Ana Carolina Ralston é jornalista e curadora independente. Assinou a curadoria da Mostra Museu: Arte da Quarentena, exposição virtual que inclui exibições no espaço público da cidade de São Paulo. Nesta entrevista, Ana Carolina Ralston conta sobre a seleção de obras de mais de 40 nacionalidades diferente e a parceria com The Covid Art Museum.
Artsoul: Conte sobre a ideia da Mostra, como foi a elaboração desse projeto?
Carol Ralston: Mostra Museu é um projeto idealizado pela Chiara Battistoni (Amarello Projetos Integrados). Ele possui 2 vertentes: a virtual, no site que criamos e no Instagram, e a física, que abrange exibições nos espaços públicos. Primeiro abrimos as inscrições para o mundo inteiro, onde tivemos inscrições de artistas de cerca de 40 países que enviaram obras de arte que eles produziram durante o período da quarentena. Fizemos uma seleção na qual grande parte foi colocada no site. Essa é uma das partes interessantes do online, ele pode ir muito além de um território por não ter essa limitação do espaço físico, pode se expandir para todos os lados.
Colocamos muito material bacana no portal e fizemos uma seleção de 200 peças para expor em mobiliários urbanos espalhados pela cidade de São Paulo, como trens, metrôs, relógios digitais e várias áreas da cidade. A partir desses mobiliários, as pessoas verão a obra de arte ao invés de ver uma propaganda ou algo relacionado ao consumo que normalmente estão nesses locais. Ela vê uma obra de arte de um artista que ela talvez não conheça e acessam a partir de um QR Code um depoimento dele contando como foi o processo criativo e o processo de isolamento social, junto a uma playlist de músicas relacionadas àquela obra. A produção foi dividida em sementes que são os artistas que nasceram durante a quarentena e os mais consagrados com obras que foram produzidas neste período. Tudo muito focado nesse lugar de isolamento social que estamos todos vivendo.
A gente brinca que a arte salva mas a ideia é que ela salve mesmo. Estamos isolados e acabamos produzindo muita coisa, de artistas que se dizem artistas e ganham a vida como artistas ou aqueles que não se consideram artistas, mas na verdade também estão produzindo obras criativas. Por isso, não nos limitamos a artistas consagrados, escolhemos pessoas criativas de vários segmentos que se inscreveram
Artsoul: Como se construiu a parceria na curadoria da mostra?
Carol Ralston: Como curador adjunto do projeto está o The Covid Art Musem que é um museu virtual que nasceu no primeiro dia do período de isolamento. É um trio de designers e artistas gráficos espanhóis que começaram essa coleta de obras de arte feitas durante a quarentena.
Para a mostra, tivemos as obras das inscrições somadas a um mergulho no recorte do acervo deles que já possuíam obras de muitos países e produções interessantes. Já tínhamos uma correspondência com o Museu, mas foi com a Amarello Projetos Integrados, a produtora, que decidimos ser essa a hora de colocar o projeto em pé. Para o Covid Art Museum, primeiro “museu” digital da pandemia, essa está sendo a primeira exposição física deles.
Artsoul: A Mostra pretende ir para outros espaços além de São Paulo?
Carol Ralston: Temos a vontade de ir para outros estados e para outros países também. Nossa ideia é começar por São Paulo e depois articular todos os trâmites legais para levar para outros lugares.
Artsoul: Sobre a curadoria, qual foi o eixo principal que te fez selecionar esses trabalhos?
Carol Ralston: O recorte curatorial foi justamente pensar que estamos todos juntos e a ideia era unir essas produções mostrando que não importa se você está na Arábia Saudita, na China ou no Japão, a sensação e os sentimentos que você tem quando você está isolado e o processo criativo são muito parecidos. Tudo gira em torno dos sentimentos de medo, de angústia, de euforia, de alegria, todos eles controversos que estão ali vivendo ao mesmo tempo dentro da gente. Selecionamos as obras que tivessem uma linguagem mais parecida e que você conseguisse entender em poucos segundos, porque muitas vezes quem vai ver está só de passagem por aquele ponto.
Artsoul: Essa foi a sua primeira experiência com um projeto de curadoria à distância?
Carol Ralston: Eu sou uma pessoa que acredita muito na força do digital. Sempre foi um modo de trabalhar. Eu já venho fazendo um programa chamado Pílulas de Arte e sempre busquei fazer muitas coisas digitais, então desde o primeiro dia da quarentena e até um pouco antes eu já tinha feito exposições digitais. Essa, porém, é a primeira que faço algo digital que se estende para o espaço público. Mas a Mostra Museu é desafiadora por envolve a complexidade do espaço público. Infelizmente, estamos há bastante tempo nesse lockdown. Um lado interessante é que as pessoas já estão conseguindo se mobilizar bem para realizar as coisas mesmo em encontros apenas virtuais. Foi uma experiência muito interessante, foi legal ver que é possível e que a gente não pode parar.
Qual o sentimento que fica depois dessa Mostra?
Carol Ralston: Sabemos que o momento é muito difícil em termos de saúde pública, mas ao mesmo tempo, a cultura e a arte servem para que as pessoas consigam extravasar e pensar em outras coisas para poder sobreviver a um isolamento social. É uma forma de estimular as pessoas a criarem e a pegar esse tempo de sofrimento e tentar transformar em algo que também seja prazeroso para a saúde física e mental.
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Serviço
Mostra Museu: Arte da Quarentena
Período: 20.04 a dezembro de 2021
Disponível no site Mostra Museu e nos mobiliários urbanos nas ruas e metrôs da cidade de São Paulo
Curadoria Artes Visuais: Ana Carolina Ralston
Co–curadoria Artes Visuais: The Covid Art Museum
Curadoria Musical: Pedro Henrique França
Idealização e Realização: Amarello Projetos Integrados
Entrevista concedida por telefone em abril de 2021
Victoria Louise é redatora da ArtSoul formada pela PUC-SP em Arte: História, Crítica e Curadoria e Gestão Cultural
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