Carlito Carvalhosa, artista plástico paulista, faleceu nesta quinta-feira (13), vítima de câncer aos 59 anos. O artista construiu carreira sólida na arte visual e seu falecimento encerra uma trajetória marcante que avolumou a discussão plástica no país.
Sua formação em Arquitetura aprofundou seu olhar sobre os elementos formais da pintura, da escultura, da instalação e da performance. Encarava a arte como um espaço de projeção de incertezas e tensões.
Em 1982, integrou o grupo da Casa 7, com artistas como Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. Traz em seu trabalho a aura do movimento modernista carioca ao carregar a leveza estética e a afetividade das formas geométricas. O trabalho de Philip Guston, artista estadunidense, também influenciou a prática artística de Carvalhosa na medida em que a dimensão da superfície a ser pintada representa para ambos um elemento interpretativo do próprio trabalho.
Uma das suas obras mais marcantes foi Sala de Espera, instalação feita para exposição no MAC USP em 2013. A tensão aqui é aguçada e múltipla. A obra se configura como um conjunto de postes de madeira, longos e suspensos, espalhados em diferentes posições pelo extenso “cubo branco” do museu. Na intenção de preencher o lugar de forma completa, os troncos se espalham e trazem a sensação de pausa, como uma ação de queda que se interrompeu, mas também uma sensação de flutuação, quando o visitante caminha por entre elas. É uma sala de espera, no sentido de que “o trabalho está entre dois estados: algo vai acontecer ou algo já aconteceu para essa condição estar aqui”, como diz o artista em entrevista para o Canal Arte1.
Nos trabalhos mais recentes, desenvolve uma variedade de materiais e técnicas, como na obra Sem título (P68/18) de 2018 em que tinta a óleo e cera sobre madeira dialogam em superfície ondulada. Se interessa pelo conflito entre a superfície e a imagem e percebe que quando se contrastam, causam uma certa vibração ao olhar. O observador enquanto observa e se locomove pelo espaço, enxerga a movimentação naquela cena de linhas e cores.
Apesar de ter influência com outros artistas, Carlito Carvalhosa mantinha personalidade calorosa e singular em seu trabalho. Diversas homenagens virtuais foram feitas nesta sexta-feira (14), pela Galeria Nara Roesler, pelo curador Cauê Alves, a atriz Regina Casé, o Canal Arte1 e outros.
A comunidade artística perde Carlito Carvalhosa mas teve a oportunidade de se expandir com seu trabalho e a potência plástica de seu olhar se torna sólida como herança para os apreciadores de arte.
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Victoria Louise é redatora da ArtSoul formada pela PUC-SP em Arte: História, Crítica e Curadoria e Gestão Cultural
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