Algumas casas de personalidades do circuito artístico são verdadeiros espaços de cultura e arte. Seja de artistas ou colecionadores, essas casas de artistas podem reunir artefatos notáveis para a construção do acervo nacional.
A Artsoul reuniu 5 nomes de instituições que um dia foram residência permanente de grandes artistas brasileiros. Contamos um pouco da história de cada local e da influência de cada personalidade na cultura nacional.
O Museu Casa de Portinari foi inaugurado na década de 70 em homenagem ao pintor brasileiro Cândido Portinari. A casa na qual o artista viveu sua infância e juventude é hoje palco para apresentação de suas primeiras obras de arte, experimentações, coleções, objetos pessoais e pinturas murais.
Sediado em Brodowski, pequena cidade no interior de São Paulo, o Museu Casa foi tombado pelo Iphan e Condephaat, órgãos públicos responsáveis pela legislação de tudo que é considerado parte do patrimônio cultural e é o ponto cultural mais reconhecido da cidade.
O pintor tem suas origens simples no interior e, na adolescência, saiu para explorar sua carreira de pintor. É hoje reconhecido como um dos artistas mais importantes da arte brasileira. Por ter representado com tanta intensidade cenas do trabalho rural, é praticamente de sua autoria a noção visual que se tem do Brasil rural da época.
Com obras fixas em acervos como o Mestiço na Pinacoteca de São Paulo e Os Retirantes, no MASP, o artista é referência na pintura e o museu é, então, o lugar de memória de seus primeiros passos, o estilo de vida da família e a sede de pinturas murais representantes da cultura local.
Endereço e visitação – Casas de Artista – Portinari
Praça Candido Portinari, 298 Brodowski/SP
Acessar o site para informações de agendamento
Mário de Andrade era um assíduo colecionador. Montou sua casa expondo seus artigos de literatura e arte plástica pelos espaços internos. O que fez com que fosse inerente à vontade de sua família e fãs a preservação dos artefatos após sua morte em 1945.
A residência permaneceu intacta até 1968, quando o acervo foi fragmentado por se tornar posse do Governo do Estado de São Paulo, da Universidade de São Paulo e do Instituto de Estudos Brasileiros.
Mas, não antes de ser filmado exatamente como deixado pelo intelectual: um pequeno filme chamado Felicidade Lopeschávica, com imagens captadas por Thomas Farkas, mostra detalhes dos pertences deixados por Mário de Andrade.
Em 2015, reabriu com outra proposta. No ano do 70º aniversário de morte, o espaço se estabelece como o museu Casa Mário de Andrade que, apesar de não estar com os pertences originais, realiza mostras que transmitem a personalidade multifacetada de Mário de Andrade.
Suas influências na literatura, na música, nas artes plásticas, no cinema e no teatro são celebradas em curadorias periódicas, tendo “A Morada do Coração Perdido” como exposição fixa com objetos de vivência de Andrade.
O grande autor de Macunaíma atuou também na esfera pública: foi Diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo em 1930, o equivalente ao cargo que o Secretário de Cultura exerce hoje, mas numa época de formação das políticas públicas culturais no Brasil.
Endereço e visitação – Casas de artistas – Mário de Andrade
Rua Lopes Chaves, 546 – Barra Funda
Quarta a sábado, das 12h às 16h
Mais informações: site oficial
A casa e ateliê do artista Lasar Segall é hoje um espaço de atividades culturais e educativas que promove, além de exposições de documentações da vida e obra do artista, cursos de gravura, fotografia e literatura.
O pintor Lasar Segall nasceu na Lituânia. Fez diversas viagens pela Europa e pelo Brasil. Por aqui, foi aclamado pela crítica ao encabeçar uma linguagem moderna de representação na pintura e escultura. Pintou diferentes cenários, sendo mais notáveis as obras de 1916, quando volta à sua cidade natal e percebe as consequências destrutivas da guerra.
A partir daí, nos próximos anos, suas obras passam a ter um tom mais sombrio e triste. Dedicou grande parte da carreira a olhar para as minorias e representar suas feridas.
Sendo amigo dos modernistas da época, incluindo Mário de Andrade, que o acolhe quando chega ao Brasil, o artista estabelece residência fixa em São Paulo, na Rua Afonso Celso ao lado de seu ateliê, espaços que hoje são direcionados à celebração do seu trabalho, após um intenso esforço de documentação e preservação realizado por sua esposa, Jenny Klabin, e filhos.
Endereço e visitação – Casas de artistas – Lasar Segall
Rua Berta 111 | São Paulo | SP
Aberto de quarta a segunda – das 11h00 às 19h00
Entrada gratuita
Mais informações: site oficial
A Casa foi o lugar em que viveu o poeta Guilherme de Almeida entre os anos 1946 e 1969. O acervo do local é composto pela vasta coleção de obras de arte do poeta, que inclui peças de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Victor Brecheret. A sua biblioteca também compõe o acervo junto com o mobiliário e os decorativos do artista.
O espaço tem uma programação intensa voltada para cursos, palestras, recitais e conta com um espaço complementar para o Centro de Estudos de Tradução Literária, em homenagem ao grande êxito da sua carreira como tradutor de poesia.
Junto aos modernistas de sua época, realizou a produção da Semana de Arte Moderna e estabeleceu as bases da crítica de cinema no Brasil com sua coluna no Estado de São Paulo entre 1920 e 1940.
Foi considerado O Príncipe dos Poetas Brasileiros, escolhido pelo Correio da Manhã em 1959 e, ainda, eleito pela Academia Brasileira e Paulista de Letras.
Foi o mais popular poeta da época e hoje, a Casa segue preservando sua influência e promovendo a continuidade do seu trabalho na literatura.
Endereço e visitação – Casas de artistas – Guilherme de Almeida
Museu: R. Macapá, 187 – Perdizes | CEP 01251-080 | São Paulo
Anexo: R. Cardoso de Almeida, 1943 | CEP 01251-001 | São Paulo
Visitação: Quarta a sábado, das 12h às 16h
Mais informações: site oficial
Karl Heinz Hansen, artista alemão, se radicou no Brasil e passou a ser conhecido como Hansen Bahia. Se dedicando à gravura e à ilustração, Hansen fortalece sua carreira no Brasil e se torna reconhecido mundialmente. Chegou no país na década de 50 e participou das três primeiras Bienais de São Paulo.
Em 1976, cria um espaço cultural que busca formar novos artistas. Após sua morte, em 1978, a instituição Fundação Hansen se divide em três espaços:
O Museu Galeria com exposições de sua produção artística, o Espaço Cultural com atividades voltadas à formação, e a Casa-Museu com objetos pessoais e objetos de trabalho. São cerca de 18 mil peças.
Seu maquinário foi trazido da Europa para prensa de gravuras e era usado com destreza e muito conhecimento pelo artista. Na ilustração, é reconhecido pela publicação de Flor de São Miguel com textos de Jorge Amado e Vinicius de Morais.
Endereço e visitação – Casas de artistas – Hansen Bahia
Rua Treze de Maio, 13 – Centro – Cachoeira, BA
De terça a sexta-feira: das 9h às 17h. Sábado: das 9h às 13h.
Mais informações: Site
Como um bônus para essa seleção, trouxemos também a indicação da Casa de Vidro, que não foi construída por artistas visuais, mas por profissionais ligados à arquitetura e à cultura brasileira, sendo um prédio reconhecido como Patrimônio Cultural.
A residência do casal Lina Bo e Pietro Maria Bardi foi elaborada pela arquiteta. O casal, sendo influente no setor artístico, recebia diversas visitas de personalidades da arte para debates e discussões sobre cultura.
Hoje, o espaço é sede do Instituto Bardi que promove ações de divulgação na área de arquitetura e urbanismo.
Endereço e visitação – Casas de Artistas – Instituto Bardi
Rua General Almério de Moura, 200 – Morumbi
Informações de visitação: site oficial
Victoria Louise é redatora da ArtSoul formada pela PUC-SP em Arte: História, Crítica e Curadoria e Gestão Cultural
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