O trabalho de Wagner Malta Tavares passa por várias linguagens: escultura, fotografia, vídeo, performance, intervenção urbana e desenho. A carreira do artista começou em 1998 e hoje acumula passagens em grandes instituições brasileiras como Instituto Tomie Ohtake, MAM SP, MAM RJ, MAC Niterói, além de realizar exposições e intervenções internacionais na Bélgica, Portugal, Noruega, Romênia, Estados Unidos e Itália. Suas obras fazem parte das coleções do MAM-RJ, MAR-RJ, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu Bispo do Rosário – RJ, MAM SP, MAC Niterói, Fundação Figueiredo Ferraz e em várias importantes coleções particulares.
Incontáveis são os caminhos para se pensar o tempo através da arte. De fato, toda obra é testemunha de um conjunto de ações, que ocorre em arcos temporais. A produção de uma obra e sua exposição pública são marcadores de novos ciclos, que se reconfiguram à medida em que traçam novas relações com espaços, público e experiências.
Segundo o artista, seu processo formal parte “do encontro entre o que se vê e o que se intui. O que se sente e o que se toca”
A reflexão acerca do tempo e suas implicações com os mais diversos tipos de materiais está presente na obra de Wagner Malta Tavares. Os materiais são, em alguns momentos, testemunhas de uma temporalidade: uma constatação de resistência física aos fenômenos naturais ou humanos que os acometem. Assim atesta o artista ao comentar sobre sua obra “Figura Sentada – Quartzito”, uma escultura que reflete na materialidade a sua própria formação geológica.
As “figuras” fazem parte de uma série escultórica de Malta Tavares, que ressoa a gestualidade humana ao modular uma síntese formal do corpo. Já os materiais escolhidos, muitas vezes de caráter mais industrial, geram uma tensão ao constituir um corpo resistente com gestualidade suave.
“As figuras têm alguns aspectos que me interessam, o primeiro é o que não se pode deter: o movimento, pode-se ver, testemunhar, mas não deter. Se o detém o congela, é como a análise de micro partículas nos aceleradores modernos, se sabes a velocidade não sabes o lugar, se sabes o lugar não sabes a velocidade. Há também o diálogo com a tradição escultórica da figura humana em diversas posições, encontrando uma ideia de cadeira: algo que representa muito a humanidade”, comenta o artista.
“Há uma fluidez nesse processo: meu universo de interesse sempre me impõe desafios, enigmas, sejam de ordem material ou imaterial”
Além da pedra, o artista explorou outros materiais para compor suas figuras, como o cobre e o tecido. Em “Figura ajoelhada”, por exemplo, a fluidez do movimento no tecido atribui um aspecto mais leve à figura – rompendo sua estaticidade. Percebe-se, então, que cada obra de Malta Tavares estabelece diferentes relações com o tempo, o espaço e fenômenos naturais. Ao inserir o tecido na série de figuras, como também ocorre em “Figura sentada”, “Figura inclinada”, “Musa verde” e “Sileno”, o artista expande a relação gestual das obras a partir do espaço em que são inseridas. “A escultura sempre ativa o espaço. Não importa onde esteja”, afirma.
“Há uma fluidez nesse processo: meu universo de interesse sempre me impõe desafios, enigmas, sejam de ordem material – aí entram os meios e a maneira de lidar com eles – seja de ordem imaterial ou os fundamentos que me movem em alguma direção. Acredito que é por isso também que há muitas vezes em trabalhos meus aspectos impalpáveis ou mesmo invisíveis: vento, luz, calor, equilíbrio, som…”, afirma o artista ao ser perguntado sobre a ligação entre as diferentes linguagens em sua produção.
O tempo é também um fator que agrega significados às obras de acordo com novos contextos. Ao comentar sobre uma exposição em que participou ao lado de Lenora de Barros e Guto Lacaz, o artista ponderou sobre a maneira em que seus trabalhos – que foram produzidos há mais de dez anos – ganharam novas camadas a partir do contexto da pandemia de covid 19. O conjunto de trabalhos apresentado na Exposição AR foi um bom exemplo da diversidade de linguagens utilizadas pelo artista.
Segundo o artista, seu processo formal parte “do encontro entre o que se vê e o que se intui. O que se sente e o que se toca”. Neste sentido, pode-se pensar sobre como o artista utiliza processos mecânicos para materializar uma intuição. A série “Monotipia Térmica”, por exemplo, é constituída de gravuras geradas através do contato do calor de resistências térmicas com o papel.
“Quando fui finalista no Prêmio PIPA eu apresentei uma sequência de resistências que juntas tinham um aspecto de uma escrita alienígena, elas eram acionadas com a presença do público e encandeciam brilhando como neons que aqueciam o ambiente. Na parede dianteira estampei as mesmas resistências como se o calor tivesse impresso o outro lado. Uma coisa que teria levado séculos para acontecer, uma espécie de arqueologia se fazendo diante de nossos olhos. Foi aí que a ideia de fazer essas gravações surgiu. São vestígios”, revela o artista sobre a elaboração dessa série.
Evocar o tempo em uma produção artística vai além de apenas se inscrever no presente. A obra de Malta Tavares prova que é possível esticar, acelerar, friccionar e até suspender as relações temporais da matéria. Ao ser perguntado sobre a direção de seu trabalho, o artista respondeu que ainda pensa sobre “o que há que é comum a todo mundo desde que o mundo é mundo e que o ser humano olhou pra dentro de si e pro céu”.
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