Casa Daniela Seve. Crédito foto: arquivo pessoal.
A carreira de consultora de arte se desenvolveu naturalmente na vida de Daniela Sève Duvivier. Filha de Luiz Sève, fundador da Galeria Ipanema, ela cresceu frequentando galerias e leilões de arte. Quando teve seu primeiro apartamento, fez questão de decorá-lo com obras de Luiz Zerbini, OSGEMEOS e Erika Verzutti, que acabaram se tornando sua coleção de arte contemporânea brasileira. Os amigos admiraram o resultado e pediram assessoria – de indicação a indicação, o prazer se tornou trabalho. O talento de Daniela tem origem na paixão de alguém que sabe a felicidade de viver cercado por obras que adora.
ARTSOUL – Qual é o papel de um consultor de arte?
DANIELA SÈVE DUVIVIER –O consultor de arte ajuda as pessoas a investir em obra de arte e a montar coleções. Eu procuro, por meio de parcerias com galerias do Brasil e do mundo, selecionar as obras adequadas para cada cliente, levando em conta o espaço onde serão expostas, o valor do investimento e o gosto pessoal.
AS – Por que e quando decidiu se dedicar a consultoria de arte?
DSV –Quando eu mudei do Rio para São Paulo, em 2000, comecei a comprar obras para a minha nova casa. Foi uma decisão muito natural, afinal eu sempre convivi com arte. Fui formando a minha coleção, comprando obras em diferentes galerias, fazendo bons investimentos. Alguns amigos gostaram e me pediram para ajudar com as coleções deles. Eu brinco que vendo arte para poder comprar arte, porque colecionar realmente é a minha paixão.
AS – A sua própria coleção influencia seu trabalho como consultora de arte?
DSV –Sem dúvida. Eu só indico o que gosto e acredito. Minhas recomendações não seguem modinhas, eu explico o porquê de investir em cada artista. Claro que se um cliente se interessar por um artista que eu pessoalmente não gosto tanto, mas que tem um trabalho consistente, eu indico. Mas, se o artista é apenas decorativo, eu não recomendo. É importante esse posicionamento.
AS – Como o envolvimento da sua família com arte te influenciou pessoalmente, além do profissional?
DSV –Eu cresci com o meu pai trocando as obras da casa, era natural no nosso cotidiano. Quando chegou a hora de eu ter a minha própria casa, percebi a importância da arte na minha vida. Hoje eu transmito essa paixão para os meus filhos, eles gostam, se interessam, perguntam. O contato diário com arte é muito natural para nós. É prazeroso entrar numa casa com obras de arte que você ama e tem uma relação profunda.
AS – Como colecionar arte? Toda coleção precisa ter um direcionamento?
DSV –Não necessariamente, é muito subjetivo. Uma coleção precisa de paixão. Claro que pode ter um direcionamento, como por exemplo a coleção de Roger Wright com a Pop Art, ou uma coleção só de um artista, ou uma coleção com uma obra de cada artista. Quando tem direcionamento, a coleção fica mais sucinta. Mas não é necessário ser assim. O importante é cada obra da coleção te tocar, significar alguma coisa para você. O colecionador tem que ter prazer de chegar em casa e ficar olhando suas obras, ficar realmente namorando.
AS – Mas nem todo artista trabalha com temáticas ou estéticas prazerosas.
DSV –Quando digo prazer, quero dizer obras que realmente toquem, que tragam questionamento, pensamento. A arte tem que instigar. Cada colecionador tem um perfil. Gosto de ser consultora por isso, posso ter um cliente interessado por obras políticas, outro por obras cinéticas, outro por arte moderna, outro por artistas jovens. E vou trabalhando com isso, indicando obras em cada nicho, descobrindo o que é prazeroso para cada colecionador.
AS – A partir de que momento alguém se torna colecionador?
DSV – É muito subjetivo. Quem tem mais de uma obra já está colecionando. Mas brinco que a pessoa se torna colecionadora de verdade quando não tem mais espaço para as obras em casa. Quando não tem mais onde colocar e isso não é um motivo para parar de comprar, pelo contrário, quer comprar mais e depois vai resolver o espaço.
AS – Além de indicar compras de arte, o consultor pode também recomendar a venda de obras que não fazem sentido na coleção? Além de criar coleções, você também dá consultoria para coleções já existentes?
DSV –Sim, já aconteceu. Se o cliente estiver de acordo, vendo o que não faz sentido e compro o que faz falta. Tem casos em que uma obra realmente não faz parte da coleção, foge do contexto. Pode acontecer de, com o tempo, a pessoa passar a dar menos importância a uma obra ou se questionar se ela faz sentido. Mas se a pessoa ama a obra, independente de estar ou não no contexto da coleção, eu acho que deve manter. O mais importante é a paixão, a lógica importa menos. O que vale é o prazer de colecionar, o prazer de ter aquela obra.
AS – Então a diretriz da sua consultoria é a paixão?
DSV – Sim, a paixão, a emoção. Mas também há clientes cuja maior preocupação é com o investimento, daí é outra consultoria. É diferente quem compra para prazer próprio e quem compra para investimento. Existem vários tipos de clientes e para cada um é um perfil de consultoria. Tem o que quer montar uma coleção coesa, o que quer ter obras bacanas para decorar a casa, o que quer fazer investimentos seguros, o que quer ter retorno financeiro. As pessoas colecionam arte por muitos motivos. Cada caso é diferente do outro, cada coleção vai ter seu viés.
AS – Colecionar arte é restrito a pessoas com grande poder aquisitivo? Ou amantes de arte menos privilegiados também podem colecionar?
DSV –Conseguem, sim. Há várias opções de arte a preços acessíveis, galerias específicas para isso. Uma possibilidade é apostar em artistas jovens. Mas há também artistas consistentes que fazem edições, o que proporciona um valor menor. Os clubes de colecionismo do MAM, do Masp, do Parque Lage são ótimos. Eu acho bacana que a arte seja mais democrática.
AS – Quais conhecimentos são fundamentais para alguém que deseja ser consultor de arte?
DSV –Tem que estudar muito. Visitar muita exposição e ateliê, estar sempre em contato com as pessoas. Tem que ter um olhar treinado. Tem que estar sempre disposto a aprender. E depois tem o feeling. Às vezes a pessoa até entende de arte, mas não consegue passar a informação para o cliente. Tem que ter afinidade com o cliente, conseguir entender o que ele quer e encontrar a obra ideal.
Maria Silvia Ferraz é jornalista e apaixonada por arte contemporânea
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