Guerreiro do Divino Amor, Supercomplexo Metropolitano Expandido, Planetário do Ibirapuera, 2018. (Divulgação / Foto: Rafael Frazão).
Quais os principais prêmios de arte em nosso país? Conheça um pouco mais sobre alguns dos prêmios relevantes e descubra a importância deles para o incentivo à cultura visual.
Além de contribuírem com a trajetória de artistas visuais, os Prêmios de arte são conhecidos por fomentarem ações educativas, a circulação de exposições e o mercado da arte contemporânea brasileira dentro do país. Também ampliam a visibilidade internacional da produção realizada por artistas nascidos ou atuantes no Brasil. Os prêmios não apenas apoiam e trazem visibilidade à produção de novos artistas, mas também representam o reconhecimento de trajetórias de décadas dedicadas às diferentes linguagens das artes, à crítica e curadoria. Entre as dezenas de prêmios relevantes no país, conheça um pouco mais sobre três prêmios voltados às artes visuais, reconhecidos em nosso país: Marcantonio Vilaça, PIPA e ABCA. Cada um dos prêmios tem identidades e características diferentes, contribuindo de modos distintos para a difusão da cultura produzida no Brasil. Saiba um pouco sobre a história destes prêmios e entenda porque além de serem buscados pelos artistas devido ao reconhecimento de seus trabalhos, também são valorizados pelo mercado de arte.
Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça
O Prêmio Marcantonio Vilaça é considerado entre as premiações brasileiras com maior tradição no campo das artes visuais. Em 2019, chegou à sua 7 edição, contando com a inscrição de 600 artistas, em todo território nacional. A cada edição 5 artistas são contemplados com uma bolsa e tem sua produção acompanhada por um crítico de arte ou curador. O Prêmio Indústria Nacional, também é reconhecido por promover, em suas edições, exposições itinerantes e ações educativas que já percorreram as diversas regiões do Brasil.
A última edição contou com exposição aberta ao público no MAB/FAAP, premiando os artistas visuais: Aline Motta (RJ), Dora Longo Bahia (SP), Ismael Monticelli (RS), Dalton Paula (DF) e Rodrigo Bueno (SP). Além disso, o prêmio conta com uma exposição de obras selecionadas de todos os artistas indicados, aberta ao público. Tradicionalmente, também apresenta a produção de um artista homenageado. Em 2019, trouxe ao público a trajetória da artista Anna Bella Geiger, além de um setor destinado à obras que dialogam com o desenvolvimento da indústria e tecnologia. As premiações possuem um papel importante para o reconhecimento, divulgação e circulação da arte contemporânea brasileira.
Prêmio PIPA
Criado em 2010, o Prêmio PIPA tem entre seus objetivos o estimulo à produção contemporânea e a divulgação do trabalho de novos artistas, buscando representar uma alternativa relevante para o terceiro setor e para as artes visuais no país. O artista visual Guerreiro do Divino Amor foi o vencedor da última edição, com Videoinstalações e projetos em torno das Superficções. Sua pesquisa lida com o universo da ficção científica abordando forças “ocultas”, presentes no imaginário coletivo, que contribuem ou interferem na construção da realidade e do território. Ao lado do artista vencedor, entre os finalistas da premiação, estavam outros artistas que têm ocupado destaque na cena da arte contemporânea: Berna Reale (PA), Jaime Lauriano (SP) e Cabelo (ES). Luiz Camillo Osório é um dos idealizadores do Prêmio PIPA e foi convidado a assumir a curadoria da instituição em 2016. A premiação PIPA prevê, além do valor destinado a cada finalista, de 30.000 reais, o mesmo valor adicional ao vencedor, que garante o desenvolvimento de uma exposição aberta ao público.
