É cada vez mais possível e necessário que produções artísticas de todo o Brasil sejam vistas, vivenciadas e consumidas. Essa afirmação parte do reconhecimento da existência de uma antiga centralização mercadológica e institucional sobre produções artísticas provindas do Sul e do Sudeste do país, enquanto o resto do país enfrenta maiores dificuldades para acessar esses espaços de legitimação e trocas comerciais.
Além de sua principal feira anual, a SP-Arte organiza a feira SP-Foto na segunda metade do ano, que passa a incorporar novas linguagens a partir desta edição, além de dar um foco maior em projetos solos e curados. Repaginada, a feira ganhou o novo título Rotas Brasileiras e tem como uma de suas premissas um olhar ampliado sobre a diversidade de produções artísticas presentes no território nacional.
A feira ocorre no galpão ARCA na Vila Leopoldina, São Paulo, e conta com a presença de 70 galerias, além de stands de museus como o MASP, exposições especiais e uma programação de Talks com artistas e especialistas do mercado.
No aquecimento para abertura da feira, algumas galerias promoveram aberturas de exposições individuais e coletivas em seus espaços. Para Rotas brasileiras, a ArteFASAM preparou um stand com curadoria de Bruna Costa, que selecionou os artistas: Ana Hortides, Gabriela Sacchetto, Lilian Camelli, Rose Afefé e Amadeu Luciano Lorenzato. Na curadoria do stand, encontram-se obras que manifestam um conjunto de elementos próprios de uma paisagem do interior brasileiro, como as casinhas e suas portas e janelas coloridas. Além disso, o ambiente doméstico também é evocado através de pinturas que retratam esses interiores, que se complementam com as paisagens.
No final de semana anterior à feira, a galeria inaugurou uma exposição coletiva com curadoria de Fernanda Lopes, com obras de Daniel Murgel, Estela Sokol, Gabriela Sacchetto, Julia Arbex, Juliana Ronchesel, Leandro Barboza, Marcio Diegues e Susanne Schirato.
Especializada em fotografia fine art, a Galeria Mario Cohen apresenta a série Tempo Arenoso de Elaine Pessoa no stand da galeria, que conta com outros nomes como Cristiano Mascaro, Rogério Braga e Sebastião Salgado. Na véspera do início da feira, a galeria também realizou a abertura da nova individual de Elaine Pessoa, que assina a curadoria com Mario Cohen. Nesta exposição são apresentadas as séries Naturalis, Arabutã e Tacomaré, pelas quais a artista investiga os processos coloniais de exploração de matérias primas em nosso território, em especial o Pau-brasil e cana-de-açúcar.
Também na fotografia destaca-se o trabalho de Adriana Duque que inaugurou recentemente uma individual na Zipper Galeria. A fotografia de Duque está inserida na exposição Lembranças encobridoras, pensada especialmente para esta feira, que traz outros artistas como Abraham Palatnik, grande nome da arte cinética, presente com uma pintura em grande escala que intercala gradações de cor e causam um efeito visual de ondas, como frequência cromáticas. Já Gabriel Wickbold traz, além de suas conhecidas fotografias, sua primeira instalação “Partida”, partindo do símbolo de Brasília para fazer uma crítica social e política direta ao que o artista percebe como polarização e abismo social no país. Além disso, o Wickbold também lança seu livro “Brasileiros” durante a feira.
A galeria ARTEFORMATTO traz a aquarela de Maria Luiza Mazzetto, além de Gabriela Costa com um intenso estudo de gradação de cores. A artista Estela Sokol que também possui uma extensa produção investigando cores em diversas linguagens, em especial a pintura, figura o stand da AM Galeria de Arte, ao lado da obra vibrante de Delson Uchôa.
Ainda na pintura, destaca-se Panmela Castro que traz trabalhos das suas séries de retratos para o stand da Galeria Luisa Strina. A geometria de Luciano Macedo feita com cortes delicados de madeira marca presença no espaço da Andrea Rehder Arte Contemporânea.
A Galeria Marília Razuk apresenta uma seleção especial de gravuras de artistas ligados ao coletivo Xiloceasa, formado em 2005 no Instituto Acaia.
Na linguagem da escultura, a Steinart Contemporânea apresenta os relevos de João Carlos Galvão. Já a Galeria Karandash reúne 8 artistas que trabalham especialmente com madeira nas vertentes da arte popular brasileira. As instalações de Luiz Hermano e Amalia Giacomini ocupam o espaço da Galeria Lume em uma expografia minimalista.
A área externa do galpão da ARCA é ocupada pela exposição Brasilidade tridimensional, curadoria de Ana Carolina Ralston, que já realizou exposições em outras edições da SP-Arte. As obras foram distribuídas pela área a céu aberto entre os galpões ARCA e STATE, onde os visitantes podem descansar entre as programações enquanto interagem com as esculturas e instalações. Fazem parte desta exposição nomes como Carmela Gross, Francisco Brennand, Marepe, Rizza, Rodrigo Bueno e Lucas Dupin.
“As esculturas, rasteiras ou em busca do céu, entrelaçam o caminho dos visitantes desta edição da SP–Arte com o intuito certo de relembrar que a arte está dentro e fora de tudo e de todos”, afirma a curadora em nota de divulgação da exposição.
O espaço STATE, vizinho do galpão onde ocorre a feira, promove uma programação que acentua os vínculos entre arte e tecnologia em sua praça interna. No ano passado, o espaço recebeu uma exposição de arte imersiva com obras acessadas em dispositivos móveis através de QR Codes, promovida pelo Brazil Immersive Fashion Week com a plataforma Hic et Nunc e o State Innovation Center.
Neste ano, o STATE inaugura a segunda edição da Pupila Dilatada, exposição voltada à cripto-arte e produções psicodélicas, contando com mais de 60 artistas do Brasil e do mundo. Em parceria com a feira Rotas Brasileiras, a programação da Pupila Dilatada conta com duas mesas de debate no dia 25, com mediação de Olivia Merquior. A primeira mesa, às 16h, debate “ambientes virtuais, desterritorialização e cultura universal”, com a presença de Giovanna Casimiro, head cultural do Decentraland. A segunda, às 17h, convida Mariana Falcão (Mari The Hawk), Pedro Brasil (sonnigraphics) e Paulo Stocker para debater “o impacto das novas tecnologias na produção de artistas nacionais”.
Confira abaixo a programação de Conversas na arquibancada que ocorre no galpão da STATE, com mediação de Leandro Muniz.
SEXTA
16h Sergio Augusto Porto (Central Galeria)
17h Rommulo Vieira Conceição (Galeria Aura)
18h Elza Lima (Arte Pará)
SÁBADO
16h Siron Franco (Paulo Darzé Galeria)
17h Alberto Pitta (Carmo Johnson Projects)
18h Panmela Castro (Galeria Luisa Strina)
Serviço
SP–Arte Rotas Brasileiras 2022
24–28 agosto 2022
Qua-sáb, das 12h às 20h
Dom, das 11h às 19h
Local
ARCA, Av. Manuel Bandeira, 360 – Vila Leopoldina, São Paulo, SP
Entrada
R$ 50,00 (geral) – R$ 25,00 (meia-entrada)
Meia-entrada para estudantes, portadores de deficiência e pessoas com mais de sessenta anos (necessária a apresentação de documento)
Crianças até dez anos não pagam entrada.
Compra de ingressos
Ingressos exclusivamente online pelo site – https://bilheteria.sp-arte.com
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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