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Dadaísmo: o expoente da arte irracional

Publicado por Victoria Louise em 29/10/2022
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O dadaísmo foi um dos movimentos mais emblemáticos das vanguardas europeias e norte-americanas do início do século XX. Se propôs a ser um movimento antiarte ao reivindicar objetos aleatórios do cotidiano como arte, mudando as compreensões em relação ao fazer artístico.

Origem e contexto histórico político

O dadaísmo era intrinsecamente político, foi pensado como um protesto. O objetivo declarado era de tornar claro que todos os valores morais e estéticos perderam o sentido, justamente devido à Guerra. Também é reconhecido como um movimento nonsense (sem sentido), pois, de modo geral não tinha a busca de um sentido único, as obras eram produzidas a partir da ocasionalidade e irracionalidade.

Segundo Giulio Carlo Argan, renomado crítico de arte do século XX, o Dadá surgiu quase simultaneamente na Suíça e Estados Unidos. Em Zurique, foi inicialmente composto por um grupo de artistas, os poetas Hugo Ball (1886 – 1927) e Tristan Tzara (1896 – 1963), e o escultor e pintor Hans Arp (1886 – 1966). Essa cidade foi especificamente escolhida por estar em um país neutro em relação aos conflitos da época. 

Da esquerda para direita: Hans Arp, Tristan Tzara e Hans Richter em Zurique. 1917-18. Imagem: alamy.com

Entre críticos e historiadores não há exatidão na data do surgimento do movimento, mas sabe-se que foi em meados de 1915-1922, enquanto a Primeira Guerra Mundial ocorreu entre 1914-1918.

Até hoje não há uma precisão da origem do nome. Popularmente, o termo dadá, foi escolhido ao acaso. O historiador H. W. Janson defende inclusive que o acaso era “a única lei respeitada pelos dadaístas”, em seu livro História da Arte. A palavra em francês foi escolhida aleatoriamente no dicionário, supostamente a primeira página que abriram, e em francês significa “cavalo de pau”, nomenclatura atribuída a um brinquedo infantil. Segundo o artista e historiador Hans Richter, em seu livro “Dadá: Arte e Antiarte”, no início do movimento, em 1916, Tzara disse “Uma palavra nasceu, não sei como”.

Hans Arp. Sem título (Collage with Squares Arranged according to the Laws of Chance). 1916-17. 48,5 x 34,6 cm. Imagem: MoMA

Embora os dadaístas tenham sido expoentes das colagens, essa técnica não foi iniciada por eles. Uns dos primeiros artistas a produzir colagens foram os cubistas Pablo Picasso (1881 – 1973)  e Georges Braque (1882 – 1963). Contudo, as colagens dadaístas refutaram a rigidez e intencionalidade das colagens cubistas ou de outros movimentos. Hans Arp, por exemplo, deixava cair pedaços rasgados de papéis coloridos em uma folha maior, ajustava minimamente e colava essa organização natural “segundo as leis do acaso” (exemplo acima). 

Hans Richter alega que especialistas definem o movimento como um “estado transitório” das artes. Cronologicamente, aconteceu entre o Futurismo (na Itália) e o Surrealismo (iniciado na França). Nos livros de história da arte, o dadaísmo e o surrealismo são comumente relacionados. 

De fato, o dadá desencadeou o surrealismo, suas produções exacerbadamente ilógicas não conseguiram se manter por muito tempo, nesse sentido, o surrealismo aparece com mais estabilidade temporal e conceitual. Ainda que próximos, eles tinham diferenças estéticas, técnicas e teóricas. Esse segundo movimento buscava um embasamento racional na psicanálise, ainda que também estivesse muito ligado à irracionalidade, e tinha interesse de representar associações inconscientes e o mundo dos sonhos.

Dadaísmo em outros países 

Além de Zurique, o movimento teve um grupo muito relevante nos Estados Unidos, com participação inicial dos pintores europeus Marcel Duchamp (1887 – 1968) e Francis Picabia (1879 – 1953), e dos fotógrafos norte-americanos Alfred Stieglitz (1864 – 1946) e Man Ray (1890 – 1976).

O artista e galerista Stieglitz era interessado em novas manifestações e em tudo que era revolucionário. Em 1905 ele abriu uma galeria de fotografia que futuramente seria o abrigo do grupo dadaísta em Nova York. Entre esse período, a galeria 291 chegou a ter exposições de grandes modernistas como o escultor Rodin e os pintores Matisse, Cézanne e Picasso, antes de se tornar ponto de encontro do grupo dadá entre meados de 1915 e 1920. 

