A lua vai virar uma espécie de galeria de arte graças ao físico canadense Samuel Peralta, que decidiu enviar para o satélite natural um grande acervo de arquivos digitais de arte contemporânea, fotos, filmes, livros, podcasts e revistas. A exposição lunar terá a assinatura de 30 mil artistas de 157 países entre escritores, músicos e cineastas.
Entre as obras enviadas ao espaço estão 130 edições da revista Poets Artists, fotos da Ucrânia destroçada pela guerra e poesias de países ameaçados pela mudança climática. Há ainda um retrato em peças de Lego de Pauline Aubey e uma serigrafia de 1980 de Alex Colville. Algumas obras foram encomendadas especialmente para o projeto. Foi o caso do The Polaris Trilogy: poems for the moon, com poesias de todos os continentes.
O projeto Lunar Codex chega ao espaço em três foguetes não tripulados ainda este ano e é visto pelo idealizador como o maior produzido até hoje para mandar trabalhos culturais para fora da Terra.
O físico e executivo da Incandence, empresa canadense de tecnologia, vê no projeto uma espécie de “mensagem na garrafa para o futuro”. Para ele, é uma forma de mostrar que as pessoas são capazes de desenvolver projetos belos, ainda que sob circunstâncias adversas — como guerras, pandemia e crises econômicas.
Esse trabalho só vai acontecer por causa do Programa Artemis, da Nasa, que levará humanos para uma visita à lua em 2026. A iniciativa será um retorno ao astro após mais de 50 anos. Em paralelo, a Agência Espacial dos Estados Unidos vai enviar instrumentos científicos para a Lua, entre 2023 e 2026, através de parceiros como a Astrobotic Technologies e a Intuitive Machines.
Os módulos lunares serão lançados de plataformas de foguetes comerciais pela United Launch Alliance ou pela SpaceX. As missões levarão instrumentos próprios da Nasa, mas também cargas comerciais, como é o caso da cápsula do tempo contendo as obras do Lunar Codex.
Para tirar o projeto do papel, Peralta, que além de desenvolvedor é financiador do projeto, ainda não tem o custo real calculado. Mas o físico estima que sejam investidos uma pequena parcela do preço de uma passagem paga pelo turista que desejar visitar a lua em 2026. Atualmente, o valor cobrado para a Virgin Galactic chega hoje 450 mil dólares, o que equivale a mais de R$ 2 milhões.
A ideia inicial de Samuel Peralta era enviar para a lua o seu próprio trabalho e até seus livros de ficção científica. Passada a pandemia, decidiu expandir o projeto e passou a compilar conteúdos diversos por conta própria. Um dos desafios é fazer com que as pessoas não achem que a proposta de mandar arte para a lua se trate de uma piada ou fraude.
No entanto, apesar do teor aparentemente ineditista, esta não é a primeira vez que a arte vai para a lua. O satélite natural já foi uma galeria de arte de obras terrestres por décadas. Em 1969, o ladrilho de cerâmica Museu da Lua, com desenhos de Forrest Myers, Andy Warhol, Claes Oldenburg, Robert Rauschenberg, David Novros e John Chamberlain, foi anexado a um módulo deixado na Lua pela Missão Apollo 12.
Já a escultura de alumínio Astronauta Caído, do artista belga Paul van Hoeydonck, foi deixada na lua pela tripulação da Apollo 15, no ano de 1971.
O projeto enviado em cartões de memória digital ou escrito em NanoFiche será dividido em quatro cápsulas do tempo. Essa última tecnologia é uma uma mídia de armazenamento leve que pode abrigar 150 mil páginas microscópicas de texto ou fotos gravadas a laser numa folha de 8,5 polegadas x 11 polegadas.
O conceito lembra o do Golden Record, de 1977, cápsula do tempo cultural da Nasa. Com áudio e imagens armazenadas em um disco de metal, a cápsula foi enviada ao espaço a bordo das sondas da missão Voyager.
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