O modernismo foi um movimento artístico que surgiu na Europa e se expandiu para diversos países na virada do séc. XIX para o séc. XX. Muitos artistas exploraram suas proposições centradas na liberdade estética, no nacionalismo e na crítica social, tendo os principais expoentes na literatura e na pintura.
Dentre as principais questões que permeavam as produções do modernismo encontravam-se, por um lado, um forte desejo de rompimento com o conservadorismo e o academicismo, norteados por ideais de beleza clássica que os artistas acreditavam se tratar de modelos limitados e ultrapassados. Por outro lado, havia o interesse em abordar as consequências das transformações sociais disparadas pela modernidade, tais como a brutalidade e destruição resultantes da Primeira Guerra Mundial e a consequente instabilidade social e política. No campo da pintura, suas principais características eram as da transgressão de técnicas tradicionais de representação, liberdade de composição e valorização da experiência subjetiva.
No Brasil, o modernismo se deu na esteira de um contexto histórico e político tal que provocou nos artistas a mentalidade de voltar-se para as raízes da cultura popular brasileira. Tratava-se da segunda fase da República velha (1889-1930), também chamada de República do café com leite, onde o poder era revezado entre paulistas e mineiros e dominado por aristocratas fazendeiros.
Nesse contexto, o agravamento da crescente inflação e aumento da sensação de insatisfação da população se refletia no pensamento e produções das classes artísticas e intelectuais, proporcionando a motivação para romper com o tradicionalismo, numa tentativa de reestruturar o país política e artisticamente. Importantes artistas brasileiros passaram a viajar aos centros culturais no exterior, tendo contato com as vanguardas europeias e retornando ao Brasil com a intenção de desenvolver uma pintura própria daqui. A seguir, veremos alguns dos principais nomes do modernismo brasileiro na pintura.
Anita Catarina Malfatti (São Paulo, São Paulo, 1889 – 1964) foi uma das mais relevantes artistas brasileiras, desempenhando papel determinante na introdução da estética modernista no país. Tendo estudado por longo tempo na França, na Alemanha e nos Estados Unidos, Anita desenvolveu um estilo bastante livre e expressivo, com forte uso de cores intensas e contrastantes e profundo interesse por temas regionalistas e da vida popular. Juntamente com Tarsila do Amaral e os escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, integra o Grupo dos Cinco, importante precursor do modernismo no Brasil. Ainda assim, o legado de Anita Malfatti transcende movimentos e estilos.
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1897 – 1976), foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, para a qual criou a arte do cartaz e na qual expôs algumas obras. Di Cavalcanti destaca-se por retratar figuras populares em seu compromisso de construção de uma arte nacional através da pintura. Tendo como temas centrais a celebração da cultura brasileira, a negritude, as festas populares, como o carnaval e as rodas de samba, Di Cavalcanti defendia a participação do artista na vida social e política do povo. Teve contato com vanguardas europeias, bebendo das fontes do cubismo e do expressionismo, por exemplo, mas atualizando esses movimentos com assuntos brasileiros. Também teve grande inspiração do muralismo mexicano, tendo pintado alguns dos primeiros murais modernistas do Brasil. Deixou mais de 30 murais espalhados por prédios públicos, incluindo os do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, produzidos em 1929.
Tarsila do Amaral (Capivari, São Paulo, 1886 – 1973), influenciada por vanguardas europeias, especialmente pelo cubismo e surrealismo, lança mão em suas composições de pinceladas marcadas e cores intensas na exploração de temas do imaginário tipicamente brasileiro, como suas paisagens e personagens. Em 1928, Tarsila presenteia Oswald de Andrade com a obra Abaporu, impactando o autor e inspirando-o a fundar o movimento Antropofágico, cuja ideia central é “deglutir” a cultura europeia e devolver ao mundo uma manifestação verdadeiramente brasileira. Ao longo de sua prolífica trajetória, Tarsila desenvolve diferentes explorações pictóricas, se aproximando ora de movimentos vanguardistas como o movimento antropofágico, ora de temáticas e faturas mais populares, como a arte naif, tornando-se uma das artistas brasileiras mais importantes no cenário internacional.
Luísa Prestes é artista visual, pesquisadora e arte-educadora. Participou de residências, ações, performances e exposições no Brasil e no exterior.
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