Mônica e George Kornis possuem uma das principais coleções de gravura no Brasil, contando com os maiores nomes da história da gravura no país.
Mônica Almeida Kornis é socióloga e doutora na Escola de Comunicações e Artes / ECA – USP, pesquisadora/professora aposentada do CPDOC/FGV-RJ.
George Edward M. Kornis, é economista e Professor Doutor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Nessa universidade foi Diretor do Departamento Cultural e depois curador de arte na Galeria Candido Portinari, que pertence à instituição. Foi professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage) e hoje é vice-presidente da AMEAV, associação de amigos que apoia essa importante escola de arte no Rio de Janeiro.
Para começar, poderiam nos contar um pouco do início de suas trajetórias como colecionadores?
O marco inicial da nossa coleção (Coleção Mônica e George Kornis) é o ano de 1975, ano no qual nos casamos (com 22 anos e 24 anos, respectivamente), embora alguns poucos trabalhos tenham sido adquiridos pouco tempo antes. Fomos estudar na Unicamp nesse ano, e começamos a frequentar museus e galerias de arte em São Paulo/ SP nos finais de semana. Começamos a fazer algumas poucas aquisições no Gabinete de Artes Gráficas, com Monica Filgueiras Almeida, e na Galeria Arte Global. Procuramos então ampliar a nossa base de informações, e vale mencionar que, nesse momento, a oferta de publicações em artes plásticas no Brasil era pequena e sofrível. Comprar e ler boas publicações foi tão importante que ousamos dizer que nossa coleção nasce e se desenvolve em conjunto com a nossa biblioteca.
Nessa perspectiva, o início de nossa trajetória como colecionadores de arte em papel foi ter sempre uma boa base de informações para orientar aquisições cuidadas e consistentes. Erros podem ter ocorrido, mas o nosso custo de aprendizado foi menor do que os ganhos de conhecimentos que estão na base da expansão da Coleção Monica e George Kornis nos seus mais de 45 anos de atividade.
Em qual momento a gravura se tornou protagonista da coleção? O que motivou essa preferência?
Nossa coleção orientou-se para obras em papel e de imediato a gravura se tornou o foco central. Percebemos a gravura como meio expressivo muito diversificado e com uma história que só no Ocidente datava do século XII. Percebeu-se que, no Brasil, a gravura foi uma prática artística muito tardia, porém muito diversificada, consistente e com reconhecimento internacional. As leituras foram fundamentais para que chegássemos a ter essa percepção.
A preferência pela gravura (e depois pelo desenho) também está vinculada à sua natureza essencialmente múltipla. Isso nos permitiu – e isso até hoje- adquirir trabalhos de alta qualidade a preços compatíveis com o nosso projeto de construir uma ampla visão panorâmica de gravura produzida no Brasil desde o início do século XX até o presente.
Essa opção não excluiu a aquisição de gravuras produzidas na Europa, nos EUA, na América Latina e mesmo no Japão, o que nos permitiu estabelecer algum contraponto com a produção brasileira no interior desse meio de expressão.
Como comparam o ato de colecionar especificamente gravuras em relação às outras linguagens artísticas? Existem desafios particulares dessa linguagem?
A gravura e o desenho são linguagens próximas. Algumas técnicas de gravura buscaram e buscam alguma aproximação com a expressão pictórica. Experiências gráficas exploram também possibilidades expressivas em terceira dimensão, o que nos leva a considerá-las interessantes. A presença da fotografia na produção gráfica já ocorre faz um bom tempo. Portanto, a nossa opção pela gravura não é excludente. A nossa coleção está interessada também nessas intersecções entre a linguagem gráfica e as demais linguagens visuais. E isso sempre envolve desafios pois, sendo a arte um método de produção de conhecimentos, não há como prescindir da curiosidade nem muito menos do risco.
Das técnicas de gravura e impressão, existe uma mais especial para vocês?
Todas as técnicas têm as suas características. Toda técnica tem seus limites e possibilidades. E é isso o que nos interessa. Boa gravura é o que importa.
Sempre.
Existe algum estilo ou corrente artística predominante na coleção?
A opção por uma visão panorâmica tal como a adotada pela nossa coleção exclui certamente escolhas que afirmem uma dominância. Existem critérios seletivos, mas eles são pautados pela representatividade, qualidade e consistência.
Vocês expuseram um recorte da coleção em diversas cidades brasileiras com a exposição “A Gravura Brasileira na Coleção de Mônica e George Kornis”.
Como pensam a circulação dessas obras reunidas até agora? Existem projetos de voltar a expor a coleção?
Com uma pequena parte da Coleção, a exposição “A Gravura Brasileira na Coleção Mônica e George Kornis” foi realizada com o apoio da Caixa Econômica Federal em cinco capitais brasileiras em meados dos anos 2000 e em vários centros culturais da própria CEF, a saber, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Curitiba e Brasília. Foi um desafio e tanto: a atuação da Artepadilla com equipe liderada por Roberto Padilla, somada à qualificação do designer Washington Lessa para edição de um catálogo substantivo bem como a atuação de Adriana Maciel e de Rubem Grilo se somaram aos nossos esforços pessoais nessa bem sucedida iniciativa.
Acreditamos que é sempre oportuno fazer circular uma coleção privada, pois ela torna possível o compartilhamento dessa experiência. Nesse sentido um apoio da Caixa Econômica Federal – que inaugurou posteriormente centros culturais no Nordeste – e de museus e centros culturais do país seria um desdobramento adequado de uma iniciativa exitosa.
Uma outra ideia é exibir o segmento internacional da coleção pois ele nunca foi exposto. E mais: essa exposição complementaria a “A Gravura Brasileira na Coleção Mônica e George Kornis” bem como ampliaria a base de informação sobre essa coleção que continua ativa, apesar de todas as dificuldades envolvidas nesse processo.
Para encerrar, o que podem dizer para quem está começando a adquirir e colecionar gravuras?
Acreditamos que o conhecimento é sempre um bom companheiro no desenvolvimento de uma coleção de arte. Esse conhecimento é crucial na definição do objeto de uma coleção, pois de outro modo ela pode se tornar apenas uma acumulação de objetos.
A persistência é um outro elemento importante, pois uma coleção é também uma questão de tempo.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
Gostou desse texto ? Leia também :