As manifestações sarcásticas e ilógicas não ficaram apenas nessas duas cidades, os interesses do dadá se espalharam rapidamente, chegando a formar outros grupos em Paris, Berlim, Hanôver, e Colônia. 

Ready-mades

Embora o movimento tenha recebido nome, artistas, admiradores, e manifestos apenas em meados de 1915, as inquietações dadaístas já pairavam nos anos anteriores. Exemplo disso são os ready-made de Duchamp, em que uma de suas primeiras obras, Roda de Bicicleta, foi criada em 1913, ou seja, antes do movimento se instaurar de fato. Desde aquele ano o artista francês já trabalhava com a ressignificação de objetos e com o acaso, sendo que, posteriormente, a ocasionalidade foi justamente uma das primícias do dadaísmo.

Duchamp posando ao lado de Bicycle Wheel, (1913). Imagem: Zona Curva

Em Bicycle Wheel, Duchamp encaixou uma roda da bicicleta de cabeça para baixo em um banco de madeira, girando-a ocasionalmente apenas para observar o movimento da roda.

Entre as demais obras ready-mades do artista, a mais conhecida é Fountain (1917) em que ele virou um mictório de ponta cabeça, assinou e mandou para a primeira exposição da Sociedade de Artistas Independentes em Nova York, em 1917. A obra foi rejeitada pela comissão julgadora por ser considerada uma afronta ao que se constituía uma obra de arte. Mesmo sendo negada, ela é até hoje uma das obras mais comentadas do século XX, pois questiona o ofício do artista e coloca o intelecto do artista acima do objeto. 

Marcel Duchamp. Fountain. 1917. Imagem: publico.pt

A assinatura na obra não levou o nome do artista, mas o nome R. Mutt. O R significava Richard, uma gíria francesa para “ricaço”, e a palavra Mutt era uma referência à empresa fabricante do mictório, J. L. Mott Ironworks. Duchamp acreditava que usar peças pré-fabricadas impunha menos contemplação e mais ação reflexiva do público, e livrava o artista de ter que se adaptar a um determinado estilo artístico. 

Cabaret Voltaire e outras linguagens 

Uma das figuras mais importantes pro dadaísmo em Zurique foi o poeta Hugo Ball. Ele fundou o Cabaret Voltaire em fevereiro de 1916, após um acordo com o proprietário do bar. A proposta consistia em um cabaré literário, com apresentações de canções, poesias e danças, com a promessa de que as atrações iriam aumentar as vendas do local. 

A ideia foi um sucesso, chegou a circular notícias no jornal convidando jovens artistas. Alguns dias após a abertura já estava “superlotado, e muitos não encontravam mais lugar”, segundo relatos do poeta fundador do local. Era uma espécie de bar com apresentações e encontros para discussões e exposições. 

Cabaret Voltaire. Imagem: RockNside

Entre as apresentações, destaca-se o recital de poemas simultaneísta de Huelsenbeck, Tzara e Janco. Os três poetas falavam, cantavam, assobiavam ou esboçavam outros sons simultaneamente, resultando em uma apresentação estranha, chamativa e alegre, de acordo com Richter.

Fotografia no dadaísmo

A fotocolagem foi uma técnica explorada pelos artistas da época, entretanto, algumas fotografias ganharam destaque pelo tema, e não pela técnica em si. O fotógrafo Man Ray e o pintor e escultor Duchamp fizeram uma série de fotografias do alter-ego feminino de Duchamp, chamado Rrose Sélavy, que chama a atenção na peculiaridade de um simples retrato. O nome é um trocadilho com a pronúncia francesa Eros, c’est la vie (Eros, é vida). As fotografias atreladas ao título, discute a erotização do corpo feminino, e os papéis de gênero.

Man Ray. Retrato de Rrose Sélavy, 1921. Imagem: wikimedia commons.
Man Ray. Rrose Sélavy (Marcel Duchamp), 1920. Imagem: anothermag.com

Nessa série, Man Ray fotografa o amigo pintor com roupa feminina, maquiagem, jóias, e por vezes, com gestos “femininos”, como nos retratos acima, com poses, roupas e elementos diferentes entre si, mas que revelam essa brincadeira com os gêneros. As fotografias aludem também à liberdade e igualdade de gênero e liberdade do processo criativo.

Mulheres artistas no dadaísmo

Além dos artistas já citados, destacam-se as artistas Hannah Hoch e Beatrice Wood, pelas produções e contribuições potentes, ainda que tenham sido apagadas pelo patriarcado.

