A Sotheby ‘s de Nova York promoveu o Modern Evening Auction na última terça-feira (16). O destaque foi a batida do martelo no valor de 34,9 milhões de dólares pela obra “Diego y yo” (1949) da artista mexicana Frida Kahlo.
Não é surpresa a repercussão do trabalho de uma das maiores artistas da história da arte, o valor estava dentro do especulado pela casa de leilão que traçou uma média de 30 a 50 milhões de dólares. É, porém, notável que a obra tenha atingido um valor quatro vezes maior do que o último recorde da pintora em 2016, de 8 milhões de dólares pela obra “Dos desnudos en un bosque (La tierra misma)” (1939).
“Dos desnudos en el bosque (La tierra misma)” (1939) da artista Frida Kahlo. Imagem: Touch of class
Além disso, esta venda é um marco histórico e coloca Frida Kahlo no topo das vendas já registradas para obras latino americanas em leilões, superando, inclusive, seu marido Diego Rivera que liderava o ranking desde 2018 com a obra “Los Rivales” (1931), vendida por 9,76 milhões de dólares pela Christie’s.
“Diego y yo” (1949) da artista Frida Kahlo. Imagem: Sotheby’s
O comprador é Eduardo F. Costantini, renomado colecionador e fundador do MALBA, Museu de Arte Latino Americano da Argentina. A obra, porém, entrará em sua coleção particular, não tendo previsão de exposição no museu. O empresário já comprou outra obra de Frida Kahlo em 1995, denominada “Autorretrato con chango y loro” (1942), por 3,1 milhões de dólares, o que a fez se tornar a obra latino-americana mais cara já vendida na época. Ele afirma que se tivesse que escolher hoje entre uma obra de Kahlo e de Rivera, como teve que fazer em 1995, em razão de recursos limitados, sem dúvida, se inclinaria para a obra de Frida Kahlo novamente.
“Me atrai o drama de sua vida, que sua dor esteja à flor da pele de uma forma frágil e comovente“, diz Costantini sobre o trabalho da artista mexicana para o jornal La Nacion.
Outra compra notável de Costantini foi “Abaporu”, da artista brasileira Tarsila do Amaral, arrematada em 1,3 milhão de dólares em 1995. A obra compõe o acervo do MALBA desde sua inauguração em 2001.
Obra “Abaporu” da artista brasileira Tarsila do Amaral (1928) – Imagem: BBC
A obra em destaque, “Diego y yo”, é um autorretrato alinhado à linguagem surrealista de Frida Kahlo. Nesta tela, a artista se retrata com o rosto de seu parceiro, o pintor Diego Rivera, estampado acima de seus olhos. A pintura foi feita para Florence Arquin, agente do circuito artístico, e seu marido enviada com a dedicatória: “Para Florence e Sam, com amor de Frida. México, junho de 1949”.
Sobre as diversas especulações acerca da relação conturbada entre a artista e seu marido, ela escreve:
“Provavelmente algumas pessoas esperam de mim um retrato muito pessoal, “feminino”, anedótico, divertido, cheio de reclamações … Talvez eles esperem ouvir de mim lamentos sobre ‘quanto alguém sofre’ morando com um homem como Diego. Mas eu não acredito que as margens de um rio sofram por deixar a água correr, ou que a terra sofra porque chove, ou o átomo sofre descarregando sua energia … para mim tudo tem uma compensação natural.Dentro do meu difícil e obscuro papel de aliado de um ser extraordinário, tenho a mesma recompensa que um ponto verde dentro de uma quantidade de vermelho: tenho a recompensa do “equilíbrio”.
Segundo o historiador da arte Luis-Martín Lozano, é com esse equilíbrio entre o fundo verde e o ponto vermelho que a artista compõe os elementos e a simbologia desta tela.
Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP.
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