Um dos maiores nomes da fotografia moderna brasileira, German Lorca nos deixou neste sábado(8), aos 98 anos. Relembre a trajetória do fotógrafo paulistano.
Nascido no bairro do Brás na capital paulista em 1922, iniciou sua carreira como contador aos 18 anos, formado pelo Liceu Acadêmico de São Paulo. Foi em 1945, aos 23 anos, que passou a ter contato com fotografia ao registrar eventos familiares de modo amador.
Sua trajetória na fotografia pode sintetizar a caminhada de muitos que se envolveram com essa linguagem no Brasil do século passado, especialmente em São Paulo. Foi nessa metrópole que Lorca conheceu o Foto Cine Clube Bandeirante, associação de aficionados por fotografia que se formalizou no final da década de 1930. Assim como outros integrantes do clube, o contador conciliou sua profissão de formação com a paixão por fotografia por anos.
Com sua chegada à associação no final da década de 1940, passa a conviver com outros grandes nomes da fotografia moderna brasileira, como Geraldo de Barros e Thomaz Farkas. Os encontros, eventos e excursões realizadas pelo foto clube permitiam aos seus integrantes que explorassem diversas vertentes da fotografia e refletissem suas experiências. Os foto clubes brasileiros em meados do século passado foram essenciais para a inserção da fotografia nas artes visuais, esta que antes era associada apenas a uma função documental.
Em 1952, Lorca abriu seu primeiro estúdio de fotografia e passou a se dedicar integralmente à atividade. Dois anos depois foi escolhido como fotógrafo oficial das comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo. Antes disso o fotógrafo já possuía uma expressiva produção que revelava uma cidade em plena expansão industrial. Marcantes padrões geométricos compõem a maioria das fotografias de Lorca nessa época, sendo que muitas vezes essas composições eram sensivelmente cortadas por figuras humanas.
Ao longo de mais de sete décadas em atividade, Lorca experimentou muitas facetas da fotografia, revelando composições geométricas, recortes conceituais, sobreposições, composições arquitetônicas, cenas cotidianas, entre outras. Outro lado importante de sua produção, porém menos conhecido, é a fotografia publicitária.
Premiado ao longo de toda sua trajetória, tanto pela carreira nas artes visuais como na publicidade, seus trabalhos já foram expostos em museus nacionais e internacionais, e hoje compõem acervos de museus como MAM, MASP, MAC, MAB FAAP e Pinacoteca em São Paulo.
O MoMA de Nova York exibe atualmente a exposição “Fotoclubismo: Fotografia Modernista Brasileira, 1946-1964”, apresentando cerca de 140 fotografias do acervo do museu. Trata-se da maior exposição com trabalhos do FCCB no exterior, e Lorca foi um dos únicos integrantes do foto clube a ver essa realização ser anunciada, falecendo no dia de sua abertura. German Lorca fez parte de uma geração de impacto definitivo para a fotografia moderna nacional, presenciando e vivendo essas transformações que reverberam até hoje.
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Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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Todas as imagens desta matéria e outros trabalhos de German Lorca podem ser encontradas no site do fotógrafo.
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Foto Cine Clube Bandeirante