
O ano de 2025 trouxe novidades importantes para as artes visuais no Brasil. A inauguração do novo edifício do MASP, a Bienal de São Paulo e exposições com foco em questões ambientais e ancestralidade marcaram a programação das principais instituições do país.
Em 2026, o circuito segue movimentado. Museus e centros culturais já anunciaram agendas robustas: retrospectivas de artistas latino-americanos, mostras sobre identidade e memória, além de celebrações especiais. A seguir, reunimos os principais destaques já confirmados para você acompanhar as artes visuais brasileiras.

Em mais uma edição de sua série temática iniciada em 2016, o Museu de Arte de São Paulo dedica 2026 às Histórias Latino-Americanas. Após abordar sexualidades, feminismos, afro-atlântico, dança e ecologia, a instituição apresenta no ano de 2026 mais de dez exposições que investigam a produção do continente por diferentes recortes históricos e temáticos.
Entre os destaques da programação, a exposição de Santiago Yahuarcani, artista indígena do povo Uitoto reconhecido na Bienal de Veneza 2024, acontece em abril. Utilizando llanchama, tela extraída de casca de árvore amazônica e pigmentos naturais, Yahuarcani retrata a cosmologia de seu povo e episódios do ciclo da borracha.
Além disso, em maio, Damián Ortega, mexicano que representa um dos principais nomes de sua geração, recebe sua primeira individual em museu paulistano, reunindo três décadas de produção. O artista ganhou notabilidade por desmontar objetos cotidianos como carros inteiros e suspender suas peças no espaço. Seu trabalho percorre fotografia, vídeo, escultura e instalação, investigando as conexões entre consumo, trabalho e vida social.
Em setembro, a exposição coletiva “Histórias Latino-Americanas” ocupará os cinco andares do edifício Pietro Maria Bardi. Organizada em cinco núcleos, a exposição abordará diferentes momentos da formação da identidade latino-americana, do período colonial às manifestações contemporâneas.
Encerrando o calendário, a retrospectiva de Jesús Soto chega em novembro, duas décadas após sua morte. Pilar da arte cinética mundial, o artista participou de cinco edições da Bienal de São Paulo, transformando a relação entre espectador e obra. Seus “Penetráveis” — instalações de tubos suspensos nas quais o visitante se integra à obra — são o grande destaque. A mostra reunirá peças de coleções internacionais, incluindo obras históricas raramente exibidas no Brasil.

Após comemorar 120 anos em 2025, a Pinacoteca de São Paulo apresenta sua programação de 2026 baseada nos conceitos de arte, vitalidade e diversidade. Com direção artística de Jochen Volz e curadoria-chefe de Ana Maria Maia, a instituição oferece 16 exposições distribuídas entre os edifícios Pina Luz, Estação e Contemporânea, investigando relações entre arte, corpo, memória e cultura.
Em março, o camaronês Pascale Marthine Tayou recebe sua primeira individual no Brasil com “Nocaute”, ocupando sete salas da Pina Luz. O artista transita entre escultura, pintura e instalação para abordar identidade e trocas culturais. No mesmo mês, “Macunaíma é Duwid” inaugura na Pina Estação com curadoria de Gustavo Caboco, reinterpretando o personagem modernista sob perspectiva indígena. Já em maio, “Para Crianças” estreia na Pina Contemporânea como primeira grande exposição do museu dedicada ao público infantil, desenvolvida em parceria com a Haus der Kunst de Munique.
No segundo semestre, setembro traz a retrospectiva de Ismael Nery ocupando o primeiro andar da Pina Luz. Já em outubro, “Embalar o mundo: Nam June Paik e diálogos Brasil-Coreia” chega à Pina Contemporânea. Pioneiro da videoarte, Nam June Paik tem 200 obras apresentadas, complementadas por instalações que dialogam com tecnologia e memória. Fechando a programação, a Pina Estação recebe em novembro Sara Ramo, artista hispano-brasileira cujas instalações reorganizam objetos cotidianos em novas composições.
Em 18 de outubro, o Instituto Inhotim celebra 20 anos de abertura ao público. A instituição prepara uma programação especial ao longo do ano que reúne oito inaugurações. O maior centro de arte contemporânea a céu aberto da América Latina apresentará obras de artistas consagrados e novas gerações, além de retomadas históricas que marcaram a trajetória da instituição.
Em fevereiro, a artista portuguesa Grada Kilomba apresenta “O Barco – Ato III”, encerrando o ciclo sobre diáspora e memória com a vídeo-projeção inédita “Opera to a Black Venus”. No mesmo dia, Paulo Nazareth inaugura “Esconjuro – Verão”, última etapa de uma série que evoca espiritualidade e ancestralidade afro-brasileira. O mês de abril traz três inaugurações simultâneas: a mostra panorâmica de Dalton Paula, um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, com obras sobre cura e identidades negras; “Contraplano”, escultura monumental de Lais Myrrha que oferece novo mirante ao público; e a instalação de Davi de Jesus do Nascimento na Galeria Nascente, inspirada nas margens do Rio São Francisco.
Entre as mostras de maior destaque, “Inhotim 20 Anos” abre em setembro e traça o panorama histórico da instituição. No mês de outubro, a Galeria Cildo Meireles reabre ampliada e abriga permanentemente “Missão/Missões (Como construir catedrais)”, reunindo o conjunto mais relevante do artista em exibição no país. O mês marca ainda o retorno de “The Murder of Crows”, instalação sonora da dupla canadense Janet Cardiff e George Bures Miller que conquistou o público pela experiência imersiva com 98 alto-falantes.

