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Paisagens em transformação: Monet, a natureza e o tempo na exposição do MASP

Publicado por Victoria Louise em 18/06/2025
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Claude Monet. A canoa sobre o Epte, circa 1809. Foto: João Musa/MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Em cartaz no MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, a exposição A Ecologia de Monet propõe um reencontro singular com a obra de um dos nomes mais centrais da história da arte ocidental. São 32 pinturas de Claude Monet, muitas delas nunca antes exibidas no Hemisfério Sul, distribuídas em cinco núcleos curatoriais que atravessam as décadas de 1870 a 1920 — cobrindo boa parte de sua trajetória artística. A curadoria é assinada por Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Isabela Ferreira Loures, e integra a programação anual do museu dedicada às Histórias da Ecologia.

A proposta curatorial convida o público a observar como a obra de Monet documenta as transformações ambientais, sociais e visuais provocadas pela modernização do século XIX. Em vez de retratar paisagens idealizadas ou intocadas, o artista aparece aqui como um observador crítico das interferências humanas sobre o meio ambiente. Nos quadros de Monet, a natureza é muitas vezes cortada por trilhos, coberta por fumaça, dominada por pontes, barcos e jardins meticulosamente planejados.

Dividida em cinco núcleos — Os barcos de Monet, O Sena como Ecossistema, Neblina e Fumaça, O Pintor como Caçador e Giverny: Natureza Controlada — a exposição nos conduz por diferentes formas de relação entre o artista e os ambientes retratados. Há um encantamento evidente pela água, pela luz, pela atmosfera. Mas há também uma inquietação silenciosa. Como observa o curador Fernando Oliva, “a relação de Monet com a ecologia é complexa e atual, pois ele foi um dos primeiros artistas a representar as tensões entre natureza e progresso”.

Na seção dedicada ao Sena, por exemplo, vemos a presença constante do rio, com suas margens ora verdes, ora industriais, ora habitadas por figuras humanas. Os reflexos na água, quase sempre em movimento, revelam a tentativa do artista de captar aquilo que escapa: o instante, a brisa, a vibração da luz sobre as superfícies. Em outras telas, como as célebres vistas das pontes de Londres, a névoa espessa que envolve os edifícios revela tanto uma poética da atmosfera quanto um dado concreto da poluição causada pela queima de carvão, tão presente devido aos maquinários da época. Monet, ainda que não fosse um militante ecológico nos termos de hoje, soube perceber e registrar os sinais do seu tempo.

Juventude e trajetória: a formação de um olhar

Oscar-Claude Monet nasceu em 1840, em Paris, mas foi em Le Havre, na Normandia, onde passou a infância e onde sua sensibilidade se moldou. Desde jovem, demonstrava talento para o desenho. Ainda adolescente, conheceu Eugène Boudin, pintor que o introduziu ao hábito de pintar ao ar livre. A prática do plein air, que se tornaria uma das marcas centrais do impressionismo, começou ali: com o vento do litoral francês e a observação atenta do céu.

Em 1859, Monet se mudou para Paris, onde recusou a formação da tradicional École des Beaux-Arts, preferindo estudar com artistas independentes, como Charles Gleyre. Ali conheceu Renoir, Bazille e Sisley, parceiros fundamentais nas primeiras tentativas de construir uma linguagem nova. O grupo compartilhava um certo inconformismo com os temas históricos e o virtuosismo técnico exigidos pelas academias. O interesse estava nas cenas do cotidiano, nos ambientes urbanos, nas transformações sociais em curso.

Durante os anos 1860 e 70, Monet viveu entre dificuldades financeiras, períodos de depressão e instantes de glória. Chegou a tentar o suicídio jogando-se no Sena, num momento em que não conseguia sustentar a família e via sua arte ser rejeitada pelo Salão Oficial. Ainda assim, persistiu. Em 1874, participou da primeira exposição impressionista no ateliê do fotógrafo Nadar, onde apresentou a tela Impressão, Nascer do Sol — uma marinha borrada por tons alaranjados e azulados, que provocou escárnio da crítica, mas acabaria batizando todo um movimento artístico.

