A Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul anunciou uma nova data para sua próxima edição – a mostra, que estava prevista para acontecer em setembro de 2024, precisou ser remarcada devido às fortes enchentes que atingiram centenas de cidades do Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio. Agora, a exposição ocorrerá entre os dias 27 de março e 01 de junho de 2025.
Intitulada “Estalo” (o gesto de se friccionar o dedo polegar e o dedo médio, produzindo um barulho que se expande no espaço), a edição pretende discutir, a partir das obras de arte, como diferentes movimentos podem provocar transformações individuais e sociais, seja no corpo humano ou na natureza.
Segundo a organização do evento, o estalo está vinculado à ideia de que um súbito movimento pode alterar diferentes matérias, gerando novos sons e vibrações. “Trata-se de um gesto voluntário que, para a experiência humana, está relacionado a diversos usos e interpretações: composição musical em gêneros como o blues, o samba, o jazz e o rock n’ roll; uma chamada para a ação; o induzir e o despertar em atos de hipnose; a domesticação de outros animais; a tentativa de recordar uma palavra que esquecemos; um pedido de silêncio em uma sala de aula; uma forma de aplaudir uma apresentação ou de incentivar um discurso em andamento. Em um estalar de dedos, tudo pode se movimentar”, diz a publicação.
Para Carmen Ferrão, diretora da Fundação Bienal do Mercosul, a mostra será mais uma parte da grande reconstrução que o estado enfrenta. Neste momento tão delicado, em que milhares de famílias precisam recomeçar suas vidas e lidar com o luto de parentes e amigos, a Bienal movimentará a capital gaúcha através da arte e da educação. “Durante este ano estamos envolvidos em iniciativas para a reconstrução do setor artístico e dos equipamentos”, afirmou a presidente.
Com o intuito de atingir um público maior e mais diverso, “Estalo” estará espalhada por vários espaços da cidade de Porto Alegre. Diferente das bienais anteriores, a 14ª edição terá uma série de atividades que acompanharão a mostra principal. Em parceria com galerias da cidade, serão apresentados também os projetos “Porta para a Arte” e “Arte no Prato” – este último envolvendo o setor gastronômico local. Os eventos vão acontecer no mesmo período da exposição, e reiteram o desejo da organização de continuar realizando um trabalho com impacto social.
Desta vez, quem comanda a curadoria da Bienal do Mercosul é Raphael Fonseca (Rio de Janeiro, 1988), curador de arte moderna e contemporânea latino-americana do Denver Art Museum, nos Estados Unidos. Os curadores adjuntos são Tiago Sant’Ana (Santo Antônio de Jesus, 1990), artista visual, curador e doutor em Cultura e Sociedade, e Yina Jiménez Suriel (La Vega, República Dominicana, 1994), curadora e pesquisadora com mestrado em Estudos Visuais.
Sant’Ana foi curador-assistente da 3ª Bienal da Bahia, organizou o programa de exposições do Goethe-Institut em Salvador e tem obras em acervos nacionais e internacionais. Suriel, por sua vez, é curadora da The Current IV by TBA21-Academy e faz parte da equipe curatorial da seção Opening na ArcoMadrid.
A curadora assistente da edição é a produtora e pesquisadora Fernanda Medeiros (Uruguaiana, 1989). Foi curadora-assistente no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) entre 2019 e 2022. Foi também coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa da Fundação Vera Chaves Barcellos (2012-2019) e sócia-fundadora, curadora e produtora no Acervo Independente.
Andréa Hygino (Rio de Janeiro, 1992) e Michele Ziegt (Porto Alegre, 1980) comandam a curadoria educativa. Hygino é artista visual, arte-educadora e professora. Foi vencedora do 3o Prêmio SeLecT de Arte e Educação e do Prêmio FOCO ARTRio 2022. Já Ziegt atua em eixos transdiciplinares, desenvolvendo pesquisas e ações que relacionam as áreas de Linguagem, Cultura e Educação. Sua formação enquanto arte-educadora deu-se através das múltiplas participações na Bienal do Mercosul. É co-coordenadora do selo editorial Orisun Oro.
Os Programas Públicos, novidades da próxima Bienal, tem a curadoria de Anna Mattos (Cabo Frio, 1993) e Marina Feldens (Porto Alegre, 1994). Ambas são fundadoras, produtoras e gestoras da Galeria Gazzebo. Mattos é produtora cultural, coordenadora de execução de projetos do espaço Força e Luz. Produziu mais de 20 exposições nos últimos 5 anos. Feldens é produtora cultural e arte-educadora. É Gestora do Núcleo Educativo-Cultural no espaço Força e Luz.
Por fim, os responsáveis pelo projeto expográfico e de design da mostra são a arquiteta, diretora de arte e cenógrafa Juliana Godoy (São Paulo, 1987) e a equipe do estúdio MARGEM, formado por Alexandre Lindenberg (foto), João Pedro Nogueira e Letícia Souza. Godoy tem atuado em diversas instituições pelo Brasil, como Sesc, Instituto Moreira Salles, MAM Rio, Itaú cultural e Auditório Ibirapuera. O MARGEM, por sua vez, já realizou trabalhos para espaços como MASP, Haus der Kunst Munich e Sesc, além de projetos especiais para corporações como Spotify e MTV.
Após a reestruturação do calendário e o anúncio da nova data, a Bienal do Mercosul deve divulgar mais informações em breve. A lista de participantes da edição e as instituições culturais que integram o evento estavam previstas para sair em junho deste ano, mas também sofreram atrasos. Mesmo assim, estima-se que o perfil dos artistas seja, em sua maioria, de origem latino-americana, como de costume em uma das maiores iniciativas no campo das artes no país e na América Latina.
Em uma coletiva de imprensa no início do ano, a diretora Carmem Ferrão comentou sobre a vontade de que “Estalo” faça uma espécie de contraposição à edição anterior, chamada “Trauma, Sonho e Fuga”, que foi marcada pela pandemia de Covid-19. Agora, depois da crise climática assolar o estado, pretende-se que a exposição possa se reconectar com Porto Alegre, sua casa, aproximando o público pelas cores, arte e espaços.
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