Além da premiação final, o Prêmio PIPA também é reconhecido por movimentar o cenário da arte contemporânea, dando visibilidade à produção de artistas de origem brasileira, atuantes dentro ou fora do país. Em sua última edição contou com a indicação de 67 artistas. Entre as indicadas ao prêmio em 2019, estava a artista brasileira, radicada em Portugal Marilá Dardot. A artista já foi indicada ao Prêmio nos anos 2010, 2011 e 2015. Sua trajetória é marcada pela relação com a literatura e, em seus projetos mais recentes, por uma aproximação de relatos não-ficcionais. Em propostas e projetos como: O Livro de areia (1999), A educação pela pedra (2012), No silêncio nunca há silêncio (2013), propõe diálogos com obras literárias de autores como Borges, João Cabral de Mello Netto e a elaboração de sentidos, entre palavra e visualidade. Em 2017, a artista passa a aproximar-se de outras narrativas e seu interesse volta-se à relatos de teor jornalístico. Segundo a artista, neste momento de seu percurso, em contato com obras como “Los ninõs perdidos”, suas investigações se aproximam das narrativas não-ficcionais. Suas pesquisas passam a estar interessadas “no que está se passando no mundo atual e em como essas histórias são contadas”. Atualmente Marilá Dardot vive e trabalha entre Lisboa e Brasil.
Prêmios da ABCA
Entre os prêmios de abrangência nacional de maior relevância, destacam-se os da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), particularmente por seu caráter histórico. As premiações anuais da ABCA contam com dez categorias. Além de artistas nas categorias: linguagem contemporânea e trajetória, premia críticos, instituições, exposições, personalidades e veículos da mídia especializada que contribuíram para a cultura brasileira, no ano anterior. Em 2019, foram premiadas as artistas Cláudia Andujar, por sua trajetória e Sandra Cinto, na categoria linguagem contemporânea.
Para compreender um pouco sobre a importância histórica dos prêmios para o percurso dos artistas – e, sob a perspectiva dos colecionadores de arte, para a valorização de seus acervos – podemos recorrer à trajetória do artista contemporâneo Tunga (1952 – 2016), que foi o ganhador do Prêmio Mario Pedrosa, em 1991.
No Brasil, a produção de Tunga pode ser conhecida em uma das galerias do Instituto Inhotim. Entre as obras que fazem parte do acervo de Inhotim está a obra premiada em 1991, Preliminares do Palíndromo Incesto, que parte de uma série de pinturas em papel chinês, um desdobramento das investigações de Tunga, fazendo uso de materiais como: cobre, carvão, ferro. Pinturas de grandes dimensões, que posteriormente se transformam, na trajetória do artista, em esculturas exibidas nos espaços de museus e galerias de arte. O artista plástico recorreu a áreas do conhecimento como: Filosofia, Biologia, Psicanálise, Literatura, entre outras. Foi premiado com obra, que segundo textos críticos da época, tratava da capacidade humana de criar metáforas e objetos, imaginando o que contém e o que é contido. Arquiteto de formação, é considerado o primeiro artista contemporâneo brasileiro a ter obras expostas no icônico Museu do Louvre.
Antes de receber um dos prêmios da ABCA – considerados pela crítica especializada entre os mais relevantes no Brasil, em razão da abrangência nacional e significado histórico – foi vencedor do Prêmio Museo de Arte Moderno de Caracas (1985), Prêmio da Trienal Latinoamericana, em Buenos Aires (1985), sendo premiado, em seguida, pelo estado do Rio Grande do Sul e Distrito Federal. A trajetória de Tunga, é um dos exemplos, que permite compreender a relevância dos prêmios para a carreira dos Artistas Plásticos. A ABCA, que tem sua origem vinculada ao pensamento modernista em artes, foi criada em 1948 em Paris, no período do pós-guerra, sob incentivo da AICA. Sua fundação contou com a participação de intelectuais deste período: Sérgio Milliet, Mário Barata, Antonio Bento e Mário Pedrosa. A Associação Internacional dos Críticos de Arte, também fomentou a criação de mais de 70 associações semelhantes pelo mundo. A AICA conta atualmente com mais de 5.000 mil membros em 63 países. Sediada em Paris, sua origem, se relaciona às ideias de cooperação e solidariedade entre os povos e à criação da UNESCO.
Anna Luísa Veliago Costa é Mestre pelo Programa de Pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, é graduada em História pela mesma universidade, com intercâmbio acadêmico na Universidade Sorbonne-Paris IV.
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