Lucas Lenci, série MOVIMENTO ESTATICO, Lincon Entre as várias expressões artísticas, talvez a fotografia esteja entre as mais palatáveis. Com a recente proliferação de câmeras em dispositivos móveis, ocorreu uma certa banalização da imagem fotográfica, mas a fotografia continua sendo um suporte artístico amplamente adotado por artistas. O que diferencia uma fotografia comum da obra de arte é a pesquisa do artista que está por trás do click. “Fotografia autoral” é o termo que o fotógrafo Lucas Lenci propõe em vez de “fotografia Fine Art”. Imprimir em Papel 100% Algodão com pigmento mineral sem solvente não é o que torna uma fotografia arte. “A fotografia só existe como arte quando tem uma pessoa por trás e essa pessoa é o motivo principal. Faz parte de um processo artístico”, diz Lucas. Após oito anos trabalhando pela democratização da fotografia, através da galeria Fotospot que ele fundou em 2010 e que recentemente encerrou suas atividades, hoje Lucas vê com olhar mais crítico a questão. “Um ponto positivo é que pode ser uma boa porta de entrada para a arte contemporânea, mas essa pulverização é complicada. Passa a sensação que qualquer pessoa pode fazer, o que não é o caso”, pondera.
IPIRANGA #1, 2014_Mauro Restiffe, série São Paulo, fora de alcance, projeto realizado para o IMS Para Mauro Restiffe, que tem trabalhos em importantes coleções e prefere ser identificado como fotógrafo em vez de artista, é irrelevante se fotografia é arte ou não. Mas, ele explica que existem pontos de intersecção da fotografia que ele faz com as artes visuais, “principalmente na criação de uma linguagem, que no meu caso se deu pelo uso da câmera analógica e do filme preto e branco. Porém, a fotografia é mais direta que as outras artes visuais, fala de um tempo”, avalia. Esta ideia de um momento eternizado em uma imagem pode ser bem vista na exposição individual de Restiffe ‘São Paulo, fora de alcance’ (14 de abril a 26 de agosto, 2018), no Instituto Moreira Salles de São Paulo. Comissionado pelo IMS, o fotógrafo percorreu a cidade de São Paulo entre dezembro e abril de 2014 para registrar a transformação da cidade no período que antecedeu a Copa do Mundo. “Há várias maneiras de olhar a cidade, essa foi a minha visão naquele momento. Vivemos num mundo bombardeado por imagens, em que qualquer um pode fotografar. Porém, a diferença é que as minhas fotografias não são privadas, são públicas. Eu tenho um compromisso porque elas são objetos de interpretação”, diz.
ESTACIONAMENTO OFICINA, 2014_Mauro Restiffe_série São Paulo, fora de alcance, projeto realizado para o IMS Apesar de ser usada por artistas há muito tempo, o questionamento da condição da fotografia como arte sempre a rondou. Segundo Julia Suslick Porchat, art advisor da Art Ahead, o mercado de arte passou a incorporar integralmente fotografia há cerca de 25 anos. Hoje, é um suporte fundamental e extremamente valorizado. “A fotografia automaticamente entra nas coleções e tem o mesmo valor do que qualquer outra obra”, acredita Julia. Por natureza, fotografias podem ser reproduzidas inúmeras vezes, mas as clicadas por artistas têm edições limitadas, numeradas e autenticadas. O fotógrafo e a galeria decidem quantas cópias serão impressas. Podem ser três ou cinco, ou um número bem maior, para tornar o trabalho menos raro e, portanto, mais acessível. Uma boa galeria para visitar e se deparar com primorosos exemplares neste suporte é a Mario Cohen, em São Paulo. Existem também ótimas coleções voltadas ao universo fotográfico, como a de Silvio Frota, que de coleção particular se tornou a base do Museu da Fotografia de Fortaleza, inaugurado em 2017. Maria Silvia Ferraz é jornalista e apaixonada por arte contemporânea ‘São Paulo, fora do alcance’14 de abril a 26 de agosto, 2018IMS PaulistaGaleria 1Avenida Paulista, 2424, São Paulo-SPgratuitoims.com.br
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