O impressionismo: luz, cor e ruptura

Claude Monet, 1907. Nymphéas. Foto: The Museum of Fine Arts, Houston; Thomas R. DuBrock/MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

O que Monet e seus colegas propunham com o impressionismo era mais do que uma nova técnica, era uma nova filosofia do olhar. A pintura abandonaria os temas grandiosos e os contornos precisos e buscaria capturar a sensação do momento, o efeito da luz, o jogo de cores. Cada quadro era menos um documento do mundo e mais um registro da percepção do artista sobre o mundo.

Ao contrário da pintura acadêmica, que exigia um esboço rigoroso, o trabalho impressionista começava direto na tela, com pinceladas rápidas, largas e fragmentadas. O uso de cores puras, aplicadas lado a lado em vez de misturadas na paleta, contribuía para criar vibrações óticas — que se unificam no olhar do espectador. É por isso que, vistos de perto, os quadros impressionistas parecem feitos de manchas soltas. Mas, ao tomar certa distância, a imagem se resolve: forma-se a ponte, o trem, as pessoas, a paisagem como um todo.

Claude Monet, 1918-26. A ponte japonesa. Foto: Philadelphia Museum of Art/MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Claude Monet, 1920-24 A ponte japonesa sobre a lagoa das ninféias em Giverny. Foto: João Musa/MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Monet levou essa lógica ao limite em suas séries. Pintou o mesmo objeto sob diferentes luzes e condições climáticas: as estações de trem, os campos de feno, os jardins de Giverny. Cada variação não era apenas uma repetição: era um comentário sobre o tempo, sobre o olhar, sobre a impermanência.

Nos termos de David Sylvester, que revisitou a obra de Monet nos anos 1950, pode-se dizer que seu legado foi resgatado pela arte do pós-guerra justamente por antecipar uma liberdade moderna de pintar — uma pintura em que o impulso pessoal e o gesto pictórico são tão centrais quanto o motivo retratado. Monet, escreve Sylvester, foi talvez o primeiro a pintar o ritmo do mundo, não apenas sua forma.

Um legado que reverbera

Claude Monet, 1903. Ponte de Waterloo, efeito do sol. Foto: Robert Mc Nair/MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

A exposição no MASP não se limita a um inventário da beleza natural. Ela aponta, com clareza, para as fraturas da paisagem moderna. A fumaça industrial sobre Londres, a interferência humana sobre o Sena, a domesticação da natureza no jardim de Giverny — tudo nos mostra que o impressionismo é uma forma sensível de engajamento com as transformações do mundo, e não um escapismo da realidade.

Monet pintava o que via. E o que via era um mundo em transição. Ele capturava a bruma que escondia os prédios, o reflexo dos barcos, a umidade do solo. E ao fazer isso registrava também o impacto da tecnologia, da urbanização, da velocidade sobre a experiência sensível do espaço. A pintura de Monet, ainda segundo Sylvester, não busca representar objetos — mas projeções do artista: seus impulsos, seus ritmos, seus estados de espírito. Mais do que paisagens, são registros da passagem do tempo sobre as coisas .

Seus jardins de Giverny, por exemplo, não foram apenas cenário, mas projeto estético — Monet modelava a natureza para depois pintá-la. Como escreve Sylvester, ele não retratava o que via: moldava o que queria ver. Era um artista que cultivava a própria matéria da visão.

Monet entre séculos e sentidos

Revisitar artistas consagrados pode parecer, à primeira vista, um gesto confortável — quase um retorno ao “clássico”, ao já conhecido. Mas a exposição A Ecologia de Monet mostra justamente o contrário, há desconforto, tensão e crítica nas pinceladas do pintor francês. Olhar para Monet hoje é um exercício de deslocamento. É ser forçado a ver o que não queríamos ver — as ruínas escondidas sob os jardins, a fumaça que vem com o progresso, o instante que escapa.

Um dos méritos de Monet está aí, em ter criado uma obra que ainda fala. E não apenas nos encanta, mas nos interroga. Seus quadros nos convidam a parar, ver, reparar. Perguntar sobre o que mudou — sobre o que estava mudando — e sobre o que ainda pode mudar.

Ao propor essa releitura ecológica, o MASP nos instiga a pensar também sobre que outros clássicos podem ser observados através de lentes contemporâneas. Monet não pertence apenas ao século XIX. Ele nos pertence. E olhar para ele agora é um convite a pensar o presente com mais sensibilidade.

Matheus Paiva é internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo, e produtor cultural

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