Está chegando ao fim a espera para conhecer o novo prédio do MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. O projeto do prédio Pietro Maria Bardi, anunciado em 2021, aumenta em até 66% os espaços expositivos da instituição. Serão 14 andares que abrangem salas multiuso, restaurante, café, salas de aula, loja, laboratório de conservação, depósitos e docas para carga e descarga de obras de arte. Haverá ainda um túnel de 40 metros para interligar as áreas de acolhimento dos edifícios e permitir a circulação de visitantes e de itens do acervo, promovendo uma conexão entre os dois edifícios. A conclusão está prevista para o segundo semestre.
Uma das novidades é a ampliação do Masp Escola que terá um andar inteiro exclusivo para atividades pedagógicas com um novo eixo temático. Por dentro da exposição sintonizará a agenda de aulas com as exposições em cartaz, propondo uma experiência imersiva e coletiva sobre as obras, contextos históricos e artísticos das exposições. Esse roteiro já incluirá as cinco exposições que inauguram o prédio.
Chamado de Cinco ensaios sobre o MASP, este conjunto marca esse novo momento da instituição apresentando diferentes abordagens sobre o acervo e a trajetória do museu. As mostras “Isaac Julien: Lina Bo Bardi — um maravilhoso emaranhado”, “Geometrias”, “Artes da África”, “Renoir” e “Histórias do MASP” ocupam os novos andares expositivos reforçando a presença do MASP no cenário cultural. Confira os detalhes!
No segundo andar, o Masp apresentará uma videoinstalação inédita no Brasil sobre o legado de Lina Bo Bardi (1914–1992), com as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Ambas interpretam os escritos de Lina, dando voz às suas ideias sobre o potencial social e cultural da arte e da arquitetura, especialmente a partir de sua experiência com a cultura afro-brasileira na Bahia.
A videoinstalação imersiva é composta por nove projeções simultâneas que constroem uma narrativa não linear a partir da sobreposição de imagens de arquivo, registros arquitetônicos e performances encenadas. A curadoria é de Adriano Pedrosa, diretor artístico e assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial.
Desde os anos 1980, Julien dirige e produz obras que refletem sobre a exibição e o significado da cultura material não europeia em museus de arte ocidentais, unificando dança, fotografia, música, teatro, pintura e escultura. Seu trabalho revisita figuras históricas, oferecendo novas perspectivas e subvertendo narrativas dominantes. Inspirado na visão de Bo Bardi sobre o tempo, o título da obra apresentada deriva de uma de suas reflexões: “Mas o tempo linear é uma invenção do Ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo nem fim”.
Esta mostra no terceiro andar é a primeira que busca estabelecer uma leitura crítica e propositiva da coleção de arte africana do museu. Serão 40 obras do acervo do museu, principalmente do século 20, oriundas da África ocidental. São obras de 17 culturas da região, entre estatuetas e máscaras, que convida os artistas biarritzzz e Cipriano a dialogarem com os legados e as transformações das culturas africanas no Brasil
A curadoria de Amanda Carneiro, curadora, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP, selecionou peças confeccionadas em madeira, principalmente aquelas ligadas ao corpo ou à sua representação. O conjunto abrange estatuetas de Exu e Xangô, objetos cotidianos, bonecas, tambores, mobiliário e máscaras usadas em festividades, rituais de iniciação, celebração ou funerais.
“São produções muito diversas que trazem essa noção de ‘artes’ no plural para o título da exposição. Existem cerca de 500 culturas diferentes em toda a África, portanto, o que apresentamos é um recorte específico sobre a maneira como o MASP colecionou essas peças ao longo dos anos. Não se trata de uma mostra sobre uma identidade única continental”, afirma Leandro Muniz.
No quarto andar, a mostra “Geometrias” reúne artistas de diferentes períodos, origens e tendências. São artistas que despontaram na época das vanguardas construtivas como Lygia Clark, Amilcar de Castro, Alfredo Volpi, Geraldo de Barros, Judith Lauand e Rubem Valentim, em diálogo com os contemporâneos que empregam diferentes materialidades para criar, como Sarah Morris, Kiluanji Kia Henda, Daiara Tukano, Lydia Okumura, entre outros.
Com a curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, e Matheus de Andrade, assistente curatorial, a exposição propõe um olhar tanto para a geometria tradicional, primordialmente orientada por princípios matemáticos, quanto para abordagens mais experimentais. Esses conceitos se desdobram em obras de artistas nacionais e internacionais que exploram diversos suportes e técnicas, como pinturas, esculturas, fotografias e tecidos. O diálogo entre as diferentes tendências reflete a incorporação da arte geométrica ao acervo do museu.
“O acervo do MASP é constituído sobretudo por obras figurativas, mas, aos poucos, a coleção de trabalhos abstrato-geométricos vem sendo ampliada. A organização de Geometrias mobilizou artistas e colecionadores, que generosamente doaram um número expressivo de obras as quais não apenas preenchem lacunas, mas também atualizam o acervo”, afirma Regina Teixeira de Barros.
