No último sábado (3), a artista sérvia Marina Abramović desembarcou na cidade de Água Preta, na Mata Sul de Pernambuco, para inaugurar sua primeira obra pública no Brasil. Intitulada “Generator”, a instalação integra o acervo da Usina de Arte, um parque artístico e botânico formado por 33 hectares, localizado no distrito da Usina Santa Terezinha (PE).
Composta por um muro preto de dimensões monumentais e 12 agrupamentos de quartzo rosa vindos de Minas Gerais, o trabalho tem como objetivo promover uma interação entre o público e os cristais, aludindo à ideia de um grande gerador de energia. Com 25 metros de comprimento, 3 metros de altura e 2,5 metros de largura, a escultura funciona como uma tentativa de restaurar a capacidade dos indivíduos de se conectarem com a natureza. “Neste momento de turbulenta história humana, vivemos uma época de guerras, violência, pobreza e aquecimento do nosso planeta. O rápido desenvolvimento técnico afastou-nos da natureza e perdemos a capacidade de usar a intuição, a telepatia e de lembrar os nossos sonhos. Perdemos nosso centro espiritual”, comenta Abramović.
Essa ideia de refletir sobre a sociedade e tentar conectá-la com a terra novamente teve como inspiração a performance The Lovers (The Great Wall: Lovers at the Brink), desenvolvida pela artista no ano de 1988. Naquela ocasião, Abramović caminhou pela Muralha da China com seu então companheiro, o artista alemão Ulay, construindo uma jornada de peregrinação e introspecção. Seguindo esta mesma linha, “Generator”, é feita para ser experienciada, mais do que apenas assistida. O quartzo rosa, conhecido por transmitir calma, clareza e paixão, é disposto pelo muro para que os visitantes encostem seus corações, estômagos e cabeças, adquirindo a carga energética que a pedra emana.
A pesquisa espiritual de Abramovic pelo Brasil não surgiu tão recentemente. No documentário “Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil”, lançado em 2016 e disponível no streaming Amazon Prime, é apresentada a relação da artista com diferentes manifestações espirituais da cultura do país. Experiências como os rituais do xamanismo na Chapada Diamantina ou o candomblé na Bahia foram importantes para a construção deste novo trabalho.
Situada em uma parte recém-expandida da Usina da Arte – projeto que mescla jardim botânico e museu a céu aberto, idealizado por Ricardo e Bruna Pessôa de Queiroz -, “Generator” dá continuidade a noção de valorização das expressões corporais e materiais orgânicas desenvolvidas pela artista ao longo de sua carreira.
Gostou desta matéria? Leia também:
Ativistas ambientais atacam quadro de Mona Lisa em protesto neste domingo