Quem assiste Saltburn não sai ileso. Não é um filme que combina com sessão da tarde e família reunida. O suspense foi lançado em novembro de 2023 na Amazon Prime Video, sob direção de Emeral Fennell, que interpreta Camilla Parker Bowles na mundialmente famosa The Crown. O longa conta com nomes de peso como Rosamund Pike, Berry Keoghan e Jacob Elordi – que está em cartaz com o filme Priscilla (2023) – em uma narrativa de reviravoltas, nudez e manipulação.
Oliver Quick, bolsista tímido e socialmente isolado, se vê deslumbrado pelo mundo de Felix Catton, charmoso estudante popular e de família abastada na Universidade de Oxford. No primeiro momento, ambos se conhecem espontaneamente no trajeto da faculdade e Oliver passa a fazer parte do grupo mas sofre rejeições de alguns, como Farleigh, por ter uma origem pobre e família viciada em drogas. A amizade avança e Felix convida Oliver para passar o verão em Saltburn, a mansão na zona rural inglesa, cenário em se desdobra todo o enredo a partir dali. Ao longo da convivência na mansão, passamos a conhecer os personagens e acompanhar uma série de eventos impressionantes.
Em determinada cena, uma coleção rara de peças de design é mencionada em um diálogo de Oliver com o patriarca Sr James, que se surpreende com o conhecimento do estudante sobre Bernard Palissy (1510-1590), ceramista francês huguenot. Algum tempo depois, as peças se tornam centrais em um dos conflitos da família.
Mas qual a relevância deste ceramista na história? Bernard Palissy foi um ceramista e cientista francês do século XVI, momento histórico de intensa descoberta de novas espécies de animais e plantas. Ficou conhecido pelos moldes rústicos em travessas ovais com reprodução em relevos de pequenos animais e plantas, em uma variedade de esmaltes. A técnica usava esmalte chumbo e colorido com óxidos metálicos, o que permitia cobrir o relevo sem desbotá-lo.
Com técnica e pesquisa baseadas na observação direta, Palissy inova a maneira de trabalhar a cerâmica, e se torna uma referência ainda em seu tempo. Deu palestras sobre ciências naturais no norte da França e em Paris, que foram publicadas como os Discursos Admiráveis em 1580. Em seu gabinete de curiosidades, reunia as espécies de plantas e animais que observava e que, mais tarde, serviriam de molde para o trato com a argila. De acordo com publicação do Met Museum, “suas composições às vezes são lidas como parábolas: a astuta serpente ataca criaturas inocentes ou, na tradição do simbolismo dos túmulos, cobras e sapos podem representar a corruptibilidade da carne humana, enquanto as conchas representam a vida eterna. Esses contos em argila ganham vida de maneira brilhante através de cores deslumbrantes”.
Seu trabalho foi admirado pelas camadas mais altas da sociedade, chamando atenção de Anne de Montmorency, notável mecenas da arte francesa, que colecionou peças rústicas de Palissy na década de 1550.Catherine de’ Medici encomendou uma sala inteira de criaturas de barro para o palácio das Tulherias, e embora a construção não tenha sido finalizada, muitas peças sobreviveram e os fornos que Palissy usou para o trabalho foram encontrados em escavações recentes do Louvre.
A popularidade do artista levou à formação de uma escola de seguidores que mantiveram suas técnicas e métodos de observação à frente, mantendo a atitude escultural de Palissy, que adotava aspectos decorativos e divertidos às peças.
Em 1992, o ceramista ganhou um museu com seu nome na região da França em que nasceu, a vila de Saint-Avit. O museu Bernard Palissy é dedicado à história do homenageado e mantém uma das maiores coleções públicas de cerâmica contemporânea da França, com mais de 450 peças.
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