A mostra destaca os movimentos concretista e neoconcretista, reunindo obras de Judith Lauand (Pontal, SP, 1922–2022), Willys de Castro (Uberlândia, MG, 1926 – São Paulo, SP, 1988), Hércules Barsotti (São Paulo, SP, 1914–2010), Lygia Clark (Belo Horizonte, MG, 1920–1988), Amilcar de Castro (Paraisópolis, MG, 1920 – Belo Horizonte, MG, 2002), entre outros. Além disso, são apresentados artistas que exploraram a geometria sob outras perspectivas, como Rubem Valentim (Salvador, BA, 1922–1991), que desenvolveu um sistema de símbolos afro-brasileiros; e Daiara Tukano (São Paulo, SP, 1982), que cria grafismos ligados às cosmogonias do povo Yepá-Mahsã.
O uso de padronagens têxteis surge em trabalhos como os de Cláudia Alarcón (Povo Wichí, Río Pilcomayo, Argentina, 1989) e Laura Lima (Governador Valadares, MG, 1971), que também estabelece conexões com a moda. Já outros artistas empregam a geometria para abordar questões políticas contemporâneas, como Sarah Morris (Londres, Reino Unido, 1967) e Kiluanji Kia Henda (Luanda, Angola, 1979).
A expografia propõe uma metalinguagem, a partir de paredes com “dobras” que exploram as possibilidades das formas e um caminho não linear que ressalta a proposta de uma apresentação que transcende barreiras geográficas e temporais, colocando em contato uma multiplicidade de vozes e contextos.
No quinto andar, o público vai encontrar um conjunto de obras que não é exposto desde 2002, com 12 pinturas e uma escultura que abrange toda a carreira do artista francês. As obras serão apresentadas em suportes individuais feitos de chapas metálicas reflexivas, com um design que inclui um recorte curvo em uma das pontas. Concebidas pela arquiteta Juliana Godoy, essas estruturas foram criadas buscando um diálogo com os cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi e com a história do MASP.
Entre as pinturas está a famosa obra Rosa e azul – As meninas Cahen d’Anvers (1881), que retrata Elisabeth e Alice, filhas do banqueiro Louis Cahen d’Anvers (1837–1922), uma família pertencente à comunidade judaica do século XIX. Alice viveu até os 89 anos e morreu em Nice, em 1965. Já Elisabeth teve um destino trágico. Durante a exposição de obras do MASP realizada na Fondation Pierre Gianadda, em 1987, na Suíça, seu sobrinho Jean de Monbrison escreveu ao museu relatando que Elisabeth fora enviada para Auschwitz durante a Segunda Guerra e morreu a caminho do campo de concentração, aos 69 anos.
O período, conhecido como “obra tardia” de Renoir — influenciado por sua viagem à Itália, em 1881, que possibilitou o contato com mestres renascentistas, como Rafael e Ticiano —, é marcado por pinturas em tons pastéis, sem contornos firmes e sobreposição de cores puras. Essas características podem ser observadas em Banhista enxugando a perna direita (c. 1910) e Banhista enxugando o braço direito (grande nu sentado) (1912). O tema das banhistas, abordado por Renoir desde o início de sua carreira — como na tela A banhista e o cão griffon – Lise à beira do Sena (1870) — tornou-se central em sua produção até sua morte em 1917.
Além das pinturas, a curadoria de Fernando Oliva inclui Vênus vitoriosa (Venus Victrix) (1916), escultura produzida no período em que o artista sofria de artrite reumatoide severa. Por conta das limitações impostas pela doença, a obra foi criada com o auxílio do jovem artista Richard Guino (1890–1973). O trabalho dialoga com a pintura O julgamento de Páris, feita por Renoir alguns anos antes, inspirada no episódio “Pomo da discórdia”, da mitologia grega.
As obras de Renoir foram adquiridas pelo museu durante o chamado período das grandes aquisições quando, entre o final da década de 1940 e início dos anos 1950, Pietro Maria Bardi (1900–1990), diretor-fundador do MASP, incorporou ao acervo trabalhos de artistas do cânone europeu, em sua maioria italianos e franceses, o que resultou no mais importante acervo de arte europeia do hemisfério sul. A coleção de Renoir constitui o maior número de trabalhos de um único artista dentre as pinturas europeias do acervo da instituição.
A exposição retrospectiva que dá nome ao conjunto de cinco exposições relembra relembra a trajetória da instituição, apresentando obras do acervo em diálogo com fotografias e documentos históricos. Em formato de linha do tempo, a mostra coloca em diálogo 74 obras do acervo do MASP com uma documentação raramente exibida do Centro de Pesquisa do museu, abrangendo fotografias, documentos, cartazes, livros, catálogos, jornais e revistas. Essa seleção apresenta a memória da instituição de maneira didática e panorâmica, abordando temas como a criação do museu, a formação de seu acervo, sua primeira sede na 7 de abril, a mudança para a Avenida Paulista, além de exposições e eventos que fizeram história nas últimas décadas. A curadoria é de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora e de acervo, MASP, Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP.
