O nome da paulista foi selecionado graças à sua contribuição nos desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 22. Na edição anterior, a homenageada foi Maria Firmina dos Reis, escritora e educadora maranhense pioneira na literatura antiescravista no Brasil.
Ainda que Pagu a autora tivesse apenas 12 anos quando a manifestação artístico-cultural ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo, ela é um dos nomes lembrados quando a continuidade do movimento vem à tona. Graças ao seu trabalho, que reflete inquietação cultural, social e política, Pagu, nome criado pelo amigo e escritor Raul Bopp, fortaleceu os ideais que a manifestação de 22 propunha: uma nova visão de arte brasileira e a ruptura com a arte acadêmica.
Autora apadrinhada por Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, com quem se casou anos depois, Pagu surge durante a fase mais revolucionária do movimento de ruptura artística no Brasil, a chamada Antropofagia. A fase foi marcada pela publicação do Manifesto Antropófago, em 1928, na Revista da Antropofagia. No texto, Andrade ironizava a submissão da elite brasileira aos países ditos desenvolvidos, e Pagu publicou um desenho no periódico selando seu nome como vanguardista.
Em nota divulgada, a Flip justificou a escolha de Patrícia Galvão como representante da edição deste ano. “Homenagear Pagu é também valorizar marginalidades literárias importantes e corajosas que merecem um novo olhar”, afirma a produção do evento.
A Flip acontece desde 2003 no município de Paraty e reúne pessoas do Brasil e do mundo para acompanhar lançamentos de livros, ver palestras e participar de debates. O município fluminense é tomado pela diversidade de pessoas durante os cinco dias do evento, que também abraça a música e outras atividades culturais.
Patrícia Galvão nasceu em uma família burguesa e sempre teve a rebeldia como marca. Adotava comportamentos considerados extravagantes, falava palavrão, fumava e bebia em público. Queria ter os mesmos direitos dos homens e lutava por isso, inclusive pela liberdade de se relacionar com diversos amores.
Em 1930, Pagu e Oswald Andrade assumiram publicamente que estavam juntos e casaram-se, fazendo da jovem uma emancipada da família. Pouco depois, no ano seguinte, a escritora ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e passou a se dedicar às atividades do partido.
Em 1933, um marco na vida de Patrícia Galvão: ela publica Parque Industrial sob o pseudônimo Mara Lobo. O livro foi o primeiro romance brasileiro a ter operários como protagonistas. O ineditismo da obra fez de Pagu uma pioneira, mas não apenas por isso. Ela foi capaz de retratar mulheres artistas, mães, boêmias e, logicamente, operárias, todas com o anseio de liberdade e ruptura.
Além de escritora, foi jornalista e símbolo da literatura e liberdade de expressão no país. Pagu era com todas as letras uma militante política e por vezes foi presa. Um dos cárceres mais longos e truculentos ocorreu entre 1935 e 1940, quando foi vítima de torturas físicas e psicológicas.
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Luiza Leão é jornalista, repórter e apresentadora. Já trabalhou em veículos como Notícias da TV, CBN, Terra e Estadão. Pernambucana radicada na Bahia, atualmente vive em São Paulo.
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