No ano do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, as produções intelectuais esquentam ao relembrar e revisar a repercussão do evento para a história da arte brasileira. Entre seminários, publicações de livros, palestras, exposições e cursos, acontece nesta quinta-feira (17) o lançamento do filme animado “Tarsilinha”, produção da Pinguim Content e direção de Catunda e Kiko Mistrorigo direcionada ao público infantil.
O enredo conta as aventuras de Tarsilinha (voz de Alice Barion), uma criança de 8 anos de idade que se lança em busca das memórias da mãe, roubadas pela Lagarta, personagem dublada por Marisa Orth.
O mundo fantástico pelo qual a protagonista e seus amigos viajam é uma excelente reprodução dos ambientes criados pela pintora brasileira mais conhecida nacional e internacionalmente, Tarsila do Amaral. É a primeira animação feita a partir das pinturas do universo tarsiliano que ganham vida ao serem transformadas em cenários, como o famoso “Abaporu” que, no longa, é uma grande montanha que abriga a toca da lagarta.
O caráter brasileiro e a cultura popular são constantemente referenciados nos personagens, nos alimentos, na vegetação e na música.
A tela A Cuca, datada de 1924, faz parte da fase hoje conhecida como Pau Brasil (1924-1928) que retrata cenas urbanas e rurais do país. A série de obras deste período resulta da inspiração que a viagem para Minas Gerais despertou em Tarsila, sobre a qual diz encontrar as cores que adorava quando criança. “Ensinaram-me depois que [as cores] eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante…”.
A maior parte dos cenários do longa-metragem são baseados nesta fase e os personagens que interagem ativamente com a protagonista saem diretamente d’A Cuca.
No mesmo ano, a tela A Feira I foi pintada trazendo alimentos com os quais qualquer brasileiro se identificaria: banana, abacaxi, laranja e cacau. Os elementos reaparecem na cena em que caminham Tarsilinha, o Saci e o Sapo, de forma que é inevitável que a paisagem nos toque afetivamente.
Cantada por Zeca Baleiro em colaboração com Ná Ozzetti, a música principal destaca a coragem de Tarsilinha em enfrentar os obstáculos que se apresentam. A trilha foi composta por Zezinho Mutarelli e Zeca Baleiro e é mais um elemento de reforço à identidade brasileira.
“A canção fala da travessia da personagem Tarsilinha por um mundo desconhecido, algo como uma realidade paralela, cheia de perigos e ameaças. Como em toda fábula, essa viagem é uma história de descoberta e autoconhecimento. A música é um baião bem brasileiro com uma pequena alusão à obra de Villa-Lobos”, comenta Zeca Baleiro.
Direcionada para as crianças, o filme também é um deleite para os adultos e principalmente todos que conhecem a potência poética das obras de Tarsila do Amaral.
TARSILINHA
Data de estreia 17 de março de 2022
Elenco Com Alice Barion, Marisa Orth, Marcelo Tas e outros.
Direção Célia Catunda e Kiko Mistrorigo.
Duração 93 minutos
Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP.
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