A exposição Cinco ensaios sobre o MASP — Histórias do MASP se desdobra pela sala expositiva e se inicia com um preâmbulo sobre o encontro de Assis Chateaubriand, empresário que dirigia os principais canais de comunicação da época, com o crítico e marchand Pietro Maria Bardi, primeiro diretor artístico do MASP, e Lina Bo Bardi, arquiteta que projetou tanto o edifício do museu como importantes montagens expográficas.
O casal Bardi viajou ao Brasil em 1946 para a realização da exposição Arte italiana antiga, no Rio de Janeiro, mostra que reuniu muitas obras as quais, posteriormente, passaram a compor o acervo do MASP. Um exemplo é Virgem com o Menino e São João Batista criança (1490–1500), de Sandro Botticelli e ateliê, adquirido nesse momento embrionário da coleção do museu, além de pinturas incorporadas logo nos primeiros anos, como As cinco moças de Guaratinguetá (1930), de Di Cavalcanti, e Madame Cézanne em vermelho (1888–90), de Paul Cézanne.
A fundação do MASP, em 1947, na sede dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, e os anos seguintes são relembrados com o primeiro cartaz do museu, desenhado por Roberto Sambonet, vistas das primeiras exposições e fotos do desfile da Dior, realizado no próprio espaço expositivo em 1951. A mostra também aborda o período das “grandes aquisições”, entre 1947 e 1958, quando o MASP incorporou a maior parte das obras que o tornaram o museu com a principal coleção de arte europeia do hemisfério sul. Nos anos 1950, o museu realizou exposições na Europa e nos Estados Unidos, internacionalizando a coleção e divulgando o trabalho realizado no Brasil.
Para além do acervo, a mostra aborda a crescente importância do museu para a arquitetura, a paisagem urbana e a vida política na cidade de São Paulo. Imagens mostram a construção do icônico edifício na Avenida Paulista desde a sua inauguração, com a presença da Rainha Elizabeth II, em 1968. Depois de mais de 20 anos em concreto aparente, os pórticos do edifício recebem a marcante cor vermelha. Em 1992, as manifestações pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello no vão livre reforçam a dimensão pública desse espaço para a cidade. No mesmo período, o projeto Som do meio-dia atraiu grande público para assistir aos shows de Olodum e Daniela Mercury.
A história mais recente do MASP, após a aposentadoria de Bardi, em 1992, até os dias atuais, também é retratada na exposição, como a incorporação de obras para tornar o acervo mais representativo e diverso. A partir de 2014, o museu recebeu doações que aumentaram a presença de artistas mulheres, incluindo obras de Guerrilla Girls, Maria Auxiliadora, Adriana Varejão e Anna Maria Maiolino, entre outras, além de comodatos como o da coleção Landmann, uma das mais representativas de arte pré-colombiana do Brasil.
“Uma mostra como essa é um enorme desafio… abordar a história de um museu de quase 80 anos que tem uma coleção viva, buscando responder às questões da arte dos diferentes tempos que atravessou. Estamos apresentando momentos-chave da trajetória do MASP de uma forma bastante visual”, comenta Laura Cosendey.
O Museu também anunciou que o vão livre, que também estava em reforma, vai ser inaugurado em 10 de abril com uma instalação interativa inédita no Brasil do artista Iván Argote. “O Outro, Eu e os Outros” propõe uma reflexão sobre o papel do indivíduo no coletivo e no espaço público. Reformuladas para se adequar ao vão livre do MASP, as gangorras têm 15 metros de comprimento, cinco metros de largura e dois de altura. A obra poderá ser vista por quem passar pela Avenida Paulista a qualquer momento, e acessada pelos visitantes todos os dias, das 10h às 22h.
O vão livre de 74 metros de extensão foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi como uma praça cívica, um local de encontro e convivência destinado a manifestações culturais diversas, como dança, teatro, música e circo, além de exposições interativas e didáticas. O trabalho de Iván Argote (Bogotá, Colômbia, 1983) reforça a vocação do espaço ao propor uma instalação interativa composta por duas plataformas móveis dispostas nas extremidades do vão, transformando-o em um campo de experimentação sensorial e social.
A obra funciona como uma grande gangorra que se inclina conforme o deslocamento dos visitantes, refletindo as dinâmicas de equilíbrio e movimento coletivo. Quando uma única pessoa se move, o equilíbrio se mantém quase inalterado; no entanto, a ação coletiva pode redefinir completamente a inclinação da plataforma, que pende para um lado ou para o outro. A situação mais complexa ocorre quando os participantes distribuem seu peso de maneira equilibrada, alcançando um estado de estabilidade.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP, a instalação propõe novas leituras sobre espaços públicos, intervenções urbanas e estruturas de poder. As gangorras de Iván Argote desafiam monumentos — símbolos da memória coletiva e da história — ao transformar o espaço público em um playground aberto: um local de encontro que incentiva a convivência, o diálogo e a interação dentro da comunidade.
SERVIÇO
Cinco ensaios sobre o MASP
Inauguração do Edifício Pietro Maria Bardi
28 de março, das 10h às 20h30
MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Edifício Pietro Maria Bardi
Av. Paulista, 1510 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)