Este ano se inicia para o setor da arte e da cultura brasileira em um tom de otimismo. A pandemia acena para o fim, proporcionando uma certa segurança no planejamento de eventos presenciais e o intercâmbio de artistas e agentes culturais ao redor do mundo.
No Brasil, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva já confirmou o retorno do Ministério da Cultura como parte das pastas do Governo Nacional, tendo como nova ministra anunciada Margareth Menezes. Outra importante pauta do novo governo será a volta da atenção à preservação da Amazônia. Essa preocupação com as questões ecológicas está intrinsecamente relacionada com o movimento de valorização às questões indígenas e aos povos originários.
Se nota também, não apenas no Brasil, mas uma tendência global de maior visibilidade dada para jovens artistas e para as pautas identitárias e relativas a grupos minorizados, bem como as devidas revisões e reparações históricas em relação a estes grupos. Estes movimentos ainda não estão completamente consolidados em termos de sistema e mercado da arte, mas ganham cada vez mais presença nos diálogos e proposições de artistas e instituições.
Está prevista para 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo, a inauguração do novo edifício da Pinacoteca de São Paulo: a Pinacoteca Contemporânea. O novo espaço integrará o conjunto arquitetônico do museu, composto pela Pina Luz e pela Pina Estação, ao Parque da Luz e aos bairros adjacentes. A Pina Contemporânea contará com um novo centro de atividades socioeducativas, restaurante, loja e espaços de convivência, além da Biblioteca e do Centro de Documentação da Pinacoteca. Estas melhorias tornarão o museu uma das maiores instituições de arte da América Latina.
Em 2023 acontecerá a 35ª edição da Bienal de São Paulo, importante evento no cenário internacional. A edição deste ano tratará do tema “Coreografias do impossível” e contará com a curadoria colaborativa de um grupo composto por Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel. Segundo os curadores, o conceito de coreografias do impossível trata-se de “um convite às imaginações radicais a respeito do desconhecido, ou mesmo do que se figura no marco das im/possibilidades”. A mostra acontecerá no tradicional Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no parque Ibirapuera, entre setembro e dezembro deste ano.
A mostra Histórias Indígenas está programada para acontecer no MASP no segundo semestre de 2023, sob direção artística de Adriano Pedrosa. A grande exposição coletiva com diversos núcleos terá curadoria dos novos curadores adjuntos de arte indígena, Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, anunciados pelo museu no final de 2022. Esta proposta faz parte da programação anual do MASP dedicada à arte e cultura indígenas, através de exposições, publicações, oficinas, cursos, palestras e seminários e acontece no contexto da série de exposições dedicadas às diferentes histórias, como Histórias da sexualidade (2017) e Histórias brasileiras (2022), entre outras.
Já na abertura da Pina Contemporânea, o espaço receberá duas mostras inaugurais: a exposição individual da artista Haegue Yang, primeira sul-coreana a expor na instituição; e uma mostra de obras de grandes dimensões em linguagens variadas (instalações, esculturas, pinturas, desenhos, vídeos) pertencentes ao acervo da Pinacoteca.
Em março, a Pina Luz receberá uma grande exposição dedicada ao artista indígena Chico da Silva (1910-1985). Com curadoria de Thierry Freitas, a mostra apresentará um recorte da produção do artista de 1943 a 1984, contando com trabalhos nunca antes expostos ao público. Simultaneamente, o Octógono, tradicional espaço do museu destinado para projetos comissionados site-specific, receberá uma instalação do artista da etnia jaguar Denilson Baniwa (1984), com curadoria de Renato Menezes e Jochen Volz. No mesmo período, ocorrerá nas galerias temporárias do segundo andar uma mostra panorâmica dedicada à artista Maria Leontina (1917-1984). A mostra terá curadoria de Renato Menezes e Thierry Freitas.
A partir do dia 1º de abril, o 4º andar da Pina Estação, espaço tradicionalmente dedicado à revisitação de obras de artistas brasileiros em exposições monográficas, receberá uma exposição dedicada à carreira de Elisa Bracher (1965). A curadoria será de Pollyana Quintella. Já o 2º andar do mesmo prédio, espaço dedicado às exposições que se constituem a partir do acervo e a projetos experimentais, estará ocupado pela artista Regina Parra (1984), em exposição com curadoria de Ana Maria Maia.
