Todos os anos, a lista Power100 da Artreview apresenta quais foram as personalidades mais relevantes para o cenário artístico mundial, abrangendo artistas, colecionadores, curadores ou diretores institucionais. O levantamento é realizado pela revista internacional de arte contemporânea ArtReview, que analisa e classifica a movimentação do mercado de arte global, considerando suas mudanças ao longo de 12 meses. Funciona como uma tentativa de mapear o campo e mostrar ao público quem está moldando, em diferentes instâncias, o contexto da produção cultural no mundo.
Para chegar a essa classificação, a revista precisa avaliar questões que dizem respeito à infraestrutura e ao exercício dos espaços de arte, como “por que determinada obra está sendo produzida?” ou “quem decide o que é visto e como isso acontece?”. Nesse sentido, a Power 100 não apenas expõe o protagonismo de alguns agentes na área, mas também aponta para as tendências da atualidade, em termos de pautas, técnicas, curadorias e gestão museológica.
Neste ano, quem ocupa o primeiro lugar da lista é a fotógrafa e ativista Nan Goldin (1953, Washington, DC). Seu trabalho é marcado por uma série de questões pessoais que influenciaram sua trajetória na fotografia, como o envolvimento com a cena queer dos Estados Unidos após a morte de sua irmã mais velha, ainda na adolescência. Dentre as décadas de 1970 e 1990, a artista fotografou a comunidade drag queen explorando questões de gênero e poder em uma produção intimista.
Sua posição de destaque na Power 100 está ligada, ainda, à uma atuação mais recente: a luta contra a crise dos opióides no país, que tem levado milhares de pessoas à morte. Em um documentário biográfico lançado em 2023 e indicado ao Oscar, Goldin denuncia a família Sackler, fabricante de medicamentos responsáveis pela epidemia de opioides, conhecida no circuito da arte por financiar diversos museus.
Em seguida, ocupando o segundo lugar do ranking, está uma das pioneiras da arte pós-internet, Hito Steyerl (1961, Munique). Com trabalhos que investigam as relações entre tecnologia, cultura digital, capital financeiro e diferentes conflitos, a artista apresenta uma produção de obras políticas, alinhada a seus posicionamentos críticos. Recentemente, Steyerl demonstrou esta coerência ao comprar de volta obras que haviam sido vendidas para a colecionadora Julia Stoschek, cuja empresa familiar ignorou sua cumplicidade histórica com o regime nazista. Em 2017, Hito Steyerl ocupou o primeiro lugar da Power 100 e hoje, seis anos depois, aparece entre o topo da lista, mantendo sua importância no cenário contemporâneo.
Em terceiro lugar, está Rirkrit Tiravanija (1961, Buenos Aires). Nascido na Argentina e criado na Etiópia e no Canadá, o artista possui uma produção tão diversificada quanto sua trajetória pessoal. Com obras pautadas na estética relacional, isto é, em produções cujo foco não é o objeto em si, mas a relação que ele estabelece com o público, Tiravanija desenvolve projetos pautados na coletividade, como a realização de uma cozinha comunitária ou mesas de pingue-pongue. Em 2022, ele ocupava o 86° lugar da Power 100 e, em apenas um ano, com sua participação em importantes exposições pelo mundo, teve uma grande projeção.
Dentre os brasileiros mencionados na lista, o primeiro colocado é Adriano Pedrosa, diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 15° lugar, ele se destaca não somente pelo trabalho desenvolvido na capital paulista, com exposições importantes como “Histórias Indígenas”, inaugurada em outubro, mas também pela curadoria que Pedrosa apresentará na próxima Bienal de Veneza. Intitulada “Foreigners Everywhere” [estrangeiros em todo lugar], a exposição abordará a questão dos indivíduos imigrantes, expatriados, exilados e refugiados. Por todos estes trabalhos, o diretor recebeu, em 2023, o Prêmio Audrey Irmas de Excelência Curatorial.
Além de Adriano Pedrosa, dos 100 nomes indicados pela revista, outros dois são de profissionais do Brasil – ou melhor, outros quatro, já que o 61° lugar é ocupado pelo trio de galeristas e codiretores Felipe Dmab, Pedro Mendes e Matthew Wood, da Mendes Wood DM. Se a galeria já desempenhava um papel relevante nos circuitos de São Paulo, Bruxelas e Nova York, agora ela se estende, ainda, até Paris, onde os sócios inauguraram uma sede em outubro deste ano. Além da abertura, a Mendes Wood desenvolveu também outros projetos importantes ao longo de 2023, como o início de uma residência artística no norte de Nova York e a realização de exposições na Holanda e na Itália.
Pela primeira vez na Power 100 da Artreview, Raphael Fonseca aparece em 88° lugar. Curador de arte moderna e contemporânea latino-americana no Denver Art Museum desde 2021, é reconhecido por produzir mostras que destacam o sul global como o futuro das artes. Este ano, foi curador da 22ª Bienal Sesc_Videobrasil, na qual trabalhou com 60 artistas e coletivos, e integrou a equipe curatorial da 14° edição da Bienal do Mercosul, que acontecerá em 2024.
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