Hannah Hoch fez parte do grupo dadaísta de Berlim na Alemanha. Ela se expressou principalmente através de colagens e teve obras expostas nas primeiras apresentações dadás, entretanto, segundo Richter “a sua vozinha, de qualquer maneira, teria sido vencida pelo barulho dos seus colegas masculinos”. A própria artista chegou a escrever sobre os artistas dadaístas: “Eles continuaram por muito tempo a olhar para nós mulheres artistas como encantadoras e amadoras talentosas, negando-nos qualquer status realmente profissional… não era fácil para uma mulher se impor como artista moderna na Alemanha”.

Hannah Höch, Cut with the Dada Kitchen Knife through the Last Weimar Beer-Belly Cultural Epoch in Germany. 1919-1920. Imagem: artofcollage
Retrato de Hannah Höch. Sem data. Autoria desconhecida. Imagem: pinterest

A fotomontagem de Hannah Höch, intitulada “Cut with the Dada Kitchen Knife through the Last Weimar Beer-Belly Cultural Epoch in Germany” (1919-1920), foi exibida na Primeira Feira Internacional Dadá, em Berlim. Hoch foi a única mulher representada na Feira que expôs 174 obras de cerca de 27 artistas de variadas nacionalidades. Além dessa, a artista chegou a mostrar um pôster, duas bonecas artesanais, 2 relevos e 4 colagens. 

A obra apresenta slogans dadaístas, imagens de líderes políticos com estrelas do esporte recortadas e coladas, imagens mecanizadas da cidade e imagens satíricas dos artistas dadaístas. Em 1961 a obra foi adquirida pela National Gallery in Berlin, e pode ser considerada uma das obras mais relevantes do movimento, pois, para além da técnica e disposição desinteressada das imagens, contém críticas ao cenário artístico e político da época.

Beatrice Wood (1893 – 1998) foi uma das artistas que compôs o grupo da vanguarda norte-americana. Em 1916 ao lado de Duchamp e do escritor Henri-Pierre Roché, ela fundou a revista The Blind Man, um dos primeiros manifestos do movimento, além da sua produção artística. 

A artista não recebeu grandes menções e ainda não é reconhecida, provavelmente por não apresentar grandes rupturas em sua produção artística (pelo que se tem documentado e disponível). Ela foi menos chocante que os demais artistas, porém, isso não diminui sua participação e relevância. A artista viveu 105 anos, e desde os 54 dedicou-se principalmente à produção de cerâmicas. Além disso, foi inspiração para a personagem de Rose Dewitt Bukater, protagonista do filme Titanic (1997). Wood, assim como Rose, são figuras compreendidas como rebeldes. Mulheres à frente de seu tempo, que não aceitavam as imposições patriarcais, e ainda que fossem de classe social privilegiada, olhavam para os desfavorecidos. 

Marcel Duchamp, Henri-Pierre Roché e Beatrice Wood. Imagem: fazendoartedmc.blogspot
Beatrice Wood. Beatrice… pourquoi?  1917. Imagem: fazendoartedmc.blogspot

Na pintura, Wood foi menos ousada que os demais artistas dadaístas. No desenho, poucas formas compõem a imagem que parece uma mulher. O rosto com poucos detalhes é decisivo para entender a figura. As roupas são compostas por linhas orgânicas, fluidas e cores claras e distintas. 

Diálogos com a atualidade 

Entre os livros de história da arte, o dadaísmo passa quase batido para o historiador E. Gombrich. No último capítulo ele se refere ao dadá como “movimento extremista”. Além disso, por mais de uma vez em suas poucas linhas dedicadas ao movimento, emprega aos artistas dadás o desejo de ser criança e o retorno à mentalidade infantil, demonstrando uma postura conservadora. 

Ainda que a arte contemporânea não tenha a mesma crítica direta e em comum, como o dadaísmo tinha à Primeira Guerra Mundial, a produção atual de modo geral aparenta ter essência semelhante à dadaísta. Em ambas, não há a predominância de uma técnica ou regra nas linguagens – pintura, escultura, fotografia, colagem, poesia, música, etc. Por vezes, irracional, infantil, humorística, chocante, emocionante, a arte contemporânea também propõe questionamentos e reflexões sem se preocupar tanto com a plasticidade e beleza dos objetos, além de veementemente valorizar mais o conceito da obra do que qualquer técnica. 

O dadaísmo iniciou esse questionamento do papel do artista e da obra, e graças a ele e todos os demais movimentos do modernismo caminhamos para uma pluralidade grande no século XXI. A dúvida pulsante é: seria a contemporaneidade o dadaísmo que deu certo?

Daniken Domene é técnico em audiovisual e graduando em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.

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