Fora da caixa, programa que expõe obras não mostradas com frequência, de acervos públicos ou privados. Vista da exposição O Cru do Mundo, de Ivens Machado, curadoria de Kiki Mazzucchelli. Crédito foto: divulgação
A vibrante cena artística de São Paulo vai além de museus, centros culturais e galerias. Na última década, surgiram espaços, que não se encaixam em nenhuma das categorias tradicionais. As exposições são pensadas com foco no artista e processos artísticos. Por serem espaços independentes, têm abertura para oferecerem a oportunidade de experiências criativas mais livres para os artistas e curadores, recebendo também residências e grupos de pesquisa. Selecionamos três, com histórias e propostas diversas e que retratam esse movimento de acolhimento de diferentes processos e manifestações artísticas na cidade.
De volta a São Paulo depois trabalhar com arte em Nova York, Ricardo Kugelmas transformou uma casa no Morumbi, propriedade de sua família, em lar e espaço de projetos artísticos. A casa de arquitetura modernista, projeto de Gian Carlo Gasperini, estava fechada há 10 anos. “Olhei para São Paulo e vi, de um lado, muitos imóveis subutilizados, de outro, artistas querendo espaços para realizar seus projetos. Tanta coisa que não acontecia por falta de articulação”, relembra. Assim, em 2016, nascia o Auroras. Cinco exposições acontecem por ano na área social da casa, enquanto Ricardo mora no andar superior. “Por acaso, tive o privilégio de ter essa casa. Decidi mostrar que exposições podem acontecer em qualquer lugar: em casas, em ateliês, na rua”, diz.
A proposta curatorial é misturar artistas brasileiros a internacionais e artistas consagrados a jovens, criando diálogos entre diferentes nacionalidades e gerações. A arquitetura e a atmosfera intimista, muitas vezes com o próprio Ricardo recebendo afetuosamente os visitantes, produzem uma experiência impactante para o público. “É um projeto radical. No Brasil, estamos sempre subindo o muro, reforçando portões. Eu tenho orgulho de estar fazendo o contrário, abrindo a porta da minha casa, onde eu moro, com as minhas coisas, para o público geral, para estudantes, para quem quiser”, diz. Cada exposição traz alguma obra à venda, cuja renda permite manter a enxuta estrutura em funcionamento. Este é um dos três espaços alternativos de arte em São Paulo.
Auroras
Horário: Sábado, das 11h às 18h. Nos outros dias, com agendamento prévio
Endereço: Avenida São Valério, 426, Jardim Everest, São Paulo
Contato: info@auroras.art.br
Site: auroras.art.br
Em 1946, a comunidade judaica do Bom Retiro fundou uma associação sem fins lucrativos para homenagear as vítimas do nazismo e criar um espaço de consciência política e social. Em 1953, a Casa do Povo, projeto do arquiteto modernista Ernest Carvalho Mange, foi inaugurada. Desde então, suas salas receberam escola, teatro, biblioteca, reuniões, clubes, shows, cursos e outras atividades culturais. Na última década, um novo projeto curatorial reforçou a Casa do Povo como espaço de experimentação artística. “A Casa do Povo é um monumento vivo. Um lugar que homenageia as pessoas que morreram na Segunda Guerra Mundial, mas não por meio de um memorial histórico.
É um lugar vazio, que tem que ser preenchido por meio de ações”, explica Benjamin Seroussi, diretor. Sem programação fixa, acolhe projetos, grupos e iniciativas diversas. Antigo e muito utilizado, o prédio apresentas sinais de degradação. “Mesmo nesse estado um tanto precário, a Casa do Povo pode ajudar muitos projetos a serem potencializados. Até por essa característica de ser um espaço nunca acabado, sempre em construção. Não é uma ruína do passado, é uma ruína do futuro”, continua Seroussi. Cursos e grupos de estudos são atividades regulares da Casa do Povo. Há também obras comissionadas, em que a Casa do Povo convida artistas para desenvolverem trabalhos inéditos, adaptando sua estrutura. Independente de convite, projetos e propostas podem ser submetidos a avaliação. Atividades abertas ao público acontecem diariamente, a programação pode ser conferida no site. Mais um dos espaços alternativos de arte em São Paulo.
Casa do Povo
Horário: Terça a sábado, das 14h às 19h
Endereço: Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo
Contato: info@casadopovo.org.br
Site: casadopovo.org.br
“Uma ruína em um dos prédios mais icônicos de São Paulo.” Assim Fernanda Brenner descreve como estava o espaço de 3.500 m2 no Copan, depois de 20 anos fechado, quando decidiu fundar ali o Pivô, em 2012. “Num esforço coletivo, devolvemos esse espaço ao uso público, na forma de um centro cultural dedicado a artes visuais, que atende, sobretudo, a comunidade artística”, conta Fernanda. O Pivô promove exposições, projetos comissionados, workshops e residências artísticas.
Toda a programação é gratuita e aberta ao público. “Não é só uma sala de exposições, as exposições são a conclusão de longo percurso. O Pivô é um espaço onde a arte é feita e vivida em todas as suas etapas, da ideia ao encontro com o público na exposição”, explica a fundadora. O projeto curatorial valoriza experimentação e relações entre artistas de diferentes nacionalidades e gerações. “É um modelo pouco conhecido no Brasil. Não temos fins lucrativos, nem vendemos obras de arte. Precisamos de resiliência para continuar lutando para que esse espaço exista”, afirma Fernanda. O Pivô se mantem via leis de incentivo a cultura, aluguel do espaço para eventos e o anual leilão de parede, com obras de artistas que participaram do programa ou tem alguma relação com o espaço.
Pivô
Horário: Terça a sábado, das 13h às 19h
Endereço: Avenida Ipiranga, 200, Edifício Copan, loja 54, Centro, São Paulo
Contato: contato@pivo.org.br
Site: pivo.org.br
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