Os ateliês, das diferentes técnicas em gravura, muitas vezes proporcionam a ideia de uma pausa no cotidiano agitado da cidade. Fazem pensar sobre a importância não apenas do tempo, mas também do espaço em que se desenvolve a criação em arte. As muitas vozes e fragmentos da cidade, às vezes, ressurgem nos trabalhos dos artistas que constroem estes espaços, ou transitam por eles. A produção contemporânea em gravura, seja em ateliês independentes, ou ateliês de instituições, como museus, centros de cultura, pode sugerir também relações com a coletividade, ou momentos importantes de estar só, com os fazeres. Mesmo que o indício desse vínculo seja sutil, ou não seja imediatamente percebido. Alguns dos Ateliês na cidade de São Paulo que oferecem cursos e oficinas: Ateliê Matriz, Atelier Piratininga, Ateliê do Sesc Pompéia, Ateliê Lasar Segall.
O Piratininga foi criado em 1993, por um grupo de jovens artistas que desejavam dar continuidade à experiência de trabalho coletivo em gravura proporcionada por ateliês públicos como os do Museu Lasar Segall, MAC e ECA. Desde os anos 90, o grupo que integra o Atelier Piratininga tem se renovado.
Em 1999, passa a ter como sede um sobrado no Bairro da Vila Madalena. A partir deste momento, a estrutura de cursos se profissionaliza, e se intensificam as exposições e parcerias. Surgem também outros projetos, como o Programa de Residência, que possibilita a permanência de artistas visitantes, em um tempo de criação expandido. Seus cursos abrangem desde as técnicas mais conhecidas como xilogravura, até processos como os da fotogravura, serigrafia, e diferentes técnicas de gravuras em metal.
Segundo o próprio coletivo de artistas a proposta da casa é estabelecer um espaço de encontro e trabalho compartilhado, possibilitando a colaboração entre artistas que pesquisam gravura. É também um lugar reflexão sobre as diferentes técnicas, voltado à iniciantes, estudantes e demais interessados. Estas intenções são compartilhadas por outros Ateliês independentes, com papel relevante no cenário da gravura contemporânea. Na cidade de São Paulo destaca-se também o Ateliê Matriz.
O Ateliê Matriz , foi criado, por: Pedro Mendes (Papel Assinado), Teca Lecerda (Papel Assinado), Luis Mendes e Manoel S. Benevides (Laart), diante da vontade de trazer à contemporaneidade, um processo que conta com quatro séculos de elaboração. De modo a propor que a linguagem permaneça um espaço de experimentação, proposição, investigação. Entre os cursos desenvolvidos neste espaço, que propõem além da divulgação do conhecimento, espaços de troca, convienciam entre artistas e interessados: gravura em metal, ateliês livres e oficinas de água-tinta.
Lasar Segall
O Museu Lasar Segall desenvolve suas atividades na antiga residência e ateliê do artista, projetados nos anos 1930 pelo arquiteto modernista G. Warchawisky. Criado oficialmente em 1970, se afirma ao longo de sua história não apenas como um museu destinado à divulgação da obra de Lasar Segall, mas como um centro cultural, voltado à diversas linguagens artísticas e atividades interdisciplinares. Além de representar um importante espaço de formação para novos gravuristas.
Ainda nos anos 1950 o próprio artista já havia idealizado a criação de uma escola de arte. Porém, esta ideia é colocada em prática em 1976, através do programa de oficinais abertas oferecidas pelo Museu. A princípio, contemplavam linguagens como desenho, pintura, escultura, gravura, além de cursos teóricos em arte. No entanto, a partir de 1989, o Ateliê passa a centrar-se exclusivamente em cursos de Gravura.
Desde sua criação, o Ateliê de gravura do Museu Lasar Segall é pautado pelo objetivo de ser um espaço de livre criação, de caráter aberto e permanente. Passa a ser conhecido como um ateliê que acolhe, entre seus participantes, um público iniciante neste meio. Atualmente, oferece oficinas regulares em xilogravura, gravura em metal e litografia, além da orientação de projetos artísticos individuais.
Sesc Pompéia
O Ateliê de Gravura do Sesc Pompeia, tem como referência para seu projeto pedagógico um dos nomes mais relevantes da produção contemporânea nesta linguagem: o artista visual e professor Evandro Carlos Jardim. Sua atuação como professor, desde os anos 1970 na Escola de Belas Artes, FAAP e USP, constituiu a base de uma tradição de pensamento e ensino em gravura, que exerceu influência decisiva sobre artistas de diversas gerações.
Evandro Carlos Jardim é especialista nas técnicas de Gravura em metal. Ao longo de sua trajetória, elaborou sólida gramatica visual, neste campo. Traduzida não apenas no domínio técnico, mas também no sentido poético de sua produção, a reelaboração permanente de imagens, etc. Entre elas, paisagens da cidade de São Paulo, como o Pico do Jaraguá, representações de casas, elementos da natureza, ou objetos e figuras inesperadas no ambiente urbano, recorrentes em sua produção.
Ao assumir a área de gravura, nos cursos da oficina de criatividade, ele amplifica o alcance de sua intervenção como artista-professor. O convite partiu da própria Lina Bo Bardi, a arquiteta que transformou uma antiga fabrica desativada, em um dos equipamentos culturais mais dinâmicos da cidade de São Paulo.
O espaço das Oficinas de criatividade, abriga cursos livres em diversas linguagens. O projeto, que conta hoje com mais de 40 anos de atividade, buscou democratizar o acesso a técnicas artísticas (com ênfase em processos artesanais), criando um espaço plural de trocas entre professores e alunos. Os cursos nas diferentes técnicas de gravura em metal, conduzidos por Evandro Carlos Jardim, entre outros professore/as, estão entre os mais procurados pelo público. Destinam-se tanto a iniciantes nestas técnicas, quanto a gravuristas experientes, que encontram no ateliê um espaço de interlocução e desenvolvimento de seus projetos, em uma perspectiva de ensino que valoriza as poéticas de cada artista.
Anna Luísa Veliago Costa é Mestre pelo Programa de Pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, é graduada em História pela mesma universidade, com intercâmbio acadêmico na Universidade Sorbonne-Paris IV.
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