Blog que conecta você ao mundo da arte contemporânea.
  • OBRAS DE ARTE
    • Obras
    • Artistas
    • Seleções temáticas
  • PEÇAS DE DESIGN
    • Peças
    • Designers
    • Seleções temáticas
  • REVISTA
  • AGENDA

Sebastião Salgado, o grande fotógrafo humanista brasileiro

Publicado por Victoria Louise em 28/05/2025
Categorias
  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Notícias
Tags
  • arte
  • arte contemporânea
  • ativismo
  • fotografia
  • história da arte
  • indígenas
  • obra de arte
  • sebastião salgado
5/5 - (2 votes)

Na fotografia em preto e branco, um espectro monocromático materializa visões de mundo através da luz e seus contrastes. Utilizando a luz natural e a imprevisibilidade do instante a seu favor, Sebastião Salgado estabeleceu seu legado na fotografia mundial ao voltar seu olhar às questões humanas, retratando desde a beleza da diversidade cultural do planeta, até os desafios enfrentados por comunidades mais vulneráveis. Neste texto, relembramos a trajetória do fotógrafo e ambientalista que faleceu no último dia 23, aos 81 anos. 

Sebastião Salgado. Reprodução.

Em 1944, no município de Aimorés, Minas Gerais, nasceu Sebastião Ribeiro Salgado, que viria a se tornar um dos mais conhecidos fotógrafos do mundo. O município faz divisa com o Estado do Espírito Santo, e foi na capital Vitória que Salgado passou parte de sua adolescência – formando-se em Economia pela Universidade do Espírito Santo em 1967. No ano seguinte fez mestrado pela Universidade de São Paulo e casou-se com Lélia Deluiz Wanick, autora, produtora, ambientalista e companheira de sua vida e trabalho. Em 1971 realizou seu doutorado pela Université de Paris e iniciou o trabalho como secretário na Organização Internacional do Café, em Londres – função que exerceu até 1973 e o colocou em contato com outras regiões do mundo, até decidir tornar-se fotógrafo após uma viagem a Angola. 

Sebastião Salgado. Revolução dos Cravos, 1974. Reprodução. 

Testemunhar cenários políticos conturbados marcou os primeiros anos do trabalho de Salgado como fotojornalista, enquanto trabalhou para grandes agências como Sygma (1974), Gamma (1975 a 1979) e Magnum (1979 a 1994), esta última uma iniciativa de Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, George Rodger e Chim (David Seymour). Logo no seu primeiro ano como fotógrafo profissional, capturou a efervescência popular e militar das ruas na Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974. Parte desse acervo foi exibido pela primeira vez no Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 2024, integrando o programa Maio Fotografia, que apresenta a cada ano novos projetos dentro da linguagem. Durante uma fala no MIS, Salgado afirmou que para ele, a fotografia “é uma aproximação forte, a fotografia é um espelho da sociedade que nós fazemos parte”. 

O momento crucial e a circulação no mundo

O fotojornalista foi designado a acompanhar os 100 primeiros dias de mandato do então presidente dos EUA, Ronald Reagan (1911-2004), o que lhe proporcionou o registro que trouxe sua visibilidade internacional. Salgado foi um dos poucos fotógrafos a capturar o atentado sofrido pelo político em 30 de março de 1981 e, em um instante, cristalizou o histórico momento marcado pela agitação dos seguranças de Reagan em volta de seu corpo deitado no chão. 

Sebastião Salgado registra movimentação após atentado a Ronald Reagan, 1981. Reprodução. 

Paralelamente a outros trabalhos, viajou pela América Latina entre 1977 e 1984, período em que aprofundou sua aproximação com uma fotografia documental humanista. Desse trabalho nasceu o livro Autres Amériques (Outras Américas), publicado em 1986. Nas imagens reunidas nesta série, figura especialmente a vida de camponeses e indígenas, combinando retratos extremamente detalhados e aproximados com a grandeza de paisagens que envolviam seus retratados. Na introdução do livro, o jornalista Alan Riding sintetiza a obra como “[…] o mundo dos destituídos, daqueles que os desertos e serras desoladas da América Latina observam enquanto seus países mudam, deixando-os de lado”. 

Em 1986 produziu um de seus trabalhos mais impactantes ao visitar a Serra Pelada no Pará, após longa espera pela autorização do exército brasileiro. Em uma imensa cratera, milhares de pessoas trabalhavam em precárias condições na extração de ouro no maior garimpo a céu aberto do mundo. Uma de suas fotografias desse contexto foi selecionada pelo The New York Times como uma das 25 imagens que definem a modernidade. Na imagem em grandes proporções, Salgado enquadra dezenas de garimpeiros em atividade, e a escala entre os humanos e a cratera gera uma impressão de mural.

Sebastião Salgado. Serra Pelada, Pará. Reprodução

No mesmo período, iniciou a série Trabalhadores, que culminou na publicação do livro Trabalhadores: Uma Arqueologia da Era Industrial em 1996. No fotolivro, 350 fotografias reúnem profissionais de diversos lugares do planeta, focando desde a manualidade envolvida em cada exercício, até as difíceis condições enfrentadas por eles. As imagens intercalam os contextos rural e urbano, e seguindo a marca do fotógrafo, exploram a relação entre a atividade humana e a paisagem, com detalhes iluminados e vistas monumentais. 