O Instituto Moreira Salles, referência nacional em fotografia, apresenta sua programação para 2026 distribuída entre São Paulo e Poços de Caldas. Na sede paulista, “Desocultação” investiga a obra do luso-brasileiro Fernando Lemos, conhecido por explorar as relações entre fotografia e desenho. “Reimaginar a Amazônia” contrapõe fotografias de Albert Frisch de 1860 — primeiras imagens registradas da Amazônia — a obras de artistas indígenas contemporâneos. O instituto exibe ainda o arquivo Zumví, acervo fundamental do movimento negro brasileiro, e retrospectiva de Ara Güler, fotógrafo turco célebre por documentar Istambul no século XX.
Em Poços de Caldas, o IMS recebe “Stefania Bril: desobediência pelo afeto” entre janeiro e março, exposição que ressalta o olhar singular da fotógrafa polonesa (1922-1992) radicada no Brasil após a Segunda Guerra. Bril teve papel fundamental na difusão da fotografia no país através de seu trabalho pedagógico. A unidade apresenta ainda obras de Liti Guerreiro, artista plástica do sul de Minas que produz pinturas, esculturas e textos a partir de materiais coletados na natureza local, em práticas nômades pela região.
No Rio de Janeiro, a sede do IMS na Gávea permanece temporariamente fechada para obras de restauro e reforma. Enquanto isso, o instituto mantém sua presença na cidade através de parcerias: “Luiz Braga – Arquipélago imaginário” fica em cartaz no Paço Imperial até março, reunindo 250 fotografias que cobrem 50 anos de carreira do fotógrafo paraense, consolidando assim a programação de 2026 nas três cidades onde o IMS atua.

O Itaú Cultural apresenta sua programação para 2026 com ocupações e exposições que destacam personalidades da cultura nacional. O espaço em São Paulo abre em março com a Ocupação Ana Botafogo, dedicada à trajetória da bailarina na dança clássica brasileira. No mês seguinte, “Mestre Didi – Invenção e Ancestralidade na Arte Afro-Brasileira” inaugura as exposições. A mostra aborda a obra do artista e sacerdote (1917-2013) na intersecção entre espiritualidade e política. Já em maio, a Ocupação Ruth Rocha celebra a escritora essencial na renovação da literatura infanto-juvenil com mais de 200 títulos publicados. Em julho, a Ocupação Helena Ignez destaca a atriz e diretora reconhecida por sua inventividade artística.
No segundo semestre, agosto marca a abertura da exposição de Solange Pessoa, artista contemporânea multidisciplinar cuja obra investiga relações entre natureza e humanidade a partir da memória e espiritualidade. Para encerrar a programação, a Ocupação Anísio Teixeira abre em setembro com realização conjunta do Itaú Cultural e Itaú Social. A ocupação explora a atuação do educador (1900-1971) na transformação da educação pública brasileira durante as décadas de 1950 e 1960, fechando o calendário voltado para figuras fundamentais da cultura e do pensamento nacional.

A Fundação Bienal de São Paulo anunciou a participação brasileira na 61ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia, que acontece entre maio e novembro de 2026. Com curadoria de Diane Lima, o Pavilhão do Brasil apresenta “Comigo ninguém pode”, reunindo Rosana Paulino e Adriana Varejão em diálogo inédito. O projeto articula as trajetórias de ambas por meio de reflexões sobre história colonial, memória e transformação. A curadoria toma a planta homônima como metáfora de proteção e toxicidade. A mostra coincide com a conclusão das obras de recuperação do pavilhão brasileiro, iniciadas em 2024 pela Fundação Bienal em articulação com os ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, contemplando restauro arquitetônico, acessibilidade e infraestrutura para exposições de grande porte.
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