O escritório de arte Sala Rússia reúne trabalhos de Anna Bella Geiger e Rossini Perez em exposição na ArtSoul Gravuras 2020. Conversamos com Fernando Ferreira de Araújo para conhecer mais a proposta da sala e as relações entre obras dos dois artistas.
Fernando Ferreira de Araújo é artista e colecionador, com uma trajetória construída no mundo da arte ao longo de três décadas. Produção artística e colecionismo sempre andaram lado a lado em uma carreira projetada nacional e internacionalmente. Hoje, Fernando dedica a maior parte do seu tempo ao seu escritório de arte Sala Rússia, localizado no Jardim Europa em São Paulo.
Artistas
Anna Bella Geiger nasceu no Rio de Janeiro em 1933, onde vive e trabalha até hoje. Reconhecida como um dos mais relevantes nomes da arte contemporânea brasileira, a produção de Geiger é marcada pelo movimento e transição da artista em busca por novos caminhos através de sua prática. A artista sempre foi movida por uma insatisfação com as linguagens tradicionais e as lógicas da própria arte. Essa característica condicionou Geiger a uma intensa experimentação em diversas linguagens.
A gravura é uma linguagem presente em diversas fases da carreira da artista, tanto como linguagem independente ou elemento incorporado a trabalhos multimídia.
Rossini Quintas Perez nasceu no município de Macaíba, Rio Grande do Norte e 1931. Aos 9 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, mesma cidade onde veio a falecer no início deste ano. Estudou e lecionou em diversos países ao longo de carreira, passando por Holanda, França e Senegal. Até retornar ao Brasil, lecionando no Centro de Criatividade da Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, em 1978, e no Ateliê de Gravura do MAM/RJ, entre 1983 e 1986.
Rossini possui uma extensa pesquisa na abstração, de composições geométricas a mais orgânicas. Fernando comenta sobre a produção de Perez: “Uma obra que carrega várias camadas da sua própria existência, marcada por limitações e incertezas de saúde que constantemente se superava”.
Diálogos
Alunos de Fayga Ostrower, pioneira da gravura abstrata no Brasil, Geiger e Perez compõem um duo de referência para a gravura brasileira. Ambos possuem uma consistente produção abstrata, tendo participado da 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, no ano de 1953 em Petrópolis, Rio de Janeiro.
Para além da formação em comum, os artistas reconhecidos pela experimentação na gravura e outras mídias, estabelecem diálogos constantes com seus trabalhos. Fernando aponta a visceralidade como um ponto de encontro para o duo:
“Rossini tem um trabalho de texturas e relevos que encontramos muito na obra de Anna Bella, em especial as da série “Abstrato informal” e “Visceral” (como classificou Mário Pedrosa). O abstrato informal, de Geiger, tem mais essa leitura de hetero-retrato que vejo nas obras de Rossini, enquanto que a Visceral de Geiger já traz uma interpretação do momento da sua criação.”
A Sala Rússia prioriza em seu acervo obras em papel e, além de Geiger e Perez, conta com obras de “[…] Fayga das décadas de 1950 até 1970, do Sérvulo das décadas de 1960 e 1970, xilos do Samico, Piza, Antonio Dias das décadas de 1960 e 1970 e as gravuras em metal de Burle Marx da década de 1980, entre outros”.
Reunindo produções do duo a partir de um amplo recorte temporal, com gravuras de Rossini Perez das décadas de 1950 e 1960, e de Geiger das décadas de 1960 a 1990, esta sala pensada para a ArtSoul Gravuras 2020 nos traz excelentes exemplos de diversas fases dos artistas em suas experimentações na gravura.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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