A Artsoul conversou com Adriano Casanova, galerista do espaço híbrido CASANOVA, sediado na Vila Modernista do Flávio de Carvalho, em São Paulo. O galerista Adriano Casanova nos conta sobre o projeto de abertura do seu espaço, comenta sobre sua atuação no mercado de arte online e o processo de seleção de novos artistas.
Adriano Casanova – A arte se fez presente na minha vida adulta de uma maneira muito empírica. Sou de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e tenho vivido em minha memória momentos quando morava lá e vinha visitar São Paulo com meus pais e ocasionalmente passávamos pela Bienal de São Paulo. Aquele universo era novo e inquietante.
Quando prestei vestibular entrei para o curso de Arte e Tecnologia da PUC-SP, que foi quando mergulhei no universo das artes visuais e desde então continuo submerso.
Trabalhei no Paço das Artes e na extinta Baró Cruz, depois tive um hiato fazendo meu mestrado em Londres e morando na Espanha, e retornei a São Paulo para inaugurar a Baró galeria, no galpão da Barra Funda. Depois de um tempo resolvi fazer um caminho solo, com a proposta de repensar o papel do galerista tradicional e atuando mais como um agente cultural ao propor diferentes formas de trabalho, com outros tempos e outras expectativas, tentando não sucumbir somente a necessidade do mercado, que pode se tornar um peso, e sim pensar, paulatinamente, cada projeto e exposição. Propor um encontro entre o meu tempo e o tempo do mercado.
Adriano Casanova – Primeiro sintonia; para trabalhar bem com alguém é essencial ter senso de empatia e parceria mútua. Segundo uma pesquisa do artista que esteja em diálogo com a estética e programa da galeria.
Também coleciono, e sempre penso – inclusive com os artistas com os quais já trabalho – as obras que tenho vontade de comprar para minha coleção. A melhor venda é quando eu compro arte para os meus clientes como se fossem para mim.
Adriano Casanova – Eu defendo e confio em todos os artistas com os quais trabalho, obviamente. E todos tem seus momentos de destaque em sua produção. No momento destaco a obra recente da artista Lina Kim, com uma exposição que vamos inaugurar em Outubro na galeria. Também estou encantando com as pinturas do novo artista que estamos trabalhando, Bernardo Glogowski e também com as série nova de fotografias do alemão Michael Wesley que documenta a reforma da neue gallerie de Berlin, desenhada por Mies Van der Rohe. Também tenho pensado juntamente com Alice Quaresma novas plataformas para suas fotografias intervidas, em nft e em espaços não institucionalizados.
Adriano Casanova – Definitivamente a pandemia acelerou esse processo online. Lançamos uma exposição online do artista americano Aldo Tambellini ano passado que foi um trabalho muito interessante, feito em parceria com a curadora Jane de Almeida. Não foi um formato VR e sim um compilado de obras da produção da carreira do artista que faleceu aos 90 anos.
Também fizemos um trabalho em parceria com a Biblioteca Raul Bopp, que foi uma exposição na fachada do edifício e paralelamente no site da galeria.
Participamos de inúmeras feiras onlines produzidas por plataformas internacionais e lançamos em parceria com outras galerias uma plataforma online, o www.c-a-m-a.com que se desmembrou no Espaço C.A.M.A. e em outras ações conjuntas com as galerias do projeto.
Uma das salas expositivas do Espaço C.A.M.A. – Imagem cedida por Adriano Casanova
Adriano Casanova – Acho que a cada geração o galerismo vai se renovando e respondendo ao seu tempo. Percebo na minha geração que o senso colaborativo e de compartilhamento está mais latente. Novas formas de trabalho, novos panoramas para a arte são criados, respondendo a uma demanda cultural que sempre foi muito latente no Brasil.
O mercado da arte traçou um árduo caminho ao desbravar novos horizontes para a arte brasileira e sua internacionalização. Hoje o cenário é outro, a tecnologia mais avançada está a nosso favor e essa nova geração de agentes do mercado vem com a intenção de não só pensar a arte brasileira mas sim uma arte do mundo. Trabalhando em parcerias e pensando além do local x global mas ao mesmo tempo entendendo que é essencial fortalecer nossas raízes.
Adriano Casanova: F for Fake. Orson Welles (filme); Exploding Galaxies: The Art of David Medalla. Guy Brett (livro); The Gift: How the Creative Spirit Transforms the World. Lewis Hyde (livro); www.itauculturalplay.com.br/ (filmes, documentários)
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Entrevista concedida em setembro de 2021
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Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP
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