O segundo semestre contará com uma mostra panorâmica dedicada a uma das mais célebres artistas argentinas da atualidade, Marta Minujín (1943). A exposição com curadoria de Ana Maria Maia, abordará a partir de projetos imersivos diferentes momentos da carreira da artista. A artista Sônia Gomes (1948) ocupará o Octógono com uma obra monumental comissionada para o espaço em diálogo com o curador Renato Menezes. Montez Magno (1934) completará a programação a partir de outubro em exposição com curadoria de Clarissa Diniz.
O grande destaque do segundo semestre da Pina Contemporânea será a artista chinesa Cao Fei (1978). A mostra, com curadoria de Pollyana Quintella, será inaugurada em setembro e contará com obras em vídeo, instalação e performance. Além de Cao Fei, a Galeria Praça do edifício receberá Antonio Obá (1983) em uma mostra individual com curadoria de Ana Maria Maia a partir do fim de junho.
Para fechar o ano, Alex Cerveny (1963) terá uma exposição na Pina Estação composta por 23 desenhos e gravuras pertencentes ao acervo da Pinacoteca e apresentados pela primeira vez em conjunto, juntamente com pinturas e esculturas de sua trajetória. A Curadoria será de Renato Menezes. No 4º andar do mesmo edifício, a partir de novembro, uma mostra retrospectiva com curadoria também de Renato Menezes apresentará 30 anos de trabalho de Jarbas Lopes (1964).
O tradicional Instituto Moreira Salles, com sedes em importantes capitais do país, divulgou parte da sua programação para 2023. No IMS Paulista, por exemplo, será inaugurada em maio a exposição “Iole de Freitas: Imagem como experiência/fotos e filmes dos anos 1970”, na qual será exibida uma série de trabalhos pouco vistos pelo público brasileiro que a artista produziu na década de 1970. A mostra, com curadoria de Sônia Salzstei, contará também com instalações que Iole de Freitas realizou no período, como as que apresentou em Milão, no Studio Marconi, e em Paris, na Bienal Jovem de 1975.
Também no IMS Paulista, com data ainda a ser divulgada, acontecerá a exposição “Rio de Janeiro: Pequenas Áfricas”, com curadoria colaborativa de Angélica Ferrarez, Luiz Antônio Simas, Vinícius Natal e Ynaê Lopes dos Santos. Nela, o público poderá conferir gravações, obras, documentos e objetos dos acervos do IMS e de outras instituições acerca da cena cultural que, entre os anos 1910 e 1940, produziu e consolidou o samba urbano tal qual ficou conhecido no Brasil e no mundo.
Na virada de ano, o Instituto Tomie Ohtake deu início ao programa “Instituto Tomie Ohtake visita”, que busca promover o acesso do grande público a obras de qualidade atestada e pouco exibidas, apresentadas sob diferentes leituras curatoriais. O programa foi inaugurado em dezembro de 2022 pela exposição “Centelhas em movimento”, mostra pensada a partir da Coleção Igor Queiroz Barroso. Com curadoria de Paulo Miyada e Tiago Gualberto, a mostra traz ao público cerca de 190 obras de mais de 55 artistas do acervo cearense e fica em cartaz até abril de 2023.
A mostra, que inaugurou no final de 2022 e se estenderá até junho de 2023, oferece um mergulho na obra do antropólogo, educador, ensaísta e político Darcy Ribeiro. A exposição evidencia a atualidade do pensamento deste importante intelectual brasileiro e propõe uma reflexão acerca do ideal de Brasil que almejamos. Com curadoria de Isa Grinspum Ferraz, a mostra reúne fotografias, correspondências, documentos, filmes feitos por Darcy RIbeiro nos anos 1940 junto a povos indígenas, peças de sua coleção pessoal, obras de arte contemporânea, livros, músicas e pequenos trechos de seus escritos, além de uma instalação inédita desenvolvida por Eryk Rocha e Marcelo Ferraz.
Em maio de 2023 acontecerá a 18ª edição da Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza. A curadoria geral desta edição é assinada pela arquiteta, acadêmica e romancista Lesley Lokko, que propôs como tema da mostra o conceito de “Laboratório do futuro”. Tradicionalmente, os curadores da Fundação Bienal de São Paulo são responsáveis por apontar os nomes dos curadores do pavilhão brasileiro da mostra. Para esta edição, foram escolhidos Gabriela de Matos e Paulo Tavares, ambos arquitetos e pesquisadores com uma abordagem transversal em diálogo com estudos de raça, gênero, pedagogia e culturas visuais.
Luísa Prestes, formada em artes visuais pela UFRGS, é artista, pesquisadora e arte-educadora. Participou de residências, ações, performances e exposições no Brasil e no exterior.
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