O minimalismo se consolidou enquanto corrente artística nas décadas de 1960 e 1970 na cena estadunidense. Através de uma aproximação com a materialidade e plasticidade industrial, diversos artistas aprofundaram suas pesquisas acerca de uma expressão mínima. De diversos modos, descobria-se na época como elementos constituintes da arte como formas, cores, luz, volumes e outros, poderiam ser sintetizados em seu estado mais simples e ainda proporcionar uma experiência estética.
A seguir, uma seleção de obras minimalistas da Artsoul exemplificam aspectos essenciais da corrente artística que não se restringiu às décadas de surgimento, mas ainda possui desdobramentos.
A valorização de elementos simples – como o ponto e a linha, ou formas, como círculos, quadrados e triângulos – culminou na experimentação da repetição destes. Dentro do minimalismo, é recorrente encontrarmos obras que utilizam a repetição de um mesmo elemento para construir uma composição rítmica. É o caso da obra Vazio 6, gravura de Grazi Azevedo, pela qual a artista produz um padrão de bolinhas ordenadas no espaço do papel, de modo a formar um quadrado em sua totalidade.
Os primeiros movimentos da arte moderna já haviam inaugurado pesquisas acerca do valor da cor na arte pictórica, especialmente na pintura. Em algumas linhas, o minimalismo segue as investidas no protagonismo da cor, refletindo seus efeitos através de obras de cor única ou combinações de paleta reduzida.
Produzida pelo artista Almandrade, a gravura acima é um exemplo do encontro entre um estudo de cores com o equilíbrio das formas que, no minimalismo, ocorre de maneira planejada e racional. Desta forma, as cores se apresentam no espaço de modo a serem valorizadas em sua autonomia, ainda que dialoguem com outras cores na mesma obra.
A redução das cores e a preferência pela materialidade crua proporcionou às esculturas minimalistas um foco maior às formas e ao volume da obra.
Na obra Aladas de Mary Carmen Matias, por exemplo, uma massa branca se apresenta no espaço e é desenhada apenas pela luz, destacando-se do fundo e sendo definida por suas dobras. Se o branco nesta obra for considerado pela ausência de cor, é possível entender o protagonismo do volume e a maneira como ele é trabalhado pela artista para desenvolver uma obra leve.
Os estudos minimalistas abriram campo para novas relações entre as esculturas e os espaços que as recebem. Compreende-se neste sentido a importância do espaço e o impacto de cada aspecto espacial na leitura da obra, como luminosidade, cores e texturas, dimensões, entre outros.
Algumas obras como Mapeamento de Ana Amélia Genioli utilizam justamente esses aspectos espaciais na sua composição. Este díptico instalado em uma parede pode possuir inúmeras formas de se apresentar dependendo da luz que é direcionada a ele.
A aproximação com o universo industrial incorporou também nas produções minimalistas os estudos com luzes artificiais através de variados tipos de lâmpadas. O constante desenvolvimento tecnológico ressignifica a presença destas fontes de luz na arte.
A obra Tapete Vermelho de Carlos Matos é composta de diversos materiais como alumínio, cabos, plástico e madeira, mas é a fita led que constitui o principal elemento dessa escultura e instalação. A sequência de led cria um caminho de luz próximo ao chão e, dependendo do espaço onde a obra é instalada, todo o ambiente é tomado pela luz vermelha, como na foto acima.
Planejar a inserção de uma obra minimalista em qualquer tipo de espaço é uma oportunidade de refletir o valor dos aspectos mais simples da arte – contudo, não menos potentes. Como em outras áreas criativas que se relacionam com a arte – design, arquitetura e moda, por exemplo -, cada elemento afeta nossa percepção de modos diferentes. Assim, trabalhar com a síntese se torna um exercício de percepção e experiência estética.
Estas e outras obras estão na seleção Minimalistas.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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