A principal sensação que temos ao adentrar um ambiente é causada pela iluminação. Ao observarmos exemplos diferentes como a pista de dança de uma casa noturna, o consultório de um dentista ou um restaurante com jantar à luz de velas, fica evidente o quanto ela é capaz de determinar climas e sentimentos.
Você sabia que a iluminação também tem um papel crucial quando falamos em apreciação e preservação de obras de arte?
As escolhas em relação à iluminação de obras passam por múltiplas variáveis como posicionamento, ângulo, cor, fonte, índice de reprodução de cor, entre outros. Esses aspectos são pensados por profissionais da arquitetura e da arte para preservar a obras, além de garantir uma exposição harmoniosa e agradável das peças.
Existem vários tipos diferentes de iluminação, começando pela primeira diferenciação entre luz direta e luz indireta. Quando tratamos de obras de arte, a maioria das vezes estamos falando de luz direta, tendo o objetivo de focar em algum ponto específico, nesse caso, no centro da obra. Já a luz indireta tem o objetivo de iluminar uniformemente, sem dar enfoque a um ponto específico, criando um efeito como se a luz estivesse “lavando” a parede.
Para obras de arte são usadas com frequência iluminações diretas com focos de luz. Os tipos mais comuns são spots (de embutir ou sobrepostos), de preferência direcionáveis ao invés de fixos para possibilitar com facilidade a troca de foco. Esses spots além de poderem estar fixados diretamente no forro do ambiente, também podem estar em trilhos eletrificados, o que permite ainda mais flexibilidade com a possibilidade de escorregar os spots ao longo do trilho de acordo com a necessidade. Eles são uma ótima ideia para quem possui obras em grandes formatos, pois permite que ela seja iluminada uniformemente através de focos múltiplos.
Quando se trata de iluminação indireta, as opções variam entre sancas com fitas de led, luminárias tubulares e arandelas. Uma opção interessante também é a mistura de uma iluminação direta e indireta.
O posicionamento do foco de luz quando a obra está instalada em uma parede, o melhor ângulo em relação à obra é o de 30 graus. Acima de 30 graus a luz pode refletir no vidro e ofuscar a visão do observador. Por outro lado, abaixo de 30 graus o foco de luz fica sem ângulo e acaba iluminando abaixo da obra de arte, como mostra a foto a seguir.
IRC (Índice de Reprodução de Cor) é o índice que mede a capacidade de uma fonte de luz artificial manifestar precisamente a cor de um objeto. O índice usa como referência o momento do sol ao meio dia. A sua escala varia entre 0 e 100; quanto mais alto, maior a precisão com a pigmentação verdadeira. Outro parâmetro que complementa o IRC é o R9, específico para a reprodução da cor vermelha. Para fazer a avaliação de IRC, são mensuradas 8 cores pastéis nomeadas de R1 a R8 e depois cores saturadas de R9 a R15. A mais importante delas sendo a R9, um vermelho saturado que está presente em muitos dos objetos que vemos. Por isso, uma luminária com alto IRC que contém a cor R9 seria a mais adequada.
A cor da luz se dá pela sua temperatura, ou TC, que é medida através de Kelvins (K). Quanto mais alta a temperatura da luz, mais azul ela fica e quanto mais baixa a temperatura, mais amarelada. Existem principalmente 3 tipos de luz:
Luz quente é amarelada e aconchegante. Ela pode chegar até 3000k.
Luz neutra é utilizada em lugares como cozinhas, banheiros e escritórios, onde se faz necessário ter uma iluminação neutra para algumas atividades. Ela é considerada entre 3000k e 5000k.
Já a luz fria é utilizada em locais em que atividades de maior atenção são executadas, como hospitais, clínicas e espaços corporativos. Toda iluminação acima de 5000k é considerada “fria”.
Sobre a temperatura ideal para obras de arte, existem diferentes linhas de pensamento.
De acordo com o site Fine Art Photography Scotts Morra, a temperatura de luz ideal para se apreciar uma obra em fine art é de 3600k-3800k. Já de acordo com o Archdaily Brasil, a luz do sol varia entre 5200k-6400k, e essa seria a melhor temperatura mais próxima para que a luz artificial se aproxime da luz do sol.
A mesma luz que tem o poder de ampliar e valorizar uma obra de arte pode, infelizmente, causar danos à integridade física da peça. O raio Infra Vermelho gera calor, que pode acabar queimando a sua obra. Já o raio Ultra Violeta pode causar um desbotamento e uma degradação das cores no quadro que acabam se tornando irreversíveis.
A notícia boa é que já existe uma tabela no site do Conservation Center for Art&Historic Artifacts que nos diz exatamente o tipo de luz e o tempo em que cada tipo de obra pode ficar exposta a essa iluminação direta.
Podemos separar os materiais em algumas classificações:
Materiais pouco sensíveis: pedra, vidro, metal, cerâmica e peças esmaltadas. Para esses tipos de materiais, é preciso controlar o calor radiante mas não é preciso calcular a quantidade máxima de lux (a quantidade de luz que atinge uma superfície, calculada pela intensidade luminosa por m2.)
Materiais moderadamente sensíveis: pinturas a óleo e têmpera, madeiras finas, marfim e ossos e tecidos com tintura. Esses materiais podem receber até 150 lux durante até 2 anos antes de serem afetados pelo calor.
Já materiais muito sensíveis como pinturas a guache ou aquarela, papéis sensíveis em geral, seda e fotografias pigmentadas são recomendados ficarem expostos com até 50 lux durante no máximo 3 meses.
Essas especificações foram feitas para galerias e museus, onde o tempo de iluminação direta das obras por dia é muito maior do que em uma residência, por exemplo. Mas de qualquer forma é importante saber que existe um limite, e que é importante conferir periodicamente o estado da obra e a temperatura da luz.
Curiosidade: Por que é proibido em muitos lugares tirar fotos com flash? Porque o flash é uma luz muito branca e brilhante, contendo raios ultravioleta na sua luz invisível, o que se torna prejudicial para as obras de arte.
O LED possui um espectro contínuo de cores, o que torna sua tonalidade mais parecida com a do sol e seu IRC muito próximo ou até chegando a 100%. Além disso, as lâmpadas de led podem chegar a ser 60% mais eficientes energeticamente que as normais, e duram até 4 vezes mais. Pensando na conservação das obras, um ponto importantíssimo é o fato de que o LED não emite raios ultra-violetas e infra vermelhos.
Marcella Maksoud é arquiteta e urbanista e fotógrafa formada pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
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