Ao longo da pandemia, feiras do mundo todo se dedicaram às pressas a compensar a impossibilidade de realizar duas edições presenciais ao desenvolver projetos virtuais. Tornou-se comum em 2020 o formato de Viewing Room, as salas virtuais com obras de arte digitalizadas. Chegamos na reta final de 2021 e com a vacinação em massa as feiras passam a retomar suas edições em espaços físicos a todo vapor. A SP-Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo é a maior feira de arte da América Latina, e neste ano de retomada nos apresenta o formato híbrido, conciliando o virtual e o presencial.
O que esta edição da feira paulistana nos mostra, assim como ocorreu na ArtRio, é que o formato digital do mercado de arte veio para ficar. Não só uma ferramenta emergencial, os marketplaces e viewing rooms se configuram como um meio de ampliação da experiência dos consumidores e do alcance do público.
Neste ano a SP-Arte conta com 128 expositores: sendo 84 presenciais e 44 exclusivos no ambiente digital. No ambiente presencial, a feira se configura em um espaço mais enxuto, o galpão ARCA, localizado na Vila Leopoldina em São Paulo. Além disso, o galpão STATE, localizado ao lado do principal, conta com uma programação paralela de exposições e talks ao longo dos 5 dias de feira.
As galerias, museus, editoras e demais projetos que estão participando da feira no ambiente digital, possuem painéis no espaço da ARCA com QR Codes que direcionam o público a cada Viewing Room. Este recurso é amplamente explorado na feira para ampliar o acesso a obras e conteúdos, tanto das galerias presentes no galpão como das que só participam no virtual.
Os pesquisadores Frederico Coelho e Camila Bechelany gravaram audioguias de até 10 minutos falando sobre temas importantes da arte, do modernismo ao contemporâneo, citando obras presentes, e assim fornecendo mais recursos a quem visita a feira e se interessa em saber mais.
Na entrada do galpão STATE encontramos uma exposição que complementa as reflexões da feira sobre tecnologia na arte. Com curadoria de Ana Carolina Ralston, curadora e pesquisadora independente, a exposição Arte e tecnologia: uma revolução em curso reúne obras de 21 artistas.
É interessante que a curadoria tenha pensado o impacto das tecnologias na arte não apenas em um recorte recente – ou futurista -, mas analisando aspectos de décadas passadas.
“Nela, estão reunidas obras de artistas nacionais e internacionais e de diferentes gerações que, em comum, desdobram suas pesquisas utilizando a tecnologia como processo intrínseco de suas criações. A mostra visa discutir o lugar da tecnologia em cada produção, seja ela gerada e nascida na esfera digital ou materializada pelos recursos e reflexões que a própria nos possibilita“, afirma a curadora.
Apresenta-se assim uma visão mais ampla de tecnologias e seus usos na arte. Uma das produções mais antigas, por exemplo, é o conjunto de obras de Hudnilson Jr. em um painel, datadas entre 1980 e 1983. As imagens apresentam experimentos do artista com xerox, fotografia e colagem, montando uma interlocução de linguagens e ferramentas diferentes.
A continuação do espaço da STATE nos leva a um imenso galpão, onde está a exposição AR JAM, concebida pela Brazil Immersive Fashion Week com a plataforma Hic et Nunc e o State Innovation Center.
Espalhados pelas colunas ao longo do galpão industrial, estão os QR codes de cada obra. Os trabalhos foram produzidos ao longo de 6 dias, e cada artista ou coletivo buscou suas soluções para o tempo.
O tema da exposição é “Ficções globais de ecossistemas e sustentabilidade”, sob comando de três grandes nomes da arte digital brasileira: Érica Storer, Gabriel Massan e Ynã Kabe Rodríguez. A proposta curatorial busca refletir, através das obras em realidade aumentada, a criação de ficções na arte que possam nos fornecer uma resposta ao sistema hegemônico e colonial que já possui suas próprias ficções estabelecidas.
A imensidão do espaço vazio se torna o cenário ideal para a experiência que ocorre nos celulares com obras monumentais, imersivas, com apelo visual e sonoro.
Com a finalidade de fomentar o debate acerca das condições atuais de artistas que trabalham com o digital, a consultora do mercado de arte Vivian Gandelsman montou uma programação de talks que ocorreu nesta quinta-feira (21). Foram convidados artistas, pesquisadores, curadores e colecionadores que trabalham e vivem da arte digital no Brasil, para falar sobre suas experiências profissionais perpassando temas como NFT’s e sustentabilidade digital.
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Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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