Toda fotografia pode ser considerada um quadro de luz, já que a essência da linguagem é justamente a captação de luz e a geração de uma imagem, possibilitando a impressão em uma superfície. As técnicas de light painting consistem na manipulação das luzes em fotografias de longa exposição. Nestas, o tempo de captura de uma imagem é prolongado, possibilitando ao artista desenhar com a luz e gravar um instante estendido em uma mesma fotografia.
Os primeiros experimentos com light painting e longa exposição datam o final do século XIX, com as pesquisas dos cientistas franceses Étienne-Jules Marey e Georges Demeny em torno do movimento, utilizando a fotografia como meio de estudo. “Pathological Walk From in Front” é a primeira obra nesse estilo, e foi produzida pela dupla em 1889, com o uso de lâmpadas incandescentes.
Quando artistas direcionaram suas pesquisas para legitimar a fotografia como uma linguagem artística, especialmente no começo do século XX, muitos se apropriaram de características da pintura. Um exemplo é o pictorialismo, um dos estilos fotográficos mais difundidos no início da fotografia moderna, que se inspirava nos enquadramentos e composições tradicionais da pintura, como no estilo de paisagens. Já a técnica de fotogramas, que consiste no trabalho de desenho com luz na ampliação, foi muito utilizada por fotógrafos como Moholy Nagy e Geraldo de Barros. Diferente da light painting, pela qual se desenha no processo, esses estilo envolvem uma série de interferências na edição da imagem na pós-produção.
Com o estabelecimento da fotografia moderna, tornaram-se comuns as experimentações com formas e movimentos a partir de luzes artificiais. A light painting demorou um bom tempo para se popularizar, e foi só no final da década de 1970 que produções especializadas começaram a ser reconhecidas. Em 1977 o termo “light painting” foi utilizado pela primeira vez por Dean Chamberlain, considerado um dos pais da linguagem na contemporaneidade. O fotógrafo estadunidense constrói imagens com tendências surrealistas e utiliza a luz como um elemento mágico em suas composições.
A light painting geralmente é realizada em ambientes escuros, valorizando a luz manipulada no processo fotográfico. Deste modo, a noite se tornou o cenário perfeito para que desenhos fossem cristalizados em imagens que chegam a se aproximar da ficção científica. O trabalho de Eric Staller, por exemplo, ambientado nas ruas noturnas da cidade de Nova Iorque da década de 1970, destaca a ação performática envolvida nesse estilo fotográfico.
A fotografia com escrita de luz se tornou a vertente mais popular do gênero, sendo utilizada em registros de festas, propagandas, e uma infinidade de outras finalidades comerciais. Essa vertente deu origem ao graffiti de luz, estilo amplamente explorado pela artista estadunidense Vicki DaSilva, uma das mulheres mais importantes no universo da light painting. DaSilva é considerada precursora dessa investigação que envolve os estudos de luz no ambiente urbano, revisitando expressões já conhecidas nesse cenário.
No Brasil, um dos fotógrafos mais conhecidos do gênero é o carioca Renan Cepeda. Em seus trabalhos de light painting, o fotógrafo destaca elementos específicos com os rastros de luzes artificiais. No processo, Cepeda utiliza uma roupa preta para que seu corpo não interfira na construção da imagem. Luzes neon, incandescentes e lanternas a laser são utilizadas para revelar e redesenhar paisagens e composições arquitetônicas. As casinhas de Cepeda abrem e fecham este texto, localizando essas experimentações de luz na noite em um contexto nacional.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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Referências
Light Painting Photography
Vicki DaSilva