O Instituto Inhotim está localizado no município de Brumadinho, a 60 quilômetros da capital do estado e é composto por galerias de arte contemporânea e um jardim botânico complexo. É um museu a céu aberto e representa um respiro para os visitantes que experienciam a arte contemporânea unida ao frescor de uma natureza única.
Para conhecer todos os espaços expositivos do Instituto, o público precisa de pelo menos dois dias de visitação, mas quem estiver só de passagem e não dispor de tanto tempo, pode se perguntar se vale a pena ir para curtir um dia só. A resposta é sim. Em um único dia é possível passar por galerias imperdíveis e ainda desfrutar da experiência intensa que só um dos maiores museus a céu aberto do mundo pode oferecer.
O próprio museu disponibiliza um mapa com sugestão de três rotas para facilitar a visitação. É preciso separar um dia para fazer a rota laranja e é possível fazer as rotas amarela e rosa em um dia só. Aqui vamos recomendar uma quarta rota pensando tanto na duração do caminho quanto nas galerias mais importantes para um contato profundo com a arte contemporânea. Vem com a gente!
Ao chegar no Instituto, o primeiro passo é caminhar até a bilheteria onde você compra seu ingresso ou troca seu ingresso virtual pela pulseira do dia (recomendamos comprar o ingresso online com antecedência para garantir o seu). A fila é inevitável, mas é rápida. A primeira galeria da lista é a Galeria Yayoi Kusama (G24) e existe um bom motivo para isso: para a obra Aftermath of Obliteration of Eternity (2009) é necessário retirar um ingresso – gratuito, mas com limite de pessoas por dia e os ingressos tendem a esgotar entre 10h30 e 11h.
O ideal é partir da recepção em direção à G24 e retirar o ingresso nos primeiros horários, das 10h ou 10h30. Se não conseguir o primeiro horário, pode começar pelas galerias vizinhas: Galeria Cosmococa e Cristina Iglesias e depois voltar para a Galeria Yayoi Kusama para conhecer tanto a obra Aftermath of Obliteration of Eternity (2009) quanto a obra da sala ao lado: I’m Here, But Nothing (2000), para a qual não é necessário ingresso.
A Galeria Yayoi Kusama foi inaugurada no último dia 16 de julho. As duas obras desta galeria são icônicas da artista japonesa que é conhecida por explorar diferentes realidades que podem ser experienciadas pelo público em instalações imersivas. Nas instalações de Yayoi Kusama você poderá perceber o espaço de formas diferentes, poderá se sentir parte do infinito ou o próprio infinito. A artista traduz suas alucinações e imagens obsessivas em esculturas e pinturas, com uma arte que é expressão de sua vida e da sua percepção do mundo.
Ao lado desta galeria, como mencionado anteriormente, o visitante terá a oportunidade de explorar ambientes desenvolvidos por três grandes nomes da arte brasileira contemporânea: Helio Oiticica, Cildo Meireles e Lygia Pape.
A partir daqui vamos contar detalhes das galerias sugeridas mas dentro de uma ordem temática e conceitual, o que implica em não seguir à risca o itinerário, que está em ordem de visitação ao final deste texto. No mapa acima, a ordem numérica guiará visualmente a visita.
Na galeria Cosmococa você encontrará cinco ambientes desenvolvidos por Hélio Oiticica e Neville D’Almeida; os Cosmococa (1973) são ambientes multissensoriais que podem ser ocupados e sentidos de múltiplas formas. Todos contém uma sequência de slides projetados simultaneamente e uma trilha sonora específica.
Hélio Oiticica foi um artista carioca performático, pintor e escultor. Realizou muitos experimentos ao longo de sua trajetória artística e a ativa participação do público foi um dos grandes princípios de seus experimentos. O artista rompeu com os conceitos de arte tradicionais e abriu caminhos para a arte brasileira contemporânea.
Além da Galeria Cosmococa, você terá a oportunidade de, ao final da rota, experienciar uma obra de Hélio Oiticica ao ar livre, a Magic Square #5 (1977). O artista não chegou a construí-la em vida, mas deixou instruções minuciosas para sua elaboração. Ao realizá-la, o Instituto mantém viva a proposta de Oiticica de fundir arte e vida e proporciona este espaço de experimentação. Os Magic Square fazem parte do grupo de trabalho Penetráveis do artista, grandes instalações, muitas vezes labirínticas e pintadas com cores quentes, propostas para serem vivenciadas com todos os sentidos.
Os Penetráveis fazem parte do repertório de arte neoconcreta do artista. O Movimento Neoconcreto (1959) rejeitava a superioridade da razão sobre a sensibilidade e buscava redefinir a relação entre a arte e o público. Lygia Pape, também carioca, foi gravadora, escultora, pintora, diretora de cinema, designer e professora, participou da formação do Grupo Frente juntamente com Oiticica e mais tarde assinaria o Manifesto Neoconcreto. A galeria dedicada a Lygia é a última desta lista.
Na Galeria Lygia Pape você poderá conhecer uma de suas obras conhecidas como Ttéia, diversas variações desta obra foram construídas entre 1977 e 2003. São instalações compostas por diversos fios tensionados e dispostos geometricamente. Conforme o espectador se desloca no ambiente, algumas linhas se tornam mais visíveis e outras menos, são os reflexos de luz e as cores dos fios estruturados de forma tão delicada que causam essa sensação de poder ver uma mesma obra de diversas formas ao se movimentar. A instalação que vemos em Inhotim, Ttéia 1C (ca.2002), já integrou a 53ª Bienal de Veneza, onde a artista recebeu menção póstuma, e pertence ao Instituto Inhotim desde 2012.
Outro artista carioca pioneiro na realização de instalações no Brasil foi Cildo Meireles, um artista multimídia que também fez parte do movimento Neoconcreto. Em Inhotim você poderá ver uma das obras mais conhecidas do artista: Desvio para o vermelho (1967-1984). A obra é uma experiência muito visual, mas que é sentida de corpo inteiro conforme o visitante se movimenta pelo primeiro cômodo e é atraído pelo segundo. É impossível não associá-la à violência da ditadura militar, mas esta é apenas uma interpretação para uma obra que deve ser experienciada. Além dela, é possível conhecer as obras Através (1983-89) e Glove Trotter (1991).
Duas artistas também imperdíveis fazem parte de uma geração posterior à destes pioneiros da arte contemporânea nacional; Adriana Varejão e Claudia Andujar. Cinco obras compõem a Galeria Adriana Varejão: Passarinhos – de Inhotim a Demini (2008), Linda do Rosário (2004), O colecionador (2008), Celacanto provoca maremoto (2004-2008) e Panacea Phantastica (2003-2008). Com estas obras a artista dá vida à arquitetura de diversas formas e explora tanto a temática da colonização, a partir da reprodução da azulejaria barroca portuguesa, quanto a diversidade de pássaros e plantas alucinógenas da Amazônia, trazendo saberes do povo Yanomami que a artista conheceu em sua vivência na aldeia Watoriki.
Conhecida por ter vivido com os yanomami, a fotógrafa Claudia Andujar retratou-os de forma singular. A Galeria Claudia Andujar mostra uma Andujar nunca antes vista. Mistura a vida pessoal da artista com suas 500 fotografias. Ao sentar-se para ver e escutar a artista falando de sua trajetória e em seguida caminhar por tantas de suas fotografias da terra, dos yanomami e dos conflitos enfrentados pelos indígenas, é possível compreender a identificação da artista com a luta dos yanomami e é possível sentir o quão profundamente imbricada na vida dos yanomami estava a artista ao realizar suas fotografias.
No caminho para a Galeria Claudia Andujar está a Galeria Doris Salcedo, a proximidade entre as duas torna esta experiência ainda mais rica. Em Neither (2004), Salcedo faz uma intervenção no espaço da galeria que te faz sentir nem preso nem livre, nem dentro nem fora. As obras da artista colombiana trazem muitas vezes a temática da violência política, seus desdobramentos e interferências na vida das pessoas.
E não poderiam ficar de fora dessa rota as galerias Praça e Mata, duas galerias que contam com espaços de exposição de obras temporárias. Ambas abrigam atualmente exposições do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. Este programa é uma tentativa, ou podemos dizer um começo, de um movimento crítico e necessário do Instituto de aumentar a presença da arte negra no museu.
Na Galeria Praça você conhecerá diversas obras do Mestre Didi na exposição temporária Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem. A exposição mostra o Mestre Didi para além de um grande artista, como um intelectual e liderança religiosa no Candomblé. As esculturas que você verá utilizam fibras de dendezeiro, búzios, contas, sementes, tiras de couro e outros símbolos das tradições iorubá.
Um museu dentro do museu, é isto que você encontrará na Galeria Mata. Abdias Nascimento criou em 1950 o Museu de Arte Negra (MAN), uma iniciativa do Teatro Experimental do Negro (TEN). Abdias Nascimento é uma figura central da arte negra no país e seu ativismo como dramaturgo, pintor e intelectual girava em torno da valorização social do negro no Brasil por meio da educação, da cultura e da arte. Em suas obras, o artista buscou reconstituir uma ordem epistêmica africana, usando linguagem e símbolos das tradições afro-diaspóricas, são estes símbolos que você encontrará em diversas de suas pinturas na exposição Terceiro Ato: Sortilégio. Os cinco núcleos que compõem a exposição evidenciam o Museu de Arte Negra como um museu coletivo, composto por diversos artistas que cruzaram a vida de Abdias Nascimento.
Além destas Galerias você conhecerá a instalação True Rouge (1997), do artista brasileiro Tunga. A obra remete aos ciclos vitais e à alquimia, mas o mais importante de se destacar sobre Tunga é que quanto mais se tenta entender, menos se entende e é assim que o artista prefere que seja. Você também vai se intrigar com a obra Continente/Nuvem (2008) da mineira Rivane Neuenschwander e vai se encantar com a obra Vegetation Room Inhotim (2010-2012) da espanhola Cristina Iglesias que se mescla tão bem com seu exterior. E caso visite durante o fim de semana, você poderá escutar o som da terra na Galeria Doug Aitken e se surpreender com a enorme obra De lama lâmina (2009) de Matthew Barney.
Ao comprar o ingresso ou trocá-lo na bilheteria, você pode contratar o serviço de transporte interno por carrinhos elétricos, que percorrem partes das rotas predeterminadas pelo parque. O valor do serviço é 35 reais e ele pode valer a pena para evitar a fadiga de caminhar pelo trajeto, mais do que apenas ganhar tempo, principalmente para visitar as galerias Doug Aitken e Matthew Barney.
O instituto conta com alguns restaurantes e recomendamos fazer pausa para o almoço e curtir o entorno do parque neste momento. Desejamos uma ótima visita e esperamos que você aproveite este contato com a arte contemporânea que só o Inhotim pode proporcionar!
Rota, em ordem de visitação:
1. G24 – Galeria Yayoi Kusama
2. G15 – Galeria Cosmococa
3. G19 – Cristina Iglesias
4. G7 – Galeria Adriana Varejão
5. G5 – Galeria Cildo Meireles
6. G13 – Rivane Neuenschwander
7. G3 – Galeria Praça (Mestre Didi)
8. G8 – Galeria Doris Salcedo
9. G23 – Galeria Claudia Andujar
10*. G12 – Matthew Barney
11*. G10 – Doug Aitken
12. G1 – Galeria Mata (Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra)
13. G2 – Galeria True Rouge
14. A12 – Magic Square (Hélio Oiticica)
15. G20 – Galeria Lygia Pape
*Pular G10 e G12 se for em dia de semana ou se quiser adaptar a rota para ir em menos galerias.
1 Comment
A matéria tá muito bem escrita e detalhada para quem deseja fazer uma boa visita e não ficar perdido em canto algum!