Ao longo de sua carreira, Candido Portinari produziu mais de 5 mil obras, em especial desenhos e pinturas. Exceto por poucos trabalhos em acervos públicos e os murais em edifícios de livre circulação, quase toda a produção de Portinari se espalhou por coleções particulares, o que tornou a obra do artista um tanto inacessível.
Para solucionar a questão do acesso e da memória da obra de Portinari, seu filho João Candido inaugurou o Projeto Portinari no ano de 1979. Além de digitalizar quase toda a obra de seu pai, João Candido pensou o projeto como uma plataforma educativa, levando o legado de Portinari para todos os cantos do país com exposições itinerantes.
Graças a esse esforço, hoje é possível consultar essa vasta obra no site do Projeto Portinari, com todas as imagens em alta definição. É justamente deste acervo digital que parte a exposição Portinari para todos, ao utilizar a tecnologia e os novos modos de se expor para celebrar o pintor que construiu um caminho próprio dentro da arte moderna brasileira.
Um acervo digital tão extenso permite que uma infinidade de narrativas sejam traçadas. Desta forma, a curadoria de Marcello Dantas não se prendeu a linhas cronológicas para mostrar diversos lados de Portinari.
Sala Cores de Portinari. Foto: Cinthia Bueno.
A exposição se inicia nas Cores de Portinari, uma sala sensorial que nos lembra que grandes pintores se consolidaram na história através de suas paletas. Acompanhada de uma trilha, a sala dá boas vindas ao universo colorido do artista. Em sequência, uma das maiores qualidades do artista é ressaltada: a de retratista. A sala que simula um ateliê, além de trazer objetos pessoais de Portinari como pincéis usados e outros materiais, apresenta uma série de retratos que vão de sua família a figuras emblemáticas como Oswald de Andrade. Também está presente na sala a reprodução do Mestiço, a primeira obra do artista adquirida por uma instituição pública, a Pinacoteca de São Paulo, na qual permanece até hoje.
Sala Ateliê de Portinari. Foto: Cinthia Bueno.
Pela primeira vez na história, Maria Martinelli, esposa de Portinari e sua maior aliada, ganha um espaço próprio em uma exposição. Um corredor espelhado cruza os retratos animados de Maria com nossa própria imagem e, enquanto caminhamos, ouvimos os depoimentos da homenageada.
Portinari era bem relacionado, amigo de representantes de diversos setores como a arquitetura, literatura e política. Essa proximidade é demonstrada tanto em depoimentos de amigos como Jorge Amado e Maria Clara Machado, que falam sobre Portinari, como na maquete que reúne diversos murais pintados pelo artista em prédios públicos, incluindo projetos de Oscar Niemeyer, como a Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha, e o Memorial da América Latina em São Paulo. Na maquete também estão reproduzidos em miniatura os murais Guerra e Paz dentro da sede da ONU em Nova York, considerados a obra máxima de Portinari.
Exposições imersivas são um fenômeno que toma os principais pólos culturais metropolitanos no mundo. Artistas como Van Gogh, Claude Monet, Gustav Klimt e Leonardo da Vinci já tiveram exposições baseadas em projeções de grande escala em diversos países. O próprio MIS Experience foi inaugurado com a exposição Leonardo da Vinci: 500 anos de um gênio, que possuía um espaço de projeções em grandes painéis e no chão, além de objetos inspirados nos desenhos do mestre renascentista.
Hoje, o mesmo espaço é dedicado à extensa obra de Portinari, onde o público pode conhecer detalhes das pinturas do artista, dentro de uma animação com trilha sonora composta por Cacá Machado. É na sala Portinari IMENSO que a poética do artista aparece de forma mais expressiva, através dos temas Brasil de Portinari, Guerra e Paz, Infância e Arte Sacra.
Espaço imersivo Portinari IMENSO. Foto: Cinthia Bueno.
Enquanto a trilha sonora acompanha as grandes projeções e provoca diversas emoções aos visitantes, estes podem se sentar em sacas de café que são postas em ilhas com grãos moídos espalhadas pela grande sala. Com isso, a sala cria uma nova atmosfera e consegue o feito de atingir mais sentidos em uma única experiência. Além disso, no final da exposição ainda é possível conhecer mais sobre a história do Projeto Portinari e suas contribuições ao longo das últimas décadas.
Pensando em ampliar o acesso a todos os tipos de público, a exposição oferece recursos de acessibilidade do começo ao fim, incluindo QR codes que levam a conteúdos incluindo um audioguia com narração de João Candido; audiodescrição das salas; videos de Libras e duas obras táteis para cegos e pessoas com baixa visão.
O núcleo educativo recebe grupos previamente agendados por e-mail, realizando visitas mediadas pela exposição e oficinas temáticas que dialogam com o universo de Portinari.
Exposição: Portinari Para Todos
Período: de 05/03 a 10/07
Horário: de terça a sexta-feira e domingo das 10h às 17h | sábados e feriados das 10h às 18h
Ingressos: terças, gratuito | quarta a sexta R$ 30 e R$ 15 (meia) | sábado, domingo e feriados R$ 45 e R$ 22,50 (meia)
Local: MIS Experience – Rua Vladimir Herzog, 75 – Água Branca – São Paulo/SP
Site oficial: www.portinariparatodos.com.br
Visitas educativas podem ser agendadas pelo e-mail: educativoexp@mis-sp.org.br
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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