O público brasileiro já presenciou encontros entre as artes visuais e os projetos do icônico e internacionalmente reconhecido arquiteto Oscar Niemeyer. A Igreja de São Francisco de Assis na Lagoa da Pampulha, que recebe obras de Candido Portinari, ou o próprio Museu de Arte Contemporânea de Niterói são bons exemplos.
Contudo, São Paulo presencia agora um dos mais intimistas e inovadores projetos realizados em um edifício ou casa assinada por Niemeyer. Trata-se da ocupação da última residência projetada pelo arquiteto que restou na capital paulistana.
ABERTO/01 é o nome da mostra que inaugura uma plataforma idealizada pelo art advisor Filipe de Almeida Assis, que possui experiência internacional e pretende ampliar diálogos entre a arte brasileira e internacional a partir de contextos únicos, como este em questão.
“A ideia da ABERTO é abrir lugares que normalmente são fechados para o público – como essa casa do Niemeyer que existe desde 1974, mas nunca foi aberta -, e trazer para dentro dela obras importantes, tanto da produção brasileira quanto da produção internacional”, afirma Filipe a respeito dos princípios do projeto.
Para realizar o primeiro ato da plataforma ABERTO, Filipe convidou a designer Claudia Moreira Salles, que cuidou de toda a expografia com Gabriel Bueno. Além da expografia, Claudia também desenvolveu novos cavaletes para a mostra, que em breve serão vendidos pela loja Etel com o apoio de Lissa Carmona.A curadoria da mostra contou com o trabalho de Filipe, Cláudia e Kiki Mazzucchelli, curadora e crítica independente paulistana.
O projeto foi realizado em 45 dias, o que por si só foi um grande desafio para seus organizadores. Além disso, a laje e as paredes não puderam ser furadas, o que implicou na criação de um novo sistema de expografia e iluminação que não modificasse a arquitetura.
Mulher Nua Sentada, pintura de Pablo Picasso de 1901, é um dos destaques da mostra, que dialoga com um conjunto de nus de outros artistas icônicos como Renoir, Klimt, Louise Bourgeois, Botero, entre outros. Esta é a primeira aparição pública da obra desde que foi restituída à família do marchand judeu-alemão Alfred Flechtheim, após ser pilhada por nazistas na década de 1930.
“Temos obras historicamente importantes, como a própria tela do Niemeyer, que é uma de duas que ele pintou na vida. O estudo para o afresco do Dom Bosco no Itamarati, o estudo pro altar da igreja de São Francisco de Assis da Pampulha“, menciona o art advisor.
Para Filipe, a obra do arquiteto que projetou a casa que sedia o projeto é um dos destaques por sua atemporalidade: “Niemeyer pintou essa obra em 1964 quando estava em Paris, após escutar sobre o golpe militar. Ele pintou as colunas do Palácio da Alvorada como ruínas, tanto que o título da obra é Ruínas de Brasília. Essa obra é um destaque porque ela era atual em 1964, é uma obra atual hoje, e é uma obra que vai ser atual durante muitos anos”.
Para além da exposição de grandes mestres, a plataforma também se afirma como um lugar para novos artistas se destacarem. Para Filipe, a pluralidade nos diálogos é o que enriquece o projeto: “É abrir diálogos entre arte, arquitetura e design, entre arte moderna e contemporânea, artistas jovens e mais consagrados”.
Já na sua primeira edição, o projeto demonstrou seus diferenciais e os próximos passos podem ampliar ainda mais a atuação da nova plataforma: “Gostaria de internacionalizar a ABERTO, abrindo mais esse diálogo da arte brasileira contemporânea – e até mesmo moderna – com com artistas locais de onde ela for acontecer”, afirma Filipe.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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1 Comment
Parabéns pelo recuperação desta casa que em breve vou visitar.Nosso patrimônio deve ser sempre divulgado com pessoas empreendedoras com vocês