Aberto de terça a domingo, das 14h às 20h, o Pavilhão Maxwell Alexandre foi inaugurado para o público no último dia 4 de abril. Alexandre, que tem grande destaque na arte visual brasileira desta geração, comenta que o espaço foi criado com o intuito de ter maior flexibilidade na exposição de seu trabalho.
A exposição inaugural, em cartaz até 4 de junho, retrata pessoas negras em espaços de contemplação da arte – historicamente destinados a pessoas brancas – como museus e galerias. Suas obras, pintadas em grandes dimensões sobre papel pardo, estão expostas penduradas pelo galpão da galeria. Novo Poder: Passabilidade é um desdobramento homônimo da primeira exposição individual do artista na Espanha, apresentada em março deste ano no Centro Cultural La Casa Encedida, em Madrid.
A escolha do nome da galeria de Maxwell Alexandre também chama a atenção pois amarra tramas que circundam o artista. O termo pavilhão identifica na arte contemporânea, em especial, um modelo de exposição de grandes proporções e nos pavilhões do Instituto Inhotim, por exemplo, os espaços são dedicados a hospedar exposições cujas obras passem pelo crivo da instituição.
O artista faz de seu Pavilhão também um templo para seu trabalho. Nas redes sociais do espaço, a palavra “igreja” é comumente usada como o vocativo inicial das legendas. Não coincidentemente, o domínio que hospeda o site da galeria é o pavilhao.faith. Alexandre, consciente de seu grande volume produtivo, enxerga em sua “capela” um espaço para exibir mais que apenas suas obras prontas, mas também suas produções em desenvolvimento e seu processo criativo de forma mais desprendida dos limites do mercado de arte e posto além do circuito oficial de arte contemporânea.
O espaço, inaugurado poucos meses após o artista pedir ao Inhotim que removesse da exposição “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro” a obra ‘sem título’, da série “Novo Poder” (2021), é também uma abordagem crítica do tratamento que instituições já consagradas dão à obra de artistas negros. A perspectiva crítica de Maxwell Alexandre se estende a como os veículos de mídia lidam com o trabalho destes artistas. Um episódio recente movimentou o debate com uma matéria da Folha de S. Paulo que se refere ao artista como “artista negro” que “ataca” Inhotim ao solicitar a retirada da obra da exposição. A escolha deste veículo em ocultar o nome do artista e reduzi-lo ao termo racial demonstra a forma como a imprensa hierarquiza a divulgação das informações entre pessoas negras e brancas. A Folha de S. Paulo mudou o título da matéria na qual reportava a discussão do artista com o Inhotim após manifestação de Alexandre – que, por sua vez, expôs o título original da matéria em uma pintura apresentada na 19ª SP-ARTE no último mês de março.
A visão crítica perpassa a obra de Alexandre. Sua série Pardo é Papel – apresentada em exposição itinerante homônima de grandes instituições do Brasil como o Instituto Tomie Ohtake, Fundação Iberê Camargo e MAR – explora o termo “pardo” que se refere tanto ao papel que usa em suas obras como à categoria de racialização de pessoas negras no Brasil, muito mais voltada a suas características físicas do que sua ancestralidade. O artista enxerga na categoria uma forma de apagamento da identidade negra na população brasileira. New Power, em continuidade ao trabalho do artista, volta a crítica de sua obra para o apagamento da presença negra nos “templos de contemplação” da arte. A obra de Alexandre e seus posicionamentos cutucam, criticam e tensionam até os detalhes mais sutis da hegemonia branca sobre a linguagem visual e escrita.
Matheus Paiva é produtor cultural e internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo.
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