Cinética, em sua raíz científica, encontra seu significado no movimento. Os artistas que utilizaram este termo, investigavam a maneira como o movimento pode ser desenvolvido na arte, seja através de efeitos óticos, a elaboração de esculturas dinâmicas ou até na construção de uma relação de ação entre público e obra.
Pode-se dizer que a Arte Cinética ganhou solidez ao reunir artistas em Paris na exposição que se chamou Le Mouvement (O movimento) em 1955. Os organizadores desta mostra, publicaram o chamado Manifesto Amarelo. Esse Manifesto se deu no formato de um folheto distribuído na entrada e postulava que a cinética visual se baseava na percepção do espectador a partir de ilusões óticas.
Alguns anos antes, porém, aqui no Brasil, um artista chamado Abraham Palatnik já colocava em prática algumas das suas inquietações acerca do estudo da luz e da movimentação gerada com esse recurso.
As pesquisas de ambos, embora criadas separadamente, estavam alinhadas no que toca ao abandono da imagem estática estabelecida há muito nas pinturas e esculturas tradicionais.
O cinético vai além da simples ilusão ótica e trabalha no cerne da ideia de movimento, trazendo a necessidade de mobilidade do público para completar, por meio de interação ou percepção sensíveis, o que se propõe daquele trabalho artístico.
Separados aqui, estão cinco artistas que trabalharam nessas novas percepções e poderemos compreender a complexidade da proposta cinética na arte.
Victor Vasarely, artista integrante da exposição Le Mouvement, é popularmente conhecido como o pai da Op Art, por desenvolver experimentações na área da ilusão ótica. A optical art surge como uma vertente dentro da arte cinética para se referir às obras estáticas que depositam na ótica o seu dinamismo da composição. O artista iniciou seu trabalho na pintura estudando formas geométricas. As linhas e brincadeiras de cores são a tônica do trabalho de Vasarely. Até quando as imagens são sobre tons de cinza, o vazio e o preenchido são usados estrategicamente nas composições pra induzir as flutuações óticas.
Destacando uma dentre as diversas experimentações deste artista, estão os Aparelhos Cinecromáticos. Aqui, Palatnik, que possuía grande conhecimento em mecânica, construiu engrenagens (em detalhe na primeira imagem) que, quando ligadas e cobertas por uma tela, explodem em cores e flertam sutilmente entre uma e outra. Esses aparelhos investigam as potencialidades de cor criadas pelo pigmento elétrico da luz. Foi um dos primeiros trabalhos apresentados no Brasil na década de 50 e fez Palatnik ser, não por engano, a referência quando se trata de cinetismo na arte.
JULIO LE PARC
Artista argentino, desenvolveu grande parte da sua carreira na França. As obras das imagens acima são compostas por reflexos e cores no espaço. A primeira se apoia em engrenagens e materiais flexíveis. A segunda, em ambientação e jogo de luz e sombra.
Le Parc desenvolve fortemente a ideia de participação do público. Destaca, em algumas entrevistas, que o público sempre foi excluído da experiência artística, e traz, em suas obras, a vontade de dividir com o participante o papel criativo e, através da interação e mobilidade do participante, a obra completa seu objetivo poético.
ALEXANDER CALDER
Por fim, trazemos os Móbiles de Alexander Calder. São esculturas suspensas e feitas com madeira, fio e corda metálicos. Trata-se, na verdade, de uma escultura reversa, já que a tradicional concepção é pautada na massa e na materialidade concretas e os móbiles invocam uma certa leveza, movimento e volume abstrato através da imersão no espaço.
Carlos Cruz-Diez é um artista venezuelano que traz uma influência do design e do digital. Suas obras não têm um caráter de artesania, se voltam mais a uma conceitualidade de cor.
Suas obras são um convite para qualquer um que esteja presente. Conforme o participante se movimenta, a percepção das cores e das formas vai se transformando, é como uma conversa entre as cores e o nosso corpo, o artista trabalha criando um diálogo entre os envolvidos.
A arte cinética não é só o que se movimenta, mas a tomada de consciência sobre o dinamismo da realidade. Demonstra como a interatividade passa a influenciar a criação e o artista vira um mediador nos processos de comunicação. Sugere uma mudança radical de comportamento entre os envolvidos na criação artística e anuncia a mudança nos caminhos que a arte tomará para o futuro.
Victoria Louise é jornalista e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP.
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Como citar o material que será utilizado para aula.
A FLUIDEZ DO MOVIMENTO NA ARTE CINÉTICA. ALMEIDA, Victoria. In: Revista Artsoul – Arte Contemporânea no Mundo Digital. São Paulo, 2020. Disponível em: <https://blog.artsoul.com.br/a-fluidez-do-movimento-na-arte-cinetica/>. Acesso em: 26 de junho de 2020