Sebastião Salgado. Trabalhadores. Reprodução.

De 1993 a 1999, Salgado viajou por 35 países e acompanhou fluxos migratórios de refugiados em busca de exílio e condições mais dignas de vida. O trabalho resultou no livro Êxodos, um retrato impressionante de uma condição experienciada por todo o mundo. A dramaticidade adquirida pela forma como Salgado produziu suas fotografias em preto e branco reforçam a vontade de sensibilizar o público a uma causa que o comoveu – entre tantas outras que dizem respeito à condição humana. 

Após décadas de experiência, o renomado fotógrafo realizou sua última grande imersão fotográfica, e adentrou a Amazônia – trabalho que ocorreu entre 2013 e 2019. Capturando a vida de comunidades indígenas e a deslumbrante paisagem do imenso território da maior floresta do mundo, uma seleção dessas fotografias foi apresentada no livro Amazônia. Em 2022, Salgado inaugurou a exposição homônima no Sesc Pompeia, com curadoria de Lélia, que já assinava a curadoria e direção editorial de grande parte do seu trabalho. A exposição já havia sido apresentada em outros países, e depois de São Paulo realizou itinerância a outros estados do Brasil. 

Sebastião Salgado. Vista aérea do Rio Jutaí, que por avançar em uma área extremamente plana, serpenteia traçando curvas pela floresta. Estado do Amazonas, 2017.

Legado e transformação

Em 1994, Sebastião e Lélia fundaram a própria agência, a Amazonas Imagens. Quatro anos depois o casal oficializou seu compromisso com a recuperação e preservação ambiental ao fundar o Instituto Terra, iniciando um grande trabalho de reflorestamento da Mata Atlântica nas terras da Fazenda Bulcão, local onde Salgado passou sua infância. A partir de cerca de 600 hectares de suas terras e outros territórios alcançados através de parcerias, o Instituto já gestou o plantio de mais de 3 milhões de árvores e atuou na recuperação de mais de 2 mil nascentes.  

Ao longo de sua carreira, o fotógrafo recebeu prêmios em diversos países, que atestaram cada vez mais sua relevância no cenário mundial. Entre eles, estão o Prêmio Eugene Smith de Fotografia Humanitária (EUA, 1982), Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes (1998). Além disso, foi eleito membro honorário da Academia Americana de Artes e Ciências nos Estados Unidos da América, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Espírito Santo (2016) e tornou-se imortal da Academia de Belas Artes da França (2017). 

Em 2015 foi lançado o filme documentário O Sal da Terra, um retrato íntimo da trajetória do fotógrafo, com direção de Wim Wenders e co-direção de Juliano Ribeiro Salgado, filho de Salgado, que já havia o acompanhado em diversas viagens e registrado seu trabalho. O filme foi bem sucedido e indicado ao Oscar de melhor documentário.

Sebastião Salgado. Equador, 1982. Reprodução. 

Sebastião Salgado viajou por mais de 120 países ao longo de sua carreira, buscando revelar os detalhes da vida humana através de suas lentes. Com um trabalho de grande refinamento e iluminação grandiosa, colocou a fotografia documental brasileira no centro do mundo, deixando um legado de testemunho da vida e transformação. Revelando harmonia e integração entre pessoas e natureza, crises sociais e os horrores da guerra, tradições preservadas e tecnologias em pleno avanço – Salgado exemplificou a complexidade de um mundo de contrastes e, ainda assim, conectado pela vontade de seguir. 

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP

Gostou desta matéria? Leia também:
Renoir e a celebração da luz na pintura impressionista

Compartilhar

Artigos Relacionados

21/05/2025

Bienal de Arquitetura de Veneza 2025 propõe integração entre natureza, tecnologia e saber coletivo


Leia mais
15/05/2025

O mercado de arte em transição: o que dizem os números mais recentes


Leia mais
30/04/2025

Para inspirar: o que aprender com os destaques do Salone del Mobile 2025


Leia mais

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Geral
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul

Inscreva-se na Newsletter

Preencha o formulário abaixo para se inscrever em nossa Newsletter e receber as últimas atualizações.
Ao se cadastrar você aceita nossos Termos de Uso e Politica de Privacidade.

Blog dedicado à publicação de notícias sobre arte contemporânea, assim como informações sobre o mercado, artistas e movimentos artísticos no geral.

CATEGORIAS

  • Arte no mundo
  • Artistas
  • Design
  • Dicas
  • Entrevista
  • Exclusivo
  • Exposições
  • Galerias adentro
  • Livros
  • Mercado de Arte
  • Notícias
  • Perfil Artsoul
  • Geral

ENTRE EM CONTATO

Horário de atendimento:
De Segunda a Sexta, das 10h às 17h

(11) 9 7283-9009

contato@artsoul.com.br

Artsoul 2023 © Todos os direitor Reservados
  • Desenvolvido por: Flaubert Dev