As técnicas de tapeçaria desempenharam diversos papéis ao longo da história da arte. Agora, uma nova geração de artistas revisita essa linguagem a partir do entrelaçamento de mídias e a renovação dos temas apresentados nas peças.
Tradicionalmente, as tapeçarias eram baseadas em cartões feitos em pequena ou média escala, geralmente pintados a óleo ou guache. Hoje, artistas investigam a conversão de imagens digitais em arte têxtil. Uma série de pesquisas encontrou nas imagens pixeladas, de baixa resolução, um ponto comum com a visualidade da tapeçaria, como ocorre nos trabalhos recentes de Gabriel Pessoto.
Em tempos de aceleramento da produtividade, essas pesquisas que resgatam uma linguagem tradicional e mais demorada se mostram uma resistência, como comenta Pessoto:
“Repensar o conteúdo que é tramado, tal como o ato “radical” para o nosso tempo acelerado – dedicar meses à produção de poucos objetos, reativa a tapeçaria enquanto técnica pertinente para formular o presente“.
Inspirado pela produção baiana de tapeçaria artística, Renan Estivan também pesquisa a relação dos pixels com os pontos de tecelagem para representar a anatomia humana e o erotismo. “Essa técnica de bordado em pontos quadrados é o resultado final de um trabalho de colagem digital e vetorização em pixel arte, uma finalização artesanal para um processo digital“, comenta Estivan.
Para além da discussão da técnica e da visualidade entre o digital e o manual, os artistas também atualizam as narrativas tecidas, como ocorre no trabalho de Emanuela Boccia, que investiga as imagens nas redes sociais.
“O interesse por esse ponto-pixel está diretamente ligado à minha pesquisa que trata do acúmulo de imagens no Instagram ou quando a imagem ganha mais importância que o próprio indivíduo. Eu brinco que é um figurativo abstrato, o representado não é o foco e sim o que ele representa, é como o Instagram e os algoritmos funcionam“, comenta Boccia.
As novas tecnologias por vezes desvinculam o processo de produção da peça de toda a tradição envolvida na tapeçaria. A técnica tufting foi reinventada a partir da criação de uma pistola de alta velocidade, que permite a tecelagem de um tapete de forma mais livre. Uma artista que trabalha com essa técnica é Helena Obersteiner, que elabora imagens mais orgânicas, entre o figurativo e o abstrato.
A integração de diversas mídias é uma marca da contemporaneidade, o que traz à tapeçaria novas possibilidades e significados. Outra pesquisa interessante nesse sentido é a de Alê Jordão, artista interdisciplinar que inaugurou recentemente uma exposição individual na Choque Cultural, com oito tapeçarias feitas a partir de radiografias tiradas do próprio corpo.
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Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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