York, em décimo oitavo na lista. Alemani, que é diretora do High Line de Nova York desde 2011, foi anunciada como a curadora da próxima Bienal de Veneza, prevista para abrir em 2022.
O curador Hélio Menezes representa o Brasil no ranking da ArtReview de pessoas mais influentes na arte em 2021, aparecendo no nonagésimo nono lugar. Seu trabalho atual à frente do Centro Cultural São Paulo – assim como em outras plataformas – focado na inserção de produções de artistas e narrativas negras no circuito nacional, foi reconhecido por sua importância neste momento. Um dos trabalhos mais marcantes de Menezes nos últimos tempos foi sua atuação na curadoria da exposição Histórias Afro-atlânticas no MASP em 2018.
Confira aqui a lista completa da ArtReview.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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