Em um período oscilante de reabertura dos espaços culturais em São Paulo, visitar a exposição Beatriz Milhazes: Avenida Paulista, co-organizada pelo MASP e Itaú Cultural, é uma opção para estar em contato com o mundo das artes visuais de modo seguro, através de um olhar otimista.
Aberta ao público em meados de dezembro de 2020, essa é a maior exposição dedicada à trajetória da artista carioca e, ao visitá-la em sua totalidade, torna-se evidente que sua amplitude não está apenas na quantidade de obras, que ultrapassam 170. Além dos trabalhos já conhecidos da artista, a exposição apresenta publicações como revistas, catálogos, livros de artista, e outros tipos de impressos, constatando o alcance e o impacto de Milhazes na contemporaneidade.
Cada instituição apresenta um recorte com foco em determinadas linguagens, sendo que o MASP reúne as pinturas e desenhos, com curadoria de Adriano Pedrosa e Amanda Carneiro, e o Itaú Cultural mostra um lado menos conhecido da artista com suas experimentações em colagens e gravuras, com curadoria de Ivo Mesquita.
Concebida desde 2018, a exposição está inserida nas Histórias da dança, ciclo anual de exposições e programas públicos do MASP de 2020. As obras de Milhazes ocupam os dois andares do subsolo do museu.
Adentrando o mezanino, somos recebidos por um corredor de pinturas em pequena escala, uma boa introdução ao universo que se desdobrará em outras linguagens e dimensões no restante da exposição. Ao final deste caminho, encontramos uma sala com pinturas realizadas entre 1989 e os primeiros anos da década de 1990, desenhos inéditos produzidos durante a quarentena em 2020, uma tapeçaria, e um balcão com revistas e catálogos.
A atual montagem no espaço expositivo no segundo subsolo do Museu de Arte de São Paulo foi pensada para ambientar apresentações da companhia de dança de Marcia Milhazes, irmã da artista visual. Essa programação que ocorreria em 2020 foi adiada e deve receber novas datas em breve. A expografia do MASP insere as pinturas de grande escala em estruturas independentes – ao estilo dos cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi – e possibilita aos visitantes caminhar livremente pelo espaço, circulando entre as pinturas.
No centro do espaço, a instalação “Gamboa III” – uma abordagem tridimensional dos elementos emblemáticos no repertório da artista – eleva nosso olhar ao teto e amplia a relação circular do espaço. Neste, os visitantes precisam descobrir todos os ângulos ao percorrer o mezanino e o segundo subsolo, criando diferentes circuitos entre as pinturas, percebendo a característica de movimento intenso presente nas composições de Beatriz Milhazes.
Nesta parte da exposição encontramos a chance de conhecer mais sobre os processos artísticos, descobrindo como a identidade criada por Milhazes em suas pinturas se desdobra em colagens e gravuras. A artista ocupa três andares do prédio: o primeiro andar e dois níveis no subsolo.
Em grande parte de suas colagens, a artista utiliza diferentes tipos de papéis para criar profundidades através de sobreposições e recortes, criando contrastes com cores intensas e diferentes texturas. O que se destaca em muitas colagens é o lado pop da artista que se acentua pela incorporação de embalagens de doces nos trabalhos.
O amplo panorama presente no Itaú Cultural demonstra como a artista reafirma sua marca em todas as linguagens que experimenta, e que estas se influenciam constantemente em seus processos. O próprio processo de pintura de Milhazes se aproxima da colagem e da gravura a partir da monotransfer, técnica próxima à monotipia, que foi desenvolvida pela artista e a permite aplicar camadas de tinta em uma superfície depois de pintá-las em recortes plásticos.
A exposição conta com uma sala de vídeo, mesas com objetos táteis que podem ser manipulados pelo público com ajuda de profissionais da instituição, e mesas com materiais utilizados por Milhazes em suas colagens. Nas paredes da exposição estão adesivadas falas de críticos, curadores e da própria artista a respeito de sua produção.
Ao visitar o panorama da obra de Milhazes nas últimas décadas apresentado pelas duas instituições, podemos de fato nos aproximar de uma produção muito popular, mas pouco discutida. Além disso, a exposição oferece outros modos de aproximação para além da contemplação, esta que já é a experiência mais potente, se tratando de uma obra de extremo apelo visual.
Classificar a obra de Beatriz Milhazes e enquadrá-la em estilos específicos talvez não seja o melhor caminho para compreendê-la, se tratando de uma artista cujo trabalho recorre a muitas inspirações em uma ampla visitação a diversos momentos e estilos da história da arte. A partir de suas composições que caminham entre o figurativo e o abstrato geométrico dançante, é certo que Milhazes se consagrou como um dos nomes mais conhecidos da arte contemporânea brasileira.
O início da vacinação no Brasil, ainda que a passos lentos, trouxe um ar de esperança e um olhar para a superação da pandemia. Todavia, não chegamos lá, ainda. Qualquer atividade não obrigatória realizada atualmente deve ser cautelosa. A fala da artista na divulgação da exposição dá o tom para o momento:
“Depois de tanto tempo de clausura, vivenciada no mundo todo, entrar em contato com a arte abre outras perspectivas, alegria, esperança, poesia”.
Os espaços do MASP e Itaú Cultural estão sinalizados e equipados, seguindo as medidas sanitárias padrão na pandemia. Os ingressos são comprados ou reservados com antecedência e dessa forma as instituições controlam o fluxo máximo de visitantes por hora.
Serviço:
Beatriz Milhazes: Avenida Paulista – Visitação no Itaú Cultural
de sábado 12 de dezembro de 2020 a domingo 30 de maio de 2021
terça a sexta 13h às 19h
sábado, domingo e feriado 10h às 16h
piso 1, -1 e -2
[livre para todos os públicos]
As visitas podem ser agendadas sempre a partir das 9h das segundas-feiras, via Sympla.
Beatriz Milhazes: Avenida Paulista – Visitação no Masp
de sexta 18 de dezembro de 2020 a domingo 30 de maio de 2021
Mais informações em masp.org.br.
VISITA GUIADA ONLINE
No dia 12 de fevereiro, o Itaú Cultural disponibiliza, em seu site e Youtube, visita virtual 360º da exposição Beatriz Milhazes: Avenida Paulista, guiada pela própria artista. No passeio, conta como suas colagens e gravuras absorvem muito da pintura – raiz da sua obra –, fala sobre suas inspirações para as formas e cores, revela como os modernismos brasileiro e europeu são referências para as suas criações.
Serviço:
Visita Virtual 360º da exposição Beatriz Milhazes: Avenida Paulista
A partir de 12 de fevereiro
Disponível em SITE ITAÚ CULTURAL e YOUTUBE
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
1 Comment
E não é que pensamos e executamos mostras